Conflito na Venezuela

Papel do Brasil é de mediador, não de promotor da guerra

“Nosso País precisa reconquistar a autoridade para atuar como mediador”, aponta Humberto Costa
Papel do Brasil é de mediador, não de promotor da guerra

Foto: Alessandro Dantas

A crise na Venezuela apresenta um desafio ao Brasil: “Nosso País precisa reconquistar a autoridade política e diplomática para atuar como mediador do conflito”, aponta o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).

Essa autoridade o Brasil carrega na tradição de sua diplomacia, mundialmente reconhecida pelas posições equilibradas e como um fator de moderação diante de conflitos. “O Brasil sempre atuou na construção da paz”, lembrou o senador.

Humberto lamentou que a mudança de orientação no Ministério das Relações Exteriores (MRE), sob o governo Bolsonaro, tenha afastado a diplomacia brasileira dessa tradição. “O MRE aposta no conflito, joga gasolina”.

Ao lado do senador Jaques Wagner (PT-BA), ex-ministro da Defesa do governo Dilma, Humberto Costa participou da reunião de trabalho da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, na manhã desta quarta-feira (27), para analisar a situação política da Venezuela e suas implicações nas relações bilaterais com o Brasil.

“Patacoada”
O tom geral da reunião da CRE — adotado até mesmo pelos apoiadores mais entusiasmados de Jair Bolsonaro — foi a defesa de uma solução pacífica para os problemas enfrentados pelo país vizinho. O encontro foi convocado após a situação nas fronteiras venezuelanas ter chegado perigosamente perto da escaramuça armada, no último final de semana.

O acirramento foi resultado da tentativa dos Estados Unidos, secundada por Brasil e Colômbia, de entrar à força no território da Venezuela a pretexto de levar “ajuda humanitária” ao país. A provocação, porém, falhou. “Espero que o Brasil tenha aprendido a lição. Foi uma patacoada lamentável”, criticou Humberto.

Moderação
Wagner e Humberto elogiaram a posição de moderação adotada pelos ministros da área militar do governo Bolsonaro, que rejeitaram qualquer ação armada contra o país vizinho. “Chamaram à ordem e ao uso do bom senso”, resumiu Humberto Costa.

Os ministros militares foram unânimes na posição contrária ao envolvimento do Brasil em ações que não contem com o respaldo de uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. “Esse sempre foi o guarda-chuva para todas as missões brasileiras. No Haiti, no Líbano e no Iraque, por exemplo”, lembrou Wagner.

Inversão
Até o senador Major Olímpio, líder do PSL— o partido de Bolsonaro — criticou a postura do Ministério das Relações Exteriores, chefiado pelo chanceler Ernesto Araújo. “Houve uma inversão. A diplomacia pregando ‘força e armas’, enquanto os [militares] profissionais da força e da defesa nacional dizem ‘Cautela, mediação, serenidade”,

Uma das iniciativas que poderão ser adotadas pela CRE é a realização de uma audiência pública para ouvir representantes da oposição e do governo venezuelano representados na Assembleia Nacional e na Assembleia Constituinte daquele país, permitindo aos senadores uma compreensão mais ampla dos problemas enfrentados pelos vizinhos.

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