As mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips na Amazônia, resultado de um processo de negligência e omissão por parte do governo Jair Bolsonaro sobre crimes ambientais cometidos na região, ganharam destaque nos principais jornais do mundo nesta sexta-feira (17).
Além de destacar que os assassinatos ocorreram em um ambiente de impunidade em relação a atividades ilegais na Amazônia, a mídia global também chamou a atenção para a desumanidade do presidente brasileiro, que sugeriu que as mortes ocorreram por culpa do jornalista e do indigenista. A relatora especial da ONU para liberdade de expressão Irene Khan disse que o crime representa uma “erosão da democracia”.
“Sabemos que dez jornalistas foram mortos no conflito na Ucrânia. Mas, quando vemos isso acontecer em países como o México ou o Brasil, a morte de cada jornalista sob essas circunstâncias é um ataque à democracia“, declarou Khan ao jornal Folha de S Paulo.
O britânico Guardian estampou a notícia na primeira página do jornal para o qual Phillips trabalhou. “Dom Phillips e Bruno Pereira foram mortos em uma guerra global não declarada contra a natureza e as pessoas que a defendem. O trabalho deles importava porque nosso planeta, as ameaças a ele e as atividades daqueles que o ameaçam importam. Esse trabalho deve continuar”, defendeu o diário, que também tratou do crime em editorial.
“O presidente do país, Jair Bolsonaro, ao dizer que algo ‘perverso’ aconteceu, também culpou insensivelmente os dois homens”, denunciou o Guardian. “Em contraste, os brasileiros demonstraram imensa simpatia por eles e suas famílias, entendendo que seu trabalho beneficiava os indígenas, os brasileiros como um todo e o mundo em geral”.
“Simplesmente não era do interesse de um Estado capturado por interesses extrativistas e que despreza o Estado de Direito, criando uma cultura de impunidade para aqueles que exploram a floresta amazônica e tornando seus protetores muito mais vulneráveis”, desfiou o jornal. “O Brasil é um dos países mais perigosos para os defensores da terra e do meio ambiente, com 20 mortos em 2020, segundo a agência de vigilância Global Witness, que alerta que os assassinatos estão aumentando no sul global”, advertiu.
O crime bárbaro também ganhou destaque noNew York Times.“Os desaparecimentos são um capítulo particularmente sombrio na recente história sangrenta da Amazônia. Phillips dedicou grande parte de sua carreira a contar as histórias do conflito que devastou a floresta tropical, enquanto Pereira passou anos tentando proteger as tribos indígenas e o meio ambiente em meio a esse conflito”, relata o jornal americano.
“Agora parece que o trabalho se tornou mortal para eles, sinalizando até onde as pessoas irão explorar ilegalmente a floresta tropical”, diz o texto assinado pelo chefe da sucursal do diário no Brasil, Jack Nicas.
OWashington Post reproduz reportagem da Associated Press e informa que o assassino confessou o crime. “Autoridades brasileiras dizem que um pescador confessou ter matado um jornalista britânico e um especialista indígena na remota região amazônica do Brasil e levou a polícia a um local onde restos humanos foram recuperados”, relatou.
A agência Reuters destacou as homenagens ao repórter britânico Dom Phillips. “Grupos indígenas, ambientalistas, colegas repórteres e familiares e amigos prestaram homenagem nesta quinta-feira ao jornalista britânico Dom Phillips e ao especialista em tribos isoladas brasileiras Bruno Pereira, que desapareceram na Amazônia há 11 dias”.
A poderosa rede britânica BBC trouxe a repercussão do crime entre familiares de Phillips. “Estamos com o coração partido com a confirmação de que Dom e Bruno foram assassinados e estendemos nossas mais profundas condolências a Alessandra, Beatriz e outros familiares brasileiros de ambos os homens”, diz nota à imprensa distribuída pela família.
“Agradecemos às muitas pessoas que se juntaram a nós para pedir às autoridades que intensifiquem as buscas e àqueles que estenderam a mão com palavras de conforto e simpatia”, acrescentaram.