Milhares de mulheres marcham em Brasília pelo fim da violência e do racismoA senadora Fátima Bezerra (PT-RN) saudou a chegada da Marcha das Mulheres Negras ao Congresso Nacional. “Vindas de todas as regiões do País, de todas as tradições, de todas as correntes, elas representam a luta contra a violência e pelo fim do racismo”, disse.
O deputado Vicentinho (PT-SP) fez coro. Outros parlamentares se somaram aos pronunciamentos comemorando a relevância do movimento, logo no início da sessão do Congresso desta quarta-feira (18), marcada para analisar vetos da presidenta Dilma Rousseff a projetos aprovados pela Casa.
Brasília recebeu, nesta quarta-feira (18), milhares de mulheres negras de todos os cantos do Brasil. Elas atenderam à convocação das chamadas que ecoam pelas grandes cidades, pelo interior do Norte e Nordeste, favelas e quilombos, juntando jovens e mães de santo, intelectuais, estudantes, mães que perderam seus filhos ou maridos para a violência.
São mulheres que defendem que a construção de relações de convivência sem racismo exige participação coletiva e organizada. Neste ano, o tema da movimentação é “Contra o Racismo e a Violência e Pelo Bem Viver”.
As lideranças do movimento explicam que a ideia de reunir mulheres negras numa reivindicação tem relação com as marcas da relação entre racismo e machismo sobre essa parcela da população. No mês da Consciência Negra, que homenageia Zumbi dos Palmares, elas consideram essencial mostrar sua força.
“Nos últimos anos, tivemos um grande processo de reformulação, de mudanças, de ampliação de direitos, de acesso a políticas e a bens e serviços. No entanto, quando a gente faz um recorte racial e de gênero, identificamos que as mulheres negras, um quarto da população, estão em condição de vulnerabilidade, de fragilidade, sem garantias”, diz a coordenadora do núcleo impulsor da Marcha, Valdecir Nascimento, coordenadora executiva do Instituto da Mulher Negra da Bahia (Odara).
Para mudar a realidade
As diferenças de indicadores e números sobre populações negra e branca no Brasil mostram a necessidade de uma luta para modificar a realidade. Indicadores do Ministério da Saúde, de 2011, mostram que a taxa de mortalidade materna, de 68,8% de negras, quando a de mulheres brancas é de 50,6%.
O diagnóstico consolidado no “Dossiê Mulheres Negras – Retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil”, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com apoio da ONU Mulheres, em parceria com o atual Ministério de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, de 2013, oferece números expressivos, que escancaram a força do racismo gerador da exclusão das mulheres negras em espaços mais privilegiados, social e economicamente. A exceção é o trabalho doméstico remunerado.
Na representação política das mulheres na Câmara dos Deputados fica a diferença. Quando o assunto é poder político temos apenas 0,6% de negras, mais 1,6% de pardas, contra 8% de mulheres brancas, segundo estudo publicado no site da Casa Parlamentar.
Ao voltar o olhar sobre o mundo do trabalho, a visão é bastante grave, pois análises do Sebrae/Dieese, a partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no largo período entre 2000/2012, mostram que o trabalho sem carteira assinada das mulheres negras rende 57% menos que o trabalho das mulheres brancas, e a formalização do trabalho, com registro em carteira, aumenta a disparidade – as empresas com mais de 20 empregados discriminam intensamente as mulheres negras, rebaixando sua renda a uma diferença de 83,2%!
O fim da intolerância religiosa também é uma das bandeiras de luta das mulheres negras. Ela viola espaços sagrados de cultos de matriz africana, e se revela no abandono das comunidades quilombolas.
Giselle Chassot, com informações das agências de notícias, Ipea e Ministério da Saúde
Leia mais:
Baquaqua, um herói negro brasileiro, autor do único relato do ponto de vista do escravo