Viana: “Na turbulência política, é hora de cada um dar o melhor de si. Infelizmente FHC preferiu agir diferente”Enquanto menos de um milhão de pessoas foram às ruas pregar a queda de Dilma Rousseff, no último domingo (16), a vasta maioria dos brasileiros preferiu ficar em casa, apesar de muitas delas estarem também descontentes com as dificuldades econômicas e políticas e com o governo. Para o senador Jorge Viana (PT-AC), a decisão de não ir aos protestos expressa um voto de confiança desses milhões e milhões de brasileiros na capacidade do governo Dilma e dos setores políticos responsáveis de encontrarem uma saída para a crise.
“A imensa maioria ficou em casa, na expectativa de que os líderes políticos, os que dirigem as instituições do Estado brasileiro possam encontrar um caminho”, avaliou o senador, em pronunciamento ao plenário, nesta terça-feira. Ele lembra que as pesquisas de opinião têm revelado o crescente descontentamento com o Congresso, com o governo e a com a política em geral. “Ter ficado em casa na expectativa de que esses mesmos setores possam traçar um caminho para o retorno à normalidade e para o reencontro com o crescimento é um gesto considerável”, apontou Viana.
O senador fez questão de abrir seu pronunciamento cumprimentando os cerca de 800 mil manifestantes que, segundo a imprensa, participaram dos protestos anti-Dilma e anti-PT do último domingo. “Independentemente dos excessos, da maneira como alguns possam ter agredido a história e as lideranças do meu partido, elas foram às ruas sem quebra-quebra, de forma ordeira”. Os cumprimentos mais enfáticos, porém, Viana guardou para os que ficaram em casa. “Apesar do descontentamento, elas estão recusando o atalho proposto por alguns, até porque não é por esse atalho que vamos colaborar para que o Brasil volte a crescer, a ter um ambiente pacificado, do ponto de vista político, econômico e até judicial. Agradeço a todos”, afirmou.
A maturidade demonstrada por esses milhões e milhões de brasileiros, porém, não contagiou algumas vozes da oposição. “O PSDB usou todo o seu tempo de televisão, pré-manifestação, convocando disfarçadamente seus filiados para irem à manifestação”. O ‘foco’ anti-Dilma e anti-PT desse novo protesto, saudado por setores da imprensa, não reflete a consolidação de uma pauta. Viana apontou a “profissionalização disfarçada” das manifestações. “Trocaram a cartolina legítima, inovadora, pedagógica, pelas produções espetaculosas, para dizer que era o Brasil inteiro que estava tendo uma sintonia contra a presidenta, contra o presidente Lula, contra o PT, contra a política”.
Viana lamentou a posição adotada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que depois de ser “escondido” por seu partido ao longo de 12 anos, carregando a fama de “mau eleitor”, saiu dos bastidores para pregar a renúncia da presidenta Dilma. “Sinceramente, fiquei entristecido”, afirmou o senador, para quem o Brasil precisa, neste momento, que cada um de o melhor de si — e FHC ofereceu o pior. “Há pouco tempo, ele foi criticado por setores do PSDB por fazer justiça à presidenta Dilma, ao reconhecer que ela é honrada e merece a confiança e o respeito de todos”.
“O presidente Fernando Henrique não pode falar de ilegitimidade da Presidenta Dilma. Nem o PSDB. Como se deu o segundo mandato de FHC? Não existia reeleição no Brasil. Ela foi comprada, neste plenário e no plenário da Câmara dos Deputados por 200 mil moedas”, fuzilou Viana. “Se atualizarmos essas 200 mil moedas, dá muitos milhões de reais nos dias de hoje. A reeleição foi comprada, e o Presidente Fernando Henrique foi reeleito. Eu nunca usei este termo, de que ele foi reeleito ilegitimamente”.
O senador condenou a hipocrisia dos que esquadrinham as ações de apenas um segmento político, fazendo vista grossa para os atos de outros, a depender de suas afinidades. “Há diferença, hoje, do financiamento que a presidenta Dilma recebeu daquele recebido por Aécio Neves. Vamos viver esse faz de conta?”, questionou. A diferença, enfatizou Viana, é que o PT tinha a obrigação de fazer diferente. “O meu partido, o PT, não deveria ter caído nessa armadilha de fazer o financiamento eleitoral exatamente igual aos outros. Isso é uma falha nossa. E tomara que no futuro a gente possa fazer esse ajuste”.
Viana foi enfático em repudiar os ataques ao ex-presidente Lula. “Tentam atingir o PT e o Lula e atingem a democracia”. A “ação combinada” para destruir Lula, alerta o senador, atinge uma parcela grande dos brasileiros. O ex-presidente que fez o mundo respeitar o Brasil, que mudou a história de milhões de brasileiros e brasileiras mais pobres, hoje sofre uma caçada perigosa. “Será que os que estão caçando Lula querem um cadáver?”, inquiriu. Além dos ataques na imprensa e nas redes sociais, das mentiras assacadas contra Lula, agora até atentado a bomba. “Quebraram o sigilo bancário do Presidente Lula! Isso é uma ação de bandidos! Quebrem o sigilo do Presidente Fernando Henrique Cardoso! Vai ter meu protesto aqui. Ninguém da oposição, ninguém de setores importantes da imprensa diz uma palavra contra esse grave episódio”, protestou Viana.
O senador testemunhou a relevância do trabalho realizado pelo Instituto Lula na formulação de políticas e programas de combate à fome e à miséria, tecnologias sociais exportadas para diversos países, especialmente na áfrica. Não é um instituto de araque! É um instituto que leva adiante os seus sonhos”, afirmou. Quanto às palestras pagas feitas por Lula, Viana recordou que ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher ficou milionária dando palestras, assim como o ex-presidente americano Ronald Reagan. “O casal [Bill e Hillary] Clinton recebeu, em seis ou sete anos, R$480 milhões por palestras pagas”.
Cyntia Campos