Para o senador, a violência concreta que intranquiliza o cotidiano de todos os cidadãos – o Brasil registrou 50 mil assassinatos, em 2012 — não pode ser dissociada do discurso de ódio que permeia as relações, especialmente nos espaços virtuais, como as redes sociais. São duas faces da mesma moeda, sustenta Paim.
Tanto é assim que a larga maioria dessas 50 mil pessoas assassinadas tinha a pele negra, uma demonstração de como o racismo está entranhado em nossa sociedade. “O risco da radicalização política e do aumento da xenofobia, do autoritarismo e da violação dos direitos humanos é cada vez maior”, lamentou o senador. “A esse processo degenerativo, devemos dar combate nos espaços de liberdade, como este aqui da tribuna do Senado, que as gerações precedentes nos legaram. E as gerações futuras haverão de nos cobrar”.
Apesar de enxergar um quadro alarmante, Paim acredita que ainda há tempo para reverter a tendência de fortalecimento do discurso do ódio — uma tendência “preocupante por seu caráter inclusive antipolítico, impiedoso, messiânico e, por muitas vezes, destrutivo”.. Para o senador, é fundamental difundir uma cultura de paz e de valorização dos direitos humanos.
Ele alerta, porém, para a responsabilidade que têm, em especial, as lideranças políticas e os formadores de opinião, que devem dar o exemplo de civilidade no debate, evitando o tom “da exasperação verborrágica e estúpida que começa a ganhar corpo no debate público”. Ele criticou duramente o “desejo de ganhar no grito” que se expressa especialmente nas redes sociais, “causa e também consequência do acirramento de posições em muitos setores, em muitas esferas da sociedade”.
Os exemplos não faltam. Na maioria dos portais de notícias na Internet reserva-se espaço ao internauta para sua livre manifestação a respeito dos assuntos publicados. “Até aí tudo bem. Ninguém quer calar os internautas ou a imprensa. O problema é quem se vale do anonimato para publicar impropérios e grosserias contra tudo e contra todos, de forma irresponsável”, apontou o senador. “Por essa concepção tortuosa, por que não dizer eleitoreira, numa visão bem chula, a validação do discurso é compreendida a partir do seu resultado, ainda que implique a destruição do outro, sua boca calada ou a humilhação de qualquer potencial interlocutor que não comungue da visão de quem o critica”.
Paim reafirmou sua posição contrária ao controle de qualquer meio de comunicação —“até porque não existe democracia sem liberdade de imprensa” —, mas sugere que os próprios veículos de comunicação oferecessem uma linha de reeducação dos leitores, por meio da moderação do debate. “O debate franco, porém civilizado e também civilizatório é positivo.
O bom critério deve ser exatamente a hipótese da interação respeitosa, de caráter presencial de preferência”.
Cyntia Campos