Em conversa com o portal “Fato online” , senador disse que precisa saber o que a equipe econômica pretende com os sacrifícios exigidos pelo ajuste fiscalO senador Walter Pinheiro (PT-BA) é especialista em telecomunicações. E foi assim, com cabeça de técnico e alma de político que ele concedeu uma longa entrevista ao editor-chefe e colunista do Fato online, Rudolfo Lago, para analisar -e questionar – os rumos do governo, especialmente do ponto de vista do ajuste fiscal.
Para o colunista, o senador deixou claro que, na sua opinião, o que está faltando hoje ao governo Dilma é definir qual é o seu plano. Por que está tomando determinadas decisões agora. O que pretende obter com isso. E, a partir daí, o que planeja fazer no futuro”.
Veja a íntegra da análise publicada nesta sexta-feira (27):
Dilma, Levy e o algoritmo – Por Rudolfo Lago
Um algoritmo é uma sequência de instruções absolutamente precisas, sem qualquer possibilidade de ambiguidade, que, se seguidas, levam a que se alcance determinado objetivo. Uma receita de bolo é um algoritmo. Programas de computador também. Se as instruções forem seguidas – e se elas não tiveram ambiguidade –, o resultado virá.
Quem é do ramo de informática sabe que algoritmo é muito mais que uma palavrinha da moda, muito usada hoje em dia pelos funcionários do Google ou do Facebook para explicar como definem o que você vai achar quando procura algo na ferramenta de busca ou como se escolhe que propagandas você vai ver nos sites ou quem será sugerido como seu amigo nas redes sociais. Algoritmo é precisão em cada passo do caminho. Do contrário, não se chega aonde se deseja chegar.
Técnico da área de telecomunicações, o senador Walter Pinheiro (PT-BA) acostumou-se profissionalmente a lidar com sistemas e programas. E aprendeu, assim, a importância do algoritmo. E é por isso que ele tem perguntado de maneira insistente à presidente Dilma Rousseff e à sua equipe econômica: qual é o caminho? Qual é o plano de voo?
Esse tem sido o cerne da crítica do senador baiano. Ele elevou nos últimos dias o tom das reclamações, e muita gente chegou mesmo a imaginar que ele poderia estar ensaiando uma saída do PT. Não é nada disso, diz ele. “O meu papel deve ser apontar falhas e tentar ajudar a descobrir os caminhos ou deve ser ficar aqui quieto, fingindo que está tudo bem e concordando com tudo?”, pergunta Walter Pinheiro. “Se optar pelo segundo caminho, eu acho que não contribuo. E vou contribuir com alguma coisa saindo do PT? Se for para um outro partido da base, qual seria o sentido disso? Se for para a oposição, estarei sendo oportunista”, conclui.
Para Walter Pinheiro, o que está faltando hoje ao governo Dilma é definir qual é o seu plano. Por que está tomando determinadas decisões agora. O que pretende obter com isso. E, a partir daí, o que planeja fazer no futuro. Ou seja: um conjunto de ações bem determinadas, sem ambiguidade, que alcancem um objetivo preciso. Um algoritmo.
Esta semana, nas negociações conduzidas para aprovar o ajuste fiscal no Congresso, Walter Pinheiro perguntou com clareza ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy: “É natural que o governo queira fazer ajuste. Mas é fundamental que o governo me diga o que pretende fazer depois do ajuste. Vai cortar agora para fazer o quê depois? Está pedindo um sacrifício agora, mas o que promete no futuro em troca desse sacrifício? E qual será a parte do governo nesse sacrifício?”.
Levy tem dito aos senadores que o governo precisa, no total, cortar R$ 66 bilhões. As duas medidas provisórias que enviou ao Congresso garantiriam um corte de R$ 18 bilhões. Então, vai ser preciso cortar mais. Mas por que R$ 66 bilhões? Por quanto tempo? Para obter o quê? E, então, seguir em qual sentido? “Se eu não sei onde quero chegar, que segurança que eu tenho para dar o primeiro passo?”, pergunta Pinheiro.
“A única coisa que eu sei sobre o ajuste fiscal são as duas medidas provisórias. Por isso, eu emendo as medidas provisórias. Porque elas são a única coisa que me foi informada”, continua ele. O senador não entende por que o governo parece se incomodar tanto com as críticas que ele vem fazendo. “O ex-presidente Lula vem falando a mesma coisa. Aliás, o que ele fala é muito mais duro”.
Para Walter Pinheiro, o que ocorre é que não há ser humano capaz de definir sozinho um caminho para um governo. E Dilma isola-se e está isolada. “Com quem ela conversa? Quem tem entrada para dizer a ela o que está dando errado e o que está dando certo?”, pergunta o senador.
Há duas semanas, numa conversa com Lula, Walter Pinheiro perguntou ao ex-presidente como é que ele aguentava viver no árido e isolado Palácio da Alvorada. “Por que você acha que eu vivia fazendo churrasco e marcando futebol com a turma?”, perguntou Lula. “Porque se eu ficasse ali sozinho com a Marisa eu ia ficar maluco”, concluiu ele mesmo.
Dilma não precisa marcar churrascos, muito menos futebol, se isso não é da sua natureza. Mas não pode ficar isolada. Não apenas por causa da solidão, emenda Pinheiro. “Mas porque aqueles churrascos e jogos de futebol eram também reuniões de trabalho. Era a chance que Lula tinha de ouvir as pessoas”.