Para Pinheiro, erro não é investir no Sudeste, mas sim não aportar mais recursos para desenvolver outras regiõesEntra ano, sai ano e os desembolsos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para o Nordeste continuam aquém das necessidades de crescimento da região, que assim vai aprofundamento o fosso que a separa das regiões mais desenvolvidas do país.
Esta situação justifica a emenda à Medida Provisória 663/14, aprovada recentemente pela Câmara dos Deputados, obrigando o BNDES a destinar 30% dos seus recursos para financiar investimentos no Norte e Nordeste.
Abrigando mais de um quarto da população brasileira, o Nordeste não tem do BNDES desembolsos compatíveis com seu contingente populacional. Isso contribui para manter a região em situação perene de subdesenvolvimento.
Em 2013, os recursos que o BNDES destinou ao Nordeste somaram R$ 25,6 bilhões. No ano passado, recuaram para R$ 24,3 bilhões.
Enquanto isso, a região Sudeste, onde estão os estados mais ricos, recebeu do banco encarregado de promover o desenvolvimento econômico e social do país um incremento de mais de R$ 2,5 bilhões em 2014, quando comparado ao ano anterior.
O erro não é investir no Sudeste, mas sim não aportar mais recursos para desenvolver outras regiões.
Com R$ 89,4 bilhões dos desembolsos do banco, a região Sudeste recebeu do BNDES 3,6 vezes mais recursos do que foram destinados para o Nordeste.
A título de ilustração, somente o estado do Rio de Janeiro foi aquinhoado com um total de R$ 26 bilhões. Esse volume é espantosamente superior a todos os desembolsos destinados ao Nordeste, cujo conjunto dos nove estados recebeu R$ 24,3 bilhões.
Na média, coube a cada estado do Nordeste, no ano passado, cerca de R$ 2,7 bilhões do BNDES, praticamente a décima parte da que o banco aportou no Rio de Janeiro.
Considerando a população do Nordeste, de 55,7 milhões de habitantes, e a do Rio de Janeiro, de pouco mais de 16,2 milhões, em 2014, para cada R$ 1,62 que BNDES investiu no Rio de Janeiro, destinou ao Nordeste R$ 0,42, praticamente a quarta parte.
Qualquer que seja o estado comparado com a região, dados do crescimento da produção industrial do Nordeste tem sempre uma relação de subinvestimento quando a referência são os desembolsos do BNDES.
Esta situação de subinvestimento na região pelo maior e mais importante banco de fomento do país é responsável pelo subdesenvolvimento crônico do Nordeste.
O total de dispêndios do BNDES em 2014 foi de R$ 187,8 bilhões, uma redução da ordem de R$ 2,5 bilhões em relação a 2013. Para o Sudeste, a região mais rica do país, foram destinados R$ 89,4 bilhões, um incremento de R$ 2,5 bilhões em relação ao ano anterior.
Para uma população que é mais de um quarto da população brasileira, o BNDES destina pouco mais de 12% dos seus financiamentos, ou 42 centavos per capita. Isso é muito pouco.
Para sustentar um nível de desenvolvimento capaz de reduzir o fosso em relação ao restante do país, o Nordeste precisa que o BNDES dobre os desembolsos para a região.
O Nordeste carece de pesados investimentos em infraestrutura de transportes e em logística. Precisa de uma interligação maior e mais eficiente com os grandes centros de consumo do pais, para que possa produzir e exportar de forma competitiva.
Obras como as ferrovias Transnordestina, que liga os portos de Pecém, em Fortaleza, ao de Suape, em Pernambuco, cortando o sertão, e a Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), que vai transportar a produção do Oeste baiano até o Porto Sul, em Ilhéus, não podem ser interrompidas nem sofrer atrasos.
Só com investimentos em projetos desse tipo – os quais são a base dos financiamentos do BNDES – a região poderá reagir ao estado de letargia econômica que a tem condenado, como ocorre hoje, a ostentar os piores índices de emprego, educação e saúde do país.
Artigo originalmente publicado no jornal A Tarde, desta terça-feira (2), sob o título “O abandono de sempre pelo BNDES”