“É fundamental olhar com atenção para o jovem das áreas rurais, que precisa de qualidade de vida em seu local de origem”, disse DonizetiAs políticas públicas que promovam oportunidades para os jovens do campo, evitando que migrem para os grandes centros em busca de perspectivas de trabalho e estudo, são estratégicas para garantir não só a produção de alimentos no País, mas também para assegurar a qualidade de vida da população rural. A análise é do senador Donizeti Nogueira (PT-TO) que em pronunciamento ao plenário nesta quarta-feira (29) destacou a importância dos trabalhadores rurais para o Brasil.
“Quando o mundo testemunha uma crise na produção de alimentos, é nossa agricultura familiar que consegue garantir o abastecimento e a segurança alimentar de todo o nosso País”, lembrou o parlamentar.
A agricultura familiar é responsável pela produção de alguns dos produtos muito importantes para a alimentação do brasileiro, como o feijão (70%), o leite (54%, do bovino), a mandioca (84%), o milho (49%), as aves e os ovos (40%) e os suínos (58%). Além disso, o setor responde por 80% da ocupação no setor rural, respondendo por sete de cada dez empregos no campo.
Para Donizeti, é fundamental olhar com atenção para o jovem das áreas rurais, que precisa de qualidade de vida, garantia de trabalho, estudo e lazer em seu local de origem, para que se sinta estimulado a permanecer no campo, prosseguindo na atividade de seus pais. De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 8 milhões de jovens brasileiros vivem hoje no campo, o equivalente a 15,6% do contingente populacional com idade entre 15 e 29 anos.
“Essa população tende a diminuir”, alerta o senador, já que as oportunidades profissionais para os jovens estão desproporcionalmente concentradas no meio urbano. “O que não podemos perder de vista é que a população urbana depende da produção do meio rural”.
Hoje, elenca Donizeti, os motivos para o jovem deixar o campo passam pela busca do conforto e as facilidades como educação, transporte, lazer e outros benefícios considerados privilégios do meio urbano. Além disso, o desejo de migrar é alimentado por uma visão relativamente negativa da atividade agrícola e dos benefícios que ela proporciona. “Pesquisas recentes evidenciam que os jovens que vivem no meio rural consideram as oportunidades de trabalho e construção de uma autonomia para a vida como questões difíceis ou pouco viáveis para quem vive no campo”, relatou o senador.
“Além dessas questões culturais e históricas, sobressaem a insuficiência do tamanho da terra e a persistência da tutela aos padrões familiares e comunitários”, apontou Donizeti. Uma propriedade capaz de produzir para garantir o sustento de uma família de cinco filhos, por exemplo, dificilmente será capaz de sustentar as cinco famílias desses filhos, quando for dividida na partilha de herança.
Como aponta a Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE, em 2011, das cerca de oito milhões de famílias que residiam no campo, seis milhões e meio sobreviviam com até três salários mínimos. Apenas 147 mil famílias estavam na faixa de renda entre 10 e 20 salários mínimos. Além disso, dos 16 milhões de brasileiros que viviam em situação de extrema pobreza, cerca de 50% estavam no meio rural.
Donizeti Nogueira lembra que é essencial levar ao campo os serviços públicos assegurados aos moradores das cidades com a mesma quantidade e qualidade. O acesso à água encanada, à luz, ao esgotamento sanitário e à coleta de lixo, por exemplo, ainda está longe de chegar aos índices verificados nos centros urbanos. Outro grande desafio, defende o senador, é garantir a eles uma formação educacional adequada. Conforme dados da PNAD de 2012, a média de estudo na área urbana é de oito anos, enquanto na rural é de menos de cinco. O número de escolas rurais caiu de cerca de 100 mil, em 2003, para 70 mil escolas em 2014. O censo escolar de 2012 reafirmou a precariedade das escolas rurais: 88,5% não têm biblioteca; 18,1% não têm água filtrada; e 13,7% funcionam sem energia elétrica. Somado a isso, há a dificuldade de acesso dos jovens do campo aos cursos técnicos e de formação.
“Garantir a formação técnica desses jovens, estamos garantindo a competitividade dos pequenos produtores num contexto de concentração da produção agrícola cada vez mais intensa”, lembra o parlamentar.
Outro ponto essencial é a questão da sucessão rural, um dos principais catalisadores do êxodo rural de jovens, sobretudo de mulheres, que acabam atraídas pelos centros urbanos em busca de trabalho remunerado e reconhecimento que não conseguem obter no campo. Além do tamanho da terra, há os entraves culturais. “A estrutura patriarcal, existente na maioria das áreas rurais, limita o acesso dos jovens a manifestações e até mesmo à tomada de decisões”, destaca Donizeti. O senador defende que a passagem das responsabilidades na gestão da propriedade deve se dar em um processo de transição em que os pais, gradativamente, vão passando aos filhos algumas tarefas.
Para Donizeti, o Senado tem que contribuir para a criação de condições para que os jovens e suas famílias não tenham que se deslocar às cidades por falta de melhores perspectivas de vida. “As políticas públicas para o jovem do campo, Sr. Presidente, precisam ser mais eficazes em garantir condições de renda e vida do que têm sido até o momento”, ponderou.”Discutir a realidade da juventude rural hoje implica um olhar mais atento às suas lutas, sonhos e angústias. Significa pensar nos problemas e nas perspectivas possíveis para essa parcela de jovens que se vê na fronteira entre se manter no campo ou migrar para os centros urbanos à procura de melhores condições de vida”.