A reedição do terror ronda as universidades. Pelo menos 17 universidades brasileiras tiveram sua autonomia desrespeitada nos últimos dias ao promoverem manifestações antifascistas e em defesa da democracia.
“Às vésperas do segundo turno, policiais e agentes da justiça eleitoral invadem universidades em todo país, impedindo debates, recolhendo materiais e faixas contra o fascismo”, denunciou a presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR)
“Assumiram”
Alguns desses ataques à autonomia universitária foram executados sem mandado judicial. Outros foram autorizados pela Justiça Eleitoral, em decisões que sugerem que críticas ao fascismo seriam atos de campanha contra o candidato da direita à Presidência, Jair Bolsonaro.
“Uma juíza diz que faixa contra fascismo seria contra a candidatura de Bolsonaro! Assumiram! E reeditam o terror!”, denunciou Gleisi Hoffman na rede social Twitter.
“Querem calar a consciência do Brasil, usando a força e a brutalidade”, alerta o Partido dos Trabalhadores, em nota oficial divulgada nesta sexta-feira (26), denunciando essas e outras violências praticadas no decorrer do processo eleitoral”.
[blockquote align=”none” author=”Reitores das Universidades Federais”]Educar pressupõe luz, clareza, transparência. Autoritarismo não combina com educação, tampouco com as patrulhas ideológicas [/blockquote]
Risco à democracia
Os ataques às instituições foram rechaçados pelos Reitores das universidades federais. Em nota oficial divulgada nesta sexta-feira (26), a Associação Nacional Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) alerta que “nossa democracia, com 30 anos recém completados, está em risco” e lembra que professores têm “o dever de defender o pensamento crítico livre e a reflexão”.
“Educar pressupõe luz, clareza, transparência. Autoritarismo não combina com educação, tampouco com as patrulhas ideológicas que já começam a surgir nos corredores das universidades brasileiras. Defendemos a pluralidade! Pluralidade de gêneros, de raças, de crenças, de ideologias e de posições políticas”, afirma a Andifes.
Corpo na UFRJ
No início da tarde desta sexta-feira, um corpo foi abandonado dentro de um automóvel no estacionamento da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde estava sendo realizada uma “Aula Pública contra o Fascismo”.
Embora o caso ainda não tenha sido esclarecido pela polícia e não seja possível afirmar que esteja relacionado à atividade acadêmica, estudantes e professores apontam que a desova de cadáveres costuma ser usada por milicianos como “recado” e “ameaça a desafetos”.
Ameaça de prisão e apreensões
Desde terça-feira (23), universidades do Rio de Janeiro, Paraíba, Pará, Minas Gerais, Ceará, Bahia, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul foram alvo de ações de busca e apreensão.
Na Universidade Federal da Paraíba, a faixa apreendida pedia, simplesmente “Mais Educação e menos armas”.
Na terça-feira, fiscais do Tribunal Regional Eleitoral retiraram uma faixa que dizia “Direito Antifascista” da fachada da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense.
A faixa retornou ao local por ordem do diretor da instituição, professor Wilson Madeira Filho, que passou a noite da última quinta-feira ameaçado de prisão.
Situação similar ocorreu da UFRJ, onde faixas contra o fascismo e com os dizeres “Marielle presente” e “Ditadura nunca mais” foram arrancadas por fiscais do TRE.
A Universidade Federal de São João del-Rei foi obrigada a retirar de seu site oficial na internet uma nota do reitor da instituição “a favor dos princípios democráticos e contra a violência nas eleições”.
Na quinta-feira, (25), uma aula pública intitulada “Esmagar o Fascismo” foi proibida na Universidade Federal de Grande Dourados intitulada “esmagar o fascismo”.
Carapuça
“Até onde sei, a retórica dos dois candidatos atualmente em disputa tenta se afastar de uma identificação com a ditadura, a violência ou o fascismo. A pergunta então é: quem vestiu a carapuça?”, questionou reitor da Universidade Federal do Paraná, professor Ricardo Marcelo Fonseca, em uma postagem no Facebook onde expressa sua indignação contra esses atos arbitrários.
“Quero sobretudo invocar o bom senso: em qual mundo se pronunciar a favor da democracia, contra assassinatos, contra o fascismo ou contra a ditadura pode ser considerado como irregularidade jurídica na propaganda eleitoral?”, questiona o reitor da UFPR.