Insensibilidade social, fervor privatista e o preconceito escancarado contra os pobres. Esse é o ideário do homem escolhido para dirigir o futuro do Banco do Brasil, instituição bicentenária e estratégica ao desenvolvimento do País, Rubem Novaes.
Amigo de longa data do futuro ministro da Economia Paulo Guedes — foram colegas na Universidade de Chicago — o homem que comandará o Banco do Brasil sob o governo Bolsonaro já anunciou sua missão de “enxugar” e retalhar o BB para privatizá-lo aos pedaços.
Segundo Novaes já declarou à imprensa, as orientações que recebeu do chefe Paulo Guedes são “reduzir o papel do Estado, ganhar eficiência, enxugar e privatizar o que for possível”.
Ameaça à produção de alimentos
Essa orientação já começa a preocupar tanto o agronegócio quanto os pequenos agricultores, já que um dos “papéis de Estado” exercido pelo Banco do Brasil é o financiamento e apoio à agricultura.
“O BB é essencial no financiamento da produção de alimentos. Ele financia não o agronegócio, mas, principalmente, a agricultura familiar, que é responsável por 70% de tudo que chega à mesa dos brasileiros”, explica Aristides Santos, presidente da Confederação Brasileira de Trabalhadores na Agricultura.
O Banco do Brasil é responsável por 57% de todo o valor financiado para a agricultura familiar. Outros 7% são financiados pelo BNB e mais 23% pelas cooperativas de crédito (que também recebem recursos repassados pelo BB para manter suas linhas de crédito). Em resumo, 87% do financiamento desse setor vem de bancos públicos.
“Quem financia a produção de alimentos no Brasil é banco público”. Sem eles, alerta o presidente da CONTAG, essa produção fica ameaçada e o preço da comida nas feiras e supermercados tenderá a subir.
O papel dos bancos públicos na produção de alimentos vai além do volume emprestado. “O BB compreende as peculiaridades da agricultura familiar, tem um processo desburocratizado na concessão do financiamento e juros diferenciado”.
Culpa dos pobres
O presidente do BB na era Bolsonaro é colunista assíduo na página que o reacionário Instituto Millenium mantém na internet. Lá, ele descreve a Justiça do Trabalho como “promotora de desconfiança e conflitos” entre patrões e empregados, afirma que a política e o Direito atrapalham a economia e lamenta a “demografia perversa” que leva ao crescimento populacional a partir dos lares mais pobres—para ele, sinônimo de “desestruturados”.
Segundo Rubem Novaes, os filhos dos lares pobres estão fadados à “baixa capacidade cognitiva” e necessariamente serão “analfabetos funcionais” destinados à “mendicância, o subemprego e a criminalidade” como “únicas opções de sobrevivência”.
Novaes critica que o Brasil não enfrente o “problema através de suas causas — a eugenia? — e lamenta o gasto de “vultosas somas na rede de proteção social”.