Para Humberto, ira de Eduardo Cunha contra o governo pode ser positiva

Para Humberto, ira de Eduardo Cunha contra o governo pode ser positiva

 

Humberto Costa resume momento político: “É melhor ter um adversário às claras do que um enrustido”O governo não vive um momento tranquilo. As relações entre o Executivo e o Legislativo estão tensas e essa tensão tem nome e sobrenome: Eduardo Cunha.  Mas, ao contrário do que pensam muitos, o anúncio do rompimento com o governo, feito há poucos dias pelo presidente da Câmara, pode ser positivo. É nisso que acredita o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). Em entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada nesta sexta-feira (24), Humberto crava: “é melhor ter um adversário às claras do que um enrustido”.

É o resumo de uma relação que nunca foi tranquila. Não se pode dizer que, em algum momento, Cunha tenha sido aliado da presidenta Dilma Rousseff. O jogo às claras, para Humberto, pode ser benéfico. “Se essa ruptura tivesse ocorrido dois meses atrás, teria uma dimensão muito grande. Na circunstância atual, em que ele [Cunha] rompe numa tentativa de trazer o governo para o foco da Lava-Jato e tirar o foco de cima dele, é óbvio que ele tem um poder de fogo muito menor”, disse o líder, para quem a redução do poder de Cunha de produzir crises para o governo e para o PT se reduz muito com as novas denúncias de envolvimento do novo inimigo declarado na operação Lava-Jato.

Não que a oposição não vá trabalhar duro para se aproveitar da briga. Humberto acredita que, exatamente por conta disso, o Planalto precisa trabalhar duro e recompor sua base de sustentação no Congresso. Seria a melhor forma de isolar Eduardo Cunha.

Veja os principais temas da entrevista:

Recomposição da Base: Para Humberto, o governo precisa se articular e conversar com todos os partidos que compõem a base governista. No Senado, especificamente com o PSB, PSD e o bloco do PR e do PTB. Para isso, deve continuar contando com o vice-presidente, Michel Temer (PMDB).

Articulação no Senado: A aproximação com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) também é essencial: “É importante governo ter uma conversa aberta com ele, saber o que ele avalia que não vai bem”, diz. Essa conversa seria essencial para amarrar medidas importantes do ajuste fiscal, como a desoneração da folha de pagamento.

Pautas prioritárias: “A gente não pode mais perder tempo. Uma possibilidade é construir um acordo com a Câmara, de um texto consensual, (sobre a desoneração da folha de pagamento) que saia do Senado e volte para a Câmara e se vote rapidamente”.

Outras prioridades: A unificação do ICMS também é decisiva. Para Humberto, a resistência dos estados nordestinos em relação à equalização do imposto diminuiu com a proposta de criação de um fundo de compensação e outro de desenvolvimento. “Essa questão do tamanho do fundo o governo já disse que pode negociar. A questão do processo de eliminação dos incentivos é uma das complicações. Levy acha que deve ser progressivo”, resumiu.

Judiciário: Para o líder, e possibilidade de o Congresso derrubar o veto da presidenta ao reajuste do Judiciário é praticamente nula, porque seria uma decisão sem efeito. “Mesmo que o governo quisesse pagar, não há como”. Ele afirma que a negociação com o Judiciário e o Ministério Público vai acontecer assim que o governo definir os ajustes para o Executivo, em agosto e setembro. Se o governo fizesse agora um acordo com o Judiciário e o MP, os percentuais deixariam de ser o teto das discussões salariais e passariam a ser o piso. “E os percentuais do Judiciário e MP seriam naturalmente mais altos porque há uma defasagem”.

Aposentadorias: Dilma deve vetar o novo indexador de reajuste das aposentadorias e pensões e apresentar uma nova proposta para os benefícios com valores acima de um salário mínimo. “Pode ser aquela proposta do senador Cristovam Buarque (PDT) de utilizar uma espécie de índice de avaliação do custo de vida para a terceira idade”, resumiu.

Lula: Para Humberto, as críticas do ex-presidente são positivas e apontam o caminho para uma mudança de postura. “Acho que isso está acontecendo. Dilma está ciente de que precisa sair do gabinete. Se ela ficar ali só dando conta dessa crise, fica totalmente emparedada. Tem que terceirizar para os ministros a administração da crise econômica e política”.

PT: Apesar de considerar que o PT ainda tempo para se recuperar até 2018, Costa dá como certo que as eleições do próximo ano vão ser um momento de muita dificuldade para ao partido. “A oposição vai tentar transformar a eleição em um plebiscito e a tendência é o que PT não chegue bem. A não ser que o governo esteja melhor em meados do ano que vem. Mas me parece que, do ponto de vista econômico, a gente ainda vai sofrer um pouquinho”.

Acusações: Humberto foi acusado pelo ex- diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa de ter recebido um R$ 1 milhão do esquema de propinas. No entanto, o senador não foi alvo da Operação Politeia, da Polícia Federal, que este mês cumpriu mandato de busca apreensão em Pernambuco na residência e escritório de políticos citados na Lava-Jato, como o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB) e o deputado Eduardo da Fonte (PP). Segundo  o líder, o resultado da acareação entre Paulo Roberto Costa e o Alberto Youssef mostram que a acusação contra ele não tem consistência. “Paulo Roberto disse que um amigo meu pediu um apoio para a campanha de 2010 e que Youssef operacionalizou esse apoio. Só que Youssef diz que nunca me viu, não me conhece, não conhece amigo meu, assessor ou qualquer pessoa que trabalha comigo. Youssef diz que não operacionalizou isso. Na acareação, chegou ao ponto de Youssef dizer que achava que Paulo Roberto estava confuso”.  Na entrevista, ele voltou a negar qualquer envolvimento com esquema de corrupção e disse que espera que o Ministério Público pela o arquivamento do seu caso. “Já foram ouvidos mais 17 ou 18 delatores. Todos foram perguntados em relação a mim e nenhum deles citou o meu nome”, afirma.

Giselle Chassot, com informações do jornal Valor Econômico

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