Para o El País, Falcão diz que mídia tem mais poder do que a oposição

Para o El País, Falcão diz que mídia tem mais poder do que a oposição

Em sua primeira entrevista após ser reeleito presidente do PT, o deputado Rui Falcão (SP) foi entrevistado pela edição nacional do jornal espanhol El País. O texto lembra: era 15 de novembro, dia das prisões transmitidas ao vivo de José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares. O cumprimento da sentença assinada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, apesar de todas as irregularidades que seriam reveladas nos dias seguintes garantiu o show de mídia. Mas a entrevista não foi cancelada. Firme, Falcão abordou o controle das informações jornalísticas por um restrito de empresas. Mesmo grupo que, neste momento, prepara ação judicial para impedir que o site do El País possa funcionar no Brasil.

O texto apresentado na página (veja o link ao final) difere muito do comumente encontrado nos maiores veículos de comunicação brasileiros. A diferença se torna patente desde o título da reportagem – “Oposição da mídia monopolizada é mais forte que a oposição política”.

A democratização é um dos temas centrais da entrevista. Falcão reafirma que irá trabalhar para aprovação do projeto de democratização da mídia, caso se confirme a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, conforme confirmaram as recentes pesquisas de intenção de voto.

Veja, abaixo, as perguntas do El País e as respostas dadas por Falcão sobre esse tema – e não deixe de ler na íntegra, seguindo o link abaixo:

Quando se fala em quebrar monopólios da mídia, a primeira coisa que vem à mente é a Argentina, que passou por algo parecido recentemente, quando a presidenta Cristina Fernandez interveio nos jornais. Qual é o plano do PT?

A realidade política, social, cultural e econômica da Argentina é totalmente diferente da nossa. Nós não propomos nenhuma expropriação de indústria de papel, nenhum tipo de controle de conteúdo. A regulamentação é mais voltada para os meios eletrônicos de comunicação. Não tratamos de jornalismo impresso, onde há concorrência. Mas dos meios eletrônicos, as televisões, que são concessão pública. E como qualquer serviço, ela precisa de uma agência reguladora, como existe na Inglaterra, na Itália, na França etc. Queremos discutir pluralidade, regionalização, e a proibição de monopólio. Um único grupo deter meios que significam 50% ou 60% da audiência, e que recebem, portanto, mais de 50% de verbas de publicidade oficiais.

O senhor se refere à rede Globo?

É um monopólio, mas tem quatro ou cinco canais que produzem conteúdo, é dessa regulamentação que se trata. E proibir também aqueles que concedem o serviço e podem se beneficiar dele. Há o caso dos políticos que dominam os meios de comunicação, que autorizam a concessão para si próprio. Quem está nessa situação, ou transfira sociedade do canal de TV, ou abdique de mandato parlamentar.

Surpreende ver o PT na defensiva. Depois de 13 anos no poder, o partido descobre que a prioridade da democratização dos meios está no mesmo nível da reforma tributária, ou da reforma da mobilidade?

Há uma diferença entre o PT e o Governo. O PT tem essa bandeira de democratização dos meios desde a sua fundação (nos anos 80). E faz sentido porque nós nascemos fazendo democracia, combatendo a censura, denunciando tortura. O PT é fruto da união de pessoas que lutaram contra a ditadura, com as comunidades eclesiais de base da Igreja Católica, do sindicalismo. Então, temos um compromisso com o aprofundamento da democracia. Não pode ser com os atuais monopólios. Ocorre que os Governos que sucederam a ditadura já estavam associados a esses meios. Não tinham interesse em mudar esses meios. Não há apoio suficiente no Congresso para enviar um projeto do marco regulatório. O presidente Lula, no final do governo, concluiu uma proposta e deixou o projeto para o Governo Dilma que, num primeiro momento, mandaria esse projeto reformulado para consulta pública, mas ela mudou de ideia. Nós, em associação com um grupo de jornalistas e entidades, estamos insistindo nessa bandeira, caso a presidenta Dilma for reeleita, que ela envie o projeto para o Congresso.

Mas o projeto esteve na gaveta…

…do Governo. O PT, ao mesmo tempo em que está no Governo, dá sustentação e apoia nossa Governo, tem suas diferenças porque dialoga com a sociedade, e há muitas demandas que acolhemos. Nem tudo o que queremos têm curso ou acolhida, porque este é um Governo de coalizão.

(…)

O senhor fala da mídia, mas já há bastante divulgação com ênfase no cartel de trens, em São Paulo, e dando destaque à máfia dos fiscais na prefeitura. Não há um pouco de implicância com a mídia?

Não há cobertura simultânea, do cartel de trens, e da ação dos fiscais. A ação dos fiscais coloca em segundo plano o cartel. Quando uma das gravações (do caso dos fiscais) diz que o ex-prefeito (Gilberto Kassab) sabia de tudo, um jornal em São Paulo faz uma manchete dizendo: “Prefeito sabia de tudo”, com uma foto do atual prefeito petista, Fernando Haddad, ao lado. Há uma certa preferência pela partidarização. E a divulgação de fatos notórios é uma condição para que haja veracidade ao público. Temos de trabalhar com realidade, com omissão, distorção, e meia verdade. Isso é o comportamento médio da mídia brasileira. Não se trata de censurá-la por isso. Mas de compreendê-la.

Tenho a sensação de que vocês temem mais a oposição da mídia do que a oposição política.

Mais forte que oposição partidária é um conjunto de setores do grande capital, da mídia monopolizada, e de altos funcionários do aparelho de estado. Presentes em áreas do Judiciário, e do Ministério Público. Essa é a oposição mais poderosa Mais do que o PSDB, o DEM, PPS e a Rede juntos.

Clique aqui para ler a entrevista na íntegra


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