Pesquisa do Ipea aponta escassez de médicos no País

Dados da OMS corroboram a decisão do Governo de trazer médicos estrangeiros para atuar no interior.

Pesquisa do Ipea aponta escassez de médicos no País

 

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O Brasil tem, proporcionalmente à população,
metade dos médicos dos países europeus – no
Norte e Nordeste, essa taxa se aproxima à de
alguns dos países mais pobres do mundo

Apesar da resistência dos médicos brasileiros em admitir, faltam profissionais da área no País. A contestação deixou de ser apenas uma opinião ou uma impressão dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde calcula que, só na última década, criou-se uma demanda por 54 mil médicos no País. Entre 2003 e 2012, o País ofereceu novos postos de trabalho para 147 mil médicos e só formou 93 mil profissionais.

A constatação do Governo Federal sobre a necessidade de trazer médicos estrangeiros para suprir o déficit no interior é corroborada tanto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). E mostra que a gritaria geral da oposição e dos próprios profissionais brasileiros é infundada.

Segundo a OMS, o Brasil tem, proporcionalmente à população, metade dos médicos dos países europeus – no Norte e Nordeste, essa taxa se aproxima à de alguns dos países mais pobres do mundo.  A certeza também é atestada por um levantamento da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset) do Ipea, que fez um mapeamento sobre as ocupações de nível técnico e superior que mais geraram empregos e tiveram os maiores ganhos salariais entre os anos de 2009 e 2012 em todo o País.

Se em alguns centros urbanos os números chegam a superar a média de países ricos, em outras regiões a penúria é dramática, com mais de 300 municípios em dificuldades. “A solução não é só trazer médicos estrangeiros. Essa é só uma parte da solução”, assegura o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Ele lembra que países como Inglaterra e Canadá também contrataram médicos estrangeiros para suprir seu déficit de profissionais em cidades do interior.

O Brasil está negociando com Portugal, Espanha e Cuba a possibilidade de contratar médicos desses países aos quais lhes oferecerá cursos de português (para espanhóis e cubanos) e vistos de trabalho dentre dois e três anos para atender as áreas carentes, principalmente rurais, nas quais a atenção de saúde é deficitária.

O número de médicos estrangeiros a ser contratados ainda não foi estabelecido, mas o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, já assegurou, em reunião com autoridades cubanas este mês, que o Brasil necessitaria de pelo menos 6.000 profissionais de Cuba. O Conselho Federal de Medicina (CFM) do Brasil, entidade que regula o exercício da profissão no país, se opõe à iniciativa.

Comparação
Segundo a OMS, há 17,6 médicos no Brasil para cada 10 mil pessoas. A taxa é um pouco inferior à média do restante dos países emergentes – 17,8. O índice também é inferior à média das Américas (mais de 20).

Mas é a comparação com os países ricos, principalmente da Europa, que revela a disparidade entre a situação no Brasil e nas economias desenvolvidas. Em geral, existem duas vezes mais médicos na Europa que no Brasil – 33,3 a cada 10 mil habitantes. São 48 médicos na Áustria a cada 10 mil cidadãos, contra 40 na Suíça, 37 na Bélgica, 34 na Dinamarca, 33 na França, 36 na Alemanha e 38 na Itália.

Analisando os dados, Marcelo Neri, ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e presidente do Ipea, afirma que os números revelam uma escassez de médicos no Brasil. Ele destacou que a distribuição de médicos não é homogênea no País. Há um grande número de profissionais na região Sudeste e uma enorme carência principalmente na região Norte, quando comparado o número de médicos com o tamanho da população dessas regiões.

O que chama a atenção é que há diferentes realidades no Brasil. No Sudeste, por exemplo, a taxa é de 26 médicos por 10 mil habitantes, superior à dos Estados Unidos (24), Canadá (20) e Japão (21) de saúde no mundo. Mas, nos Estados do Norte, são 10 médicos para cada 10 mil pessoas, abaixo da média nacional de países como Trinidad e Tobago, Tunísia, Tuvalu, Vietnã, Guatemala, El Salvador ou Albânia.

No Nordeste, a taxa é de 12 médicos para cada 10 mil pessoas – no Maranhão, chega a 7 médicos por 10 mil, taxa equivalente à da Índia ou do Iraque. A situação mais dramática, porém, é ainda da África, com apenas 2,5 médicos a cada 10 mil habitantes. As informações são do jornal “O Estado de S. Paulo”.

“A maior gravidade desse problema é que para você formar pessoas com qualidade demora tempo. Os indicadores não deixam dúvidas de que faltam médicos”, afirmou Marcelo Néri. Segundo ele, o estudo do Ipea busca dar informações úteis para elaboração de políticas públicas que ataquem o problema da falta de médicos, mas ressaltou que a pesquisa teve início antes da presidente Dilma Rousseff propor a importação de médicos de outros países, não tendo intuito de corroborá-la.

Neri indicou que a atração de “talentos” do exterior pode ser interessante se feita tomando o cuidado de trazer profissionais de qualidade e de preservar os direitos dos médicos brasileiros. Até porque, considerando dados de 48 profissões de todo o País, medicina é a carreira que oferece o maior salário médio (R$ 6.940,12) e também a maior taxa de ocupação (91,8% dos profissionais estão trabalhando). Além disso, possui a décima maior cobertura previdenciária: 90,7% dos trabalhadores têm algum plano de aposentadoria, seja público ou privado.

Marcello Antunes e Giselle Chassot

Veja a íntegra do estudo do Ipea

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