Quatro partidos – PSB, PDT e PSOL – do Congresso Nacional, encabeçados pelo Partido dos Trabalhadores, pediram à Procuradoria Geral da República (PGR) para investigar se há indícios de conduta ilícita de parlamentares na chamada “Operação Monte Carlo”, que tinha como objetivo desarticular uma organização criminosa que explorava jogos de azar em Goiás e apurar as devidas responsabilidades.
Segundo o líder do PT e do Bloco de Apoio ao Governo no Senado, Walter Pinheiro (BA), o pedido de providências está fundamentado em dois pontos principais: as matérias veiculadas pela imprensa sobre a relação de parlamentares com o chefe da quadrilha Carlinhos Cachoeira e a divulgação de conversas telefônicas e gravações em vídeo, que faziam parte do inquérito policial, protagonizadas por Cachoeira e congressistas.
“Temos certeza de que é do interesse de todos os parlamentares citados o completo esclarecimento dos fatos. E foi esse o nosso objetivo”, afirmou o líder do PT, Walter Pinheiro. Ele acredita que o pior cenário para os citados nas reportagens e no vazamento das informações do inquérito seja “ficar à mercê dessa rede de arapongagem”.
A representação à PGR, explicou Pinheiro, foi o recurso encontrado para assegurar o estabelecimento do que é fato e do que é boato, já que as investigações estão protegidas por segredo de justiça e ainda no âmbito do Ministério Público e da Polícia Federal. Até por isso, explica o líder petista, seria precipitado recorrer, neste momento, às corregedorias e aos conselhos de Ética do Senado e da Câmara.
A iniciativa dos partidos acontece um dia após a divulgação da denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) contra 81 pessoas indiciadas na investigação da Polícia Federal (PF). Elas deverão responder pelos crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, evasão de divisas, peculato, contrabando, formação de quadrilha e violação de sigilo profissional, além da contravenção penal de exploração de jogo de azar.
Como funcionava o esquema
A investigação, deflagrada no mês passado, verificou que havia uma espécie de “franquia” do crime. Cachoeira concedia “licenças” de exploração dos pontos de jogos a donos de galpões clandestinos nas cidades goianas. Como forma de impor o seu esquema, o chefe da quadrilha orientava policiais civis e militares a fechar os locais que não tivessem a autorização dele. “Esses agentes organizavam pseudoautuações, simulações de trabalhos policiais, tudo para conferir impressão de enfrentamento ao crime, ou, em outros casos, eram utilizados para eliminação de concorrentes e desarticulação de pessoas que se afastavam do controle e orientação do grupo, viabilizando um domínio territorial rígido, de longo prazo e cartelizado da atividade, monopolizando-a em todo o estado”, sustentou o Ministério Público na denúncia.
Entre os envolvidos na organização criminosa, estão o delegado federal Fernando Hereda Byron Filho, o policial rodoviário federal Alex Sandro Klein da Fonseca, o subcomandante do 5º Comando da Polícia Militar em Luziânia, Uziel Nunes dos Reis e mais seis delegados da Polícia Civil de Goiás. Todos recebiam propina mensal ou semanal para trabalhar em prol do empreendimento de Cachoeira.
De acordo com o MPF, esta é a primeira denúncia contra o grupo de Cachoeira. Outras duas peças devem ser divulgadas posteriormente para tratar dos crimes contra o sistema financeiro.
Possível investigado
Nos áudios da Operação Monte Carlo foram identificados 298 telefonemas entre o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o bicheiro. No último dia 6 e março, o parlamentar goiano subiu a tribuna do Senado para negar qualquer irregularidade na sua relação com Cachoeira. Disse que eles, enquanto amigos, conversavam sobre a separação de seu suplente, Wilder Morais, cuja mulher foi viver com Cachoeira.
Na ocasião, o senador também exigiu ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Dessa forma, o pedido de investigação protocalado nesta terça-feira (20/03) pelos partidos governistas atende a esse pleito de Demóstenes, para que não restassem dúvidas sobre a conduta dele e de outros parlamentares citados no inquérito.
Catharine Rocha
Veja pedido protocolado na Procuradoria Geral da República