Pouco depois dos dirigentes do PSDB convocarem a imprensa para acusar o PT de estar por trás das denúncias da imprensa contra o governador de Goiás, Marconi Perillo, atingido mortalmente pela reportagem da revista Época desta semana, o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), que já havia convocado pela manhã uma coletiva com a imprensa para apresentar um balanço do primeiro semestre, foi instado a falar sobre as acusações do presidente do PSDB, Sérgio Guerra.
A complicada situação em que se encontra o governador tucano, após a divulgação de provas e indícios de receber R$ 500 mil da empreiteira Delta, na ainda mais complicada história da venda de sua casa para o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, segundo o presidente do PSDB, é coisa do PT.
Isso mesmo. Sérgio Guerra atribui ao PT a coincidência entre a realização da CPMI que investiga a organização criminosa de Cachoeira, com o início do julgamento do chamado caso do mensalão no Supremo Tribunal Federal. Crivado por perguntas dos repórteres, Walter Pinheiro foi direto: “estão subestimando a competência do STF e a inteligência da população, quando deveriam, isso sim, encontrar explicações para as novas denúncias contra Perillo”.
“O deputado Sérgio Guerra pode falar o que quiser, mas é bom lembrar que não fomos nós que definimos nem o calendário do STF para julgar o mensalão nem que as denúncias sobre a capilaridade da organização criminosa do Cachoeira estivessem em pauta agora”, disse Pinheiro.
Para ele, imaginar que o Supremo possa se pautar pelos desejos e pela vontade de um determinado partido ou mesmo do Governo é, no mínimo, uma demonstração de ingenuidade. “Não vejo como alguém possa imaginar que seja possível mudar o curso da história, seja manobrando aqui ou acolá, como se fosse possível o STF ser influenciado por um partido político. Se alguém for capaz de achar isso, está completamente enganado”, enfatizou o senador.
Reconvocação de Perillo
Parte da ira da direção do PSDB demonstrada na entrevista coletiva tem a ver com a reconvocação do governador para depor na CPI, não mais como testemunha, mas como réu – segundo o requerimento apresentado na noite de segunda-feira (16/07) pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
Para Pinheiro, a direção do PSDB novamente errou o alvo ao acusar o PT de envolvimento na reconvocação de Perillo. Trata-se de uma ilação sem sentido, disse o senador, até porque não há uma posição fechada entre os parlamentares do PT que participam da CPI. Parte é a favor da reconvocação, parte – entre eles, os líderes do PT no Senado (Walter Pinheiro) e na Câmara (Jilmar Tatto) – é contra. Tanto para Pinheiro como para Tatto, a vinda de Perillo para depor novamente pode ser totalmente improdutiva. Ambos defendem, isso sim, que a CPI reúna as provas e indícios que já tem, e as remeta para a Procuradoria-Geral da República, que já encaminhou pedido de investigação sobre Perillo ao STJ.
Pinheiro defende, para o governador, a aplicação do mesmo remédio usado no caso do senador Demóstenes Torres, que foi cassado na última quarta-feira (11/07) pelo plenário do Senado. Mas, advertiu, essa missão não cabe à CPMI, mesmo porque não tem prerrogativas para tal. “Não temos como propor o afastamento do governador. O que podemos fazer é propor o encaminhamento à Procuradoria-Geral ou à Assembleia Legislativa de Goiás”.
“Defendo o encaminhamento das provas para o procurador, porque acho que nós já temos elementos suficientes. E o que Perillo viria vai fazer na CPMI?”, pergunta Pinheiro. “Ter uma nova oportunidade para se defender? Se ele quisesse falar sobre esse assunto (a quitação em dia das dívidas do governo estadual com a empresa Delta em troca de pagamentos pela venda da casa que pertencia a Perillo) já teria tratado disso em seu depoimento”, recordou.
Para o líder petista, assim que o recesso parlamentar de julho for encerrado e as atividades da CPMI forem retomadas, devem ser marcados os depoimentos do ex-presidente da Delta , Fernando Cavendish e do diretor do Dnit, Antônio Pagot. A convocação dos dois já foi aprovada.
Giselle Chassot
Ouça trecho da entrevista do senador Walter Pinheiro
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