Foto: Divulgação/MSTGiselle Chassot
4 de novembro 2016 | 15h33
Os tiros não eram de balas de borracha. Os alvos não eram criminosos. A ação não era legal. O ano não era 1968. O País, oficialmente, não vive sob Estado de exceção. Ainda assim, a polícia de São Paulo invadiu uma escola em Guararema (SP), sem mandado de busca e apreensão e sem qualquer cuidado. Truculentos, os policiais chegaram por volta das 9h25 desta sexta-feira (4) em dez viaturas, pularam o portão da escola Florestan Fernandes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e a janela da recepção e entraram atirando. Dois militantes foram detidos.
Estilhaços recolhidos comprovam que as balas não eram de borracha. A política atirou para ferir e para matar. Assista ao vídeo
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), fez duras críticas ao que chamou de “tentativa de calar as vozes destoantes do governo”. Segundo o parlamentar, a invasão de uma escola de formação e a forma truculenta que a polícia utilizou “acendem um sinal amarelo no País sobre o respeito à liberdade individual e de expressão” e revelam a intenção de setores da política de “criminalizar estudantes e movimentos sociais”.
“Isso é Estado de exceção nu e cru”, escreveu o líder da Oposição, Lindbergh Farias (PT-RJ), em sua página no Twitter. “Lutar não é crime”, postou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) pediu o fim da criminalização aos movimentos sociais. “ Não podemos aceitar passivos que o autoritarismo e a repressão façam morada em nosso País”, escreveu.
Indignado com a invasão, o líder do PT disse que o que aconteceu em São Paulo é inaceitável. ”Essa ação joga uma luz amarela sobre qual o projeto e o tipo de sociedade que queremos construir. Vamos ser o país em que se atira em jovens, se invadem escolas? Ou um país em que a educação, a formação e o respeito às diferenças são fundamentais?”, perguntou.
Humberto lembrou que ações como a que foi promovida pela polícia paulista remontam a um tempo infeliz da nossa história, a ditadura militar, onde milhares morreram apenas por defender opiniões contrárias ao governo. “A esse tempo não podemos voltar jamais”, disse.
O ator Wagner Moura também gravou um vídeo manifestando “repúdio” à ação. “Se alguém tinha dúvidas de que o Brasil vive um estado de exceção, um estado policialesco, a invasão da escola Florestan Fernandes pela polícia é uma demonstração covarde de truculência, típica de um Estado de exceção”, disse.
O MST tem 1.500 escolas públicas em assentamentos em todo o País e já foi responsável pela educação de 160 mil crianças e adolescentes. Em nota, o movimento repudia a ação da polícia e exige que o governo e as instituições tomem as medidas cabíveis. “Somos um movimento de luta pela redemocratização do acesso à terra no País e a ação descabida da polícia fere direitos constitucionais e democráticos”.
Ainda de acordo com o texto, a operação em SP decorre de ações deflagradas no estado do Paraná e Mato Grosso do Sul e batizadas de Clastra. “A Polícia Civil executa mandados de prisão contra militantes do MST, reeditando a tese de que movimentos sociais são organizações criminosas, já repudiado por diversas organizações de Direitos Humanos e até mesmo por sentenças do Superior Tribunal de Justiça”.
O objetivo, segundo a direção do Movimento, era prender e criminalizar as lideranças dos acampamentos Dom Tomás Balduíno e Herdeiros da Luta pela Terra, militantes assentados da região central do Paraná.
Confira a íntegra da nota do MST
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