A tarefa de corrigir os rumos do Brasil — que parece navegar de volta às capitanias hereditárias, nesses 365 dias do golpe parlamentar contra Dilma Rousseff — é uma tarefa que vai passar necessariamente pela política, pelo debate de ideias e projetos, pelo contraponto entre os projetos de País. “Se vocês não estão satisfeitos com a cara que a política tem hoje, são vocês que vão ter que mudá-la”, preconiza o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em caravana pelo Nordeste desde o dia 17 de agosto, Lula tem insistido nesse alerta em todos os encontros com a população da região. Não adianta, explica, ele, sonhar com um presidente que tenha um projeto completamente oposto ao que o golpe vem implementando, se esse governante não contar com uma correlação de forças favorável para voltar ao rumo do crescimento econômico com inclusão social.
Sujeitos da história
“O Congresso atual não veio de Marte, ele é o retrato do comportamento da sociedade no dia da eleição”. Lula tem procurado incentivar cada cidadão e cidadã a sem mais que o eleitor que vai ás urnas a cada dois anos e depois deixa de cobrar e acompanhar o que fazem os eleitos. “Cada um de nós tem que ser sujeito da história”, afirma.
O ex-presidente tem insistido que os jovens, as mulheres, os negros, indígenas, trabalhadores do campo e da cidade a deixem de apenas se fazer representar por um engravatado distante, mas assumam eles mesmos a tarefa de estar no Congresso construindo os rumos do País.
“Não vou dizer a que partido político vocês devem se filiar. Isso é da consciência de cada um. Só não sejam desinformados como eu já fui, a ponto de negar a política e de deixar a política para ser feita por meia dúzia que cuida só de seus interesses”. Falando à multidão que lotava o Encontro da Juventude, na cidade de Cruz das Almas (BA), no segundo dia da caravana (18 de agosto), ele lembrou o tempo em que, influenciado pela propaganda, chegou a declarar que não gostava de política e nem de quem gostava de política.
Voto não é equação matemática
“Um filósofo já disse que o mal de quem não gosta de política é ser governado por quem gosta”, alertou o ex-presidente, lembrando que é muito bom para a classe dominante que o cidadão e a cidadã comuns tenham nojo da atividade e se limitem a à condição de eleitores.
“É por isso que os grandes fazendeiros têm 240 representantes no Congresso, enquanto o povo que trabalha na lavoura só tem dois. É por isso que as mulheres são 52% da população e apenas 14% do Legislativo. Porque os negros são metade da população e só tem poucos negros eleitos”.
Voto, ensina o ex-presidente, “não é equação matemática, é resultado de um processo de conscientização política”. Ele lembra que a vida não vale a pena sem o sonho. “Quero que vocês sonhem grande. E vocês vão acabar percebendo que só vocês mesmos podem realizar o que sonham”.