A bancada do Partido dos Trabalhadores na CPI da Covid considerou de extrema gravidade o vídeo de uma reunião no Palácio do Planalto entre o presidente Bolsonaro e o chamado Ministério Paralelo da Saúde, ou Ministério das Sombras. A reunião, divulgada pelo site Metrópoles nesta sexta (4), aconteceu em 8 de setembro, quando o governo já havia recebido – e ignorado – a primeira proposta da Pfizer, feita e 14 de agosto, que previa a entrega de 60 milhões de doses de vacinas em 2020.
“Bolsonaro ignorou 53 emails da Pfizer para compra de 60 milhões de vacinas em 2020. Nesse tempo, ele estava ouvindo o gabinete paralelo sobre a estratégia de contaminar o maior número de brasileiros com o vírus para promover imunidade de rebanho natural”, afirmou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).
Para o senador Humberto Costa (PE), “o desgoverno Bolsonaro é tão delinquente que não teve nenhum receio de registrar em vídeo a prova seu crime”. Ele também associou a reunião à falta de contato com a Pfizer. “Enquanto deixava sem resposta ofertas de vacina, o presidente participava de reuniões do gabinete paralelo, onde negava a ciência e defendia medicamentos sem eficácia”, afirmou.
“Nós estudamos cada passo do organograma apresentado na CPI. O vídeo é a prova material da nossa denúncia. Bolsonaro apostou na imunidade de rebanho, com contaminação em massa”, disse Rogério Carvalho, referindo-se a organograma em que ele detalha quem é quem no gabinete paralelo.
Já o senador Jean Paul Prates (PT-RN), classificou como “gravíssimo” o vídeo divulgado nesta sexta (4). “Mostra a atuação de um gabinete paralelo que (des)orientava as decisões do governo federal em relação ao tratamento precoce e às tratativas da vacinação”, afirmou.
Clube da cloroquina
O vídeo mostra uma reunião coordenada por Bolsonaro, tendo sentado ao seu lado na mesa o deputado Osmar Terra (MDB-RS), que é médico e notório defensor da tese da imunidade de rebanho por contágio e do tratamento precoce da Covid-19 com medicamentos comprovadamente ineficazes, como a cloroquina.
No encontro, Terra demonstra liderança diante do grupo, atuando como se fosse o ministro paralelo da saúde – na ocasião, o ministro oficial era Eduardo Pazuello. Osmar Terra volta a fazer a defesa do remédio ineficaz no vídeo, citando a presença de um “especialista em arritmia cardíaca” para garantir não haver risco no uso da cloroquina para Covid-19, ao contrário do que diz a ciência.
Também se manifestou na reunião a médica Nise Yamaguchi, que negou à CPI nesta semana a existência de um gabinete paralelo, alegando atuar apenas como “consultora eventual” do Palácio do Planalto. No vídeo, ela agradece: “Uma honra trabalhar com o senhor neste período”, dirigindo-se à mesa em que estão Osmar Terra e Bolsonaro.
Gabinete das Sombras
Outra figura que ganha destaque na reunião é o médico virologista Paulo Zanoto, já citado em depoimentos à CPI, que explana sobre supostos riscos da vacina contra o novo coronavírus e sugere a criação de um “shadow board ou shadow cabinet” – literalmente, um “Gabinete das Sombras”, um grupo de especialistas para aconselhar o presidente sobre o tema, sem publicidade, ou seja, nas sombras.
Bolsonaro também fala na reunião, repetindo informações falsas sobre a cloroquina e sobre as vacinas. Ele admitiu ter vetado parte de lei aprovada no Congresso que visava agilizar a análise de vacinas pela Anvisa por não confiar nas vacinas. O veto acabou sendo derrubado.