Para ONG, mais denúncias podem significar que país não esconde malfeitos

Cobus Stewardt: “É preciso que as pessoas que são vítimas da corrupção exijam que ela seja parada”

É um reducionismo preguiçoso imaginar que, porque há mais denúncias de corrupção, o número de casos aumentou. Na verdade, nunca se investigou tanto no País quanto nos últimos doze anos.

Preocupado em não esconder a sujeira para debaixo do tapete, o primeiro governo petista sancionou, no dia 28 de maio de 2003, a Lei que criou oficialmente a Controladoria Geral da União (CGU) e o Portal da Transparência é hoje uma realidade.

Paralelamente, a Polícia Federal foi reequipada e ganhou autonomia para investigar, agir e atuar, como está fazendo agora, por exemplo, no caso da Operação Lava-Jato, que investiga denúncias de irregularidades ocorridas na Petrobras.

Em seu discurso de posse na última quinta-feira (1º), a presidenta Dilma Rousseff reiterou que não vai tolerar malfeitos e defender a Petrobras de “predadores internos” e de “inimigos externos”. Para o diretor-gerente da Organização Não-Governamental (ONG) Transparência Internacional, Cobus Swardt, o caso Petrobras é um “exemplo de transparência e não tolerância com a corrupção”.

Swardt concedeu entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, que foi publicada na última sexta-feira. Ele lembrou que corrupção existe em todos os países. “Nenhuma região ou continente está isento desse desafio. No meu país, a África do Sul, temos visto vários escândalos nos últimos anos. Lá, a corrupção é reconhecida como um sério obstáculo à justiça social e à luta contra pobreza e desigualdade”, afirmou, lembrando que nem os países no topo do índex da Transparência Internacional da Percepção de Corrupção estão livres de casos de corrupção.

 

Para ele, o que difere uma Nação de outra no quesito corrupção é a forma como cada país lida com os casos uma vez que são revelados. No Brasil, há outros casos além da Petrobras que a mídia tradicional não apontou o dedo, como o Metrô de São Paulo e suas relações com políticos locais e empresas estrangeiras e casos tidos como menos relevantes, como desvios em governos municipais.

“O que é interessante é que escândalos de corrupção que são abertamente debatidos na mídia não significam necessariamente que exista mais corrupção no Brasil, se comparado com anos anteriores ou com outros países. As discussões frequentes e informações sobre corrupção que vemos no Brasil podem também nos dizer que o País tem uma postura aberta para encarar o problema e que os casos não estão mais sendo varridos para baixo do tapete”, disse o diretor-geral da Transparência Internacional.

O problema, segundo ele, não são necessariamente as instituições, ou mesmo a falta de recursos ou de leis que precisam ser reformadas e atualizadas para que eles possam trabalhar de forma mais ágil e eficiente. “Não podemos esquecer que instituições são criadas por homens e mulheres e, portanto, sempre podem melhorar”, diagnosticou.

“Se aqueles que devem pagar são punidos e se estabelecem mecanismos para prevenir novos casos, então a democracia está avançando”, concluiu. Para ele, é preciso que as pessoas que são vítimas da corrupção exijam que ela seja parada. “Você também precisa mudar a forma pela qual a sociedade vê a corrupção. E isso tem uma relação com valores e educação. Não é fácil neutralizar a corrupção. Mas é possível. Temos as vítimas, temos os valores e quem em sua mente sã apoiaria ladrões?”, questionou.

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