A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do governo Bolsonaro, Teresa Cristina, afirmou, nessa quarta-feira (27), na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, que o índices de agrotóxicos utilizados pelo setor agrícola, no Brasil, são tratados com ‘romantismo’. Ela minimizou os dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que colocam o Brasil como o maior consumidor de agrotóxicos do planeta. Para a ministra, esta seria a opinião isolada de técnicos da Fundação e não representa a realidade.
Respondendo aos questionamentos dos senadores, a maioria da base governista, que gastou muito do tempo da audiência para tecer elogios à ministra, Teresa Cristina evitou falar de outros assuntos polêmicos, como o anúncio do presidente americano Donald Trump, no Twitter, comemorando o acordo agrícola negociado com a China, que deve ampliar em 10 milhões de toneladas a quantidade de soja comprada dos Estados Unidos – o que pode zerar as importações de produtos brasileiros. E preferiu criticar os dados da Fiocruz apresentados pela senadora Eliziane Gama (PPS-MA).
“O brasileiro não come 7,3 litros de agrotóxico por ano, isso é mentira, caso contrário, não teríamos nossos produtos aceitos lá fora. O cálculo está errado, a maneira de calcular está errada, a Fiocruz tem dois pesquisadores que dizem isso, mas os produtos brasileiros são absolutamente seguros, tanto é que temos aumentado os anos de vida da população. Cada vez o brasileiro vive mais”, disse.
Segundo ela, a liberação dos agrotóxicos aumentou porque a Anvisa resolveu trabalhar. Também afirmou que a burocracia brasileira vinha atrapalhando a competitividade do agronegócio brasileiro por anos. “Esses agrotóxicos só estavam parados, essas moléculas estavam nas mãos de três ou quatro grandes companhias e agora vão ser liberados como genéricos para serem fabricados por outras empresas. Enquanto no Brasil essas moléculas ficam paradas, lá fora esses produtos são usados com outros nomes. Isso é uma rusga sanitária para impedir a comercialização”.
Para a ministra, esse tipo de argumento serve para criar uma imagem negativa do setor agropecuário. “Apesar de sermos uma potência mundial no setor, a nossa imagem é ruim, mais dentro (do país) do que fora. Temos que investir nisso, o Brasil com toda essa fartura, e temos uma imagem deturpada da agricultura e do produtor brasileiro no país”, afirmou.
Teresa Cristina também defendeu a aprovação do PL 6299/2002 que, segundo ela, vai aumentar a segurança aos consumidores, “ao contrário do que querem pregar”. E no que tange às exportações para a Rússia, informou que o país europeu utiliza padrões mais rígidos que os do resto do planeta, e que os problemas com exportadores brasileiros são pontuais.
Dos 28 agrotóxicos registrados na segunda semana de janeiro, com o Ministério da Agricultura já sob o comando da ‘musa do veneno’, 18 são princípios ativos para fabricação de outros defensivos agrícolas, o que na prática faz com que o número de defensivos seja muito maior do que se está liberando, além de tornar ainda mais difícil as formas de controle sobre o uso, ficando a cargo dos produtores, do grande latifúndio, a quantidade, tipo e como usar qualquer veneno.
Além de defender o uso dos agrotóxicos e minimizar seus efeitos, a ministra também dedicou algumas palavras para defender o afrouxamento das regras para licenciamento ambiental que, em sua opinião, ‘atrapalha muito a agricultura’. Segundo ela, “muita gente quer investir no brasil, mas a burocracia com os licenciamentos é tão grande que os investidores vão embora”.
Fiocruz
Segundo a Fiocruz, o Brasil completou em 2018 seu décimo ano na liderança do ranking de maior consumidor de agrotóxicos do planeta. Todos os anos, são utilizados 7,3 litros de veneno para cada um dos habitantes do País, volume que, em 2017, resultou em 11 registros de intoxicação por exposição a agrotóxicos por dia.
Só nos últimos três meses de 2018, 131 pedidos de registros de novos agrotóxicos foram liberados. A maioria das autorizações são para agrotóxicos considerados perigosos ou muito perigosos para o meio ambiente, variando de toxicidade para os humanos de mediana a alta.