8 de janeiro

Policiais revelam na CPMI como atentado em aeroporto seria letal

Bomba colocada em caminhão é utilizada para detonar rochas e poderia ter causado tragédia, segundo peritos
Policiais revelam na CPMI como atentado em aeroporto seria letal

Peritos e delegado relataram detalhes da tentativa de atentado ao aeroporto de Brasília no dia 24 de dezembro de 2022. Foto: Alessandro Dantas

Detalhes do caso no qual bolsonaristas colocaram uma bomba em um caminhão-tanque na área do Aeroporto de Brasília, na véspera do Natal, foram relatados na CPMI do Golpe nesta quinta-feira (26/6). O tema foi abordado por um delegado e dois peritos da Polícia Civil do DF (PCDF) que participaram da investigação.

O colegiado ouviu o delegado da PCDF Leonardo de Castro e os peritos Renato Martins Carrijo e Valdir Pires Dantas Filho. O objetivo é levantar os fatos que antecederam e levaram aos atos golpistas contra as sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro.

Durante a audiência, o delegado Castro relacionou a tentativa de atentado no aeroporto aos fatos ocorridos no dia 12 de dezembro de 2022, data da terceira diplomação de Lula como presidente e quando houve uma tentativa de invasão à sede da Polícia Federal e destruição de bens públicos e veículos na capital do país.

“Sei que o foco de hoje, ao que me parece, são os fatos ocorridos no dia 24. Porém há uma conexão com o dia 12, então eu acho importante, pelo menos, citar essa conexão com os atos ocorridos”, disse Castro.

A data é lembrada por um cenário de guerra: carros e ônibus sendo incendiados e bolsonaristas atacando policiais com pedras e pedaços de madeira. O delegado relatou que dois envolvidos nesses atos de vandalismo também estavam imersos no atentado ao aeroporto: Alan Diego e Wellington Macedo – esse último foragido e ex-assessor do antigo Ministério da Mulher, comandado pela hoje senadora Damares Alves (Republicanos-DF).

Bomba para rochas

Os peritos que participaram da audiência deram detalhes sobre as investigações a respeito do explosivo encontrado no caminhão-tanque, com capacidade para 60 mil litros de combustível, que estava ao lado do Aeroporto de Brasília.

Segundo o perito Renato Carrijo, a emulsão usada para produzir o explosivo tem venda restrita, controlada pelo Exército e é utilizada para destruir rochas em pedreiras.

Ele mostrou imagens da bomba artesanal utilizada – produzida de forma confessa por George Washington de Oliveira e colocada por Allan Diego dos Santos na traseira do caminhão.

Já o perito Valdir Pires apresentou estudo do que poderia ocorrer caso a bomba – que, mesmo acionada, não funcionou – fosse efetiva e o caminhão estivesse perto da área de abastecimento do aeroporto. O tema foi abordado tanto pela relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), quanto pelo deputado Rogério Corrêa (PT-MG).

O cenário hipotético (assinalado em uma arte como “zona vermelha”), segundo Valdir, causaria uma explosão, gerando uma onda de pressão e choque por algumas dezenas de metros e o risco de projetar fragmentos a grandes distâncias (entre 200 e 300 metros) dentro do aeroporto.

“A depender das condições físicas [da pessoa atingida pelos fragmentos], seja um idoso, uma criança, tem um potencial letal muito grande. Eu quero ressaltar também que o simples incêndio já traz esse risco à integridade física e à vida das pessoas por conta da eventual inalação da fumaça”, explica.

“Então, a zona vermelha era um risco potencial de causar óbitos; a zona laranja teria um risco de causar ferimentos, lesões, um risco à integridade física; e a zona amarela já seria uma zona mais segura, seria uma zona onde não teria um risco à integridade física das pessoas”, complementa.

Confira as imagens de explosivos apreendidos:

Ameaça

A audiência foi prejudicada pelas sucessivas interrupções do deputado bolsonarista Abilio Brunini (PL-MT), que nem mesmo faz parte dos integrantes titulares ou suplentes da CPMI.

Em uma das tentativas de tumulto, quando Rogério Corrêa tinha a palavra, o presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA), perdeu a paciência com a balbúrdia do bolsonarista e ameaçou levar o parlamentar de ultradireita ao Conselho de Ética da Câmara.

Rogério pediu a exibição de um vídeo mostrando a trama golpista que envolveu a tentativa de atentado ao aeroporto. Brunini, então, interrompeu seguidas vezes o deputado petista, que tinha a palavra, o que causou a indignação do presidente da comissão.

“Vou encaminhar o nome de vossa excelência ao Conselho de Ética. Eu não vou permitir que vossa excelência fique tumultuando esses trabalhos da CPI. Vossa excelência não vai conseguir isso”, esbravejou Arthur Maia.

Maia foi efusivamente aplaudido pelos integrantes do colegiado após a atitude.

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