Arte: PT no Senado
Um método conhecido do governo Bolsonaro é criar polêmica num assunto para abafar crise em outra área. Coincidência ou não, enquanto cresce nas redes sociais a reação popular ao recorde de gastos com cartão corporativo e, ao mesmo tempo, aproxima-se o julgamento, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), de recurso que pode obrigar a Presidência da República a detalhar os gastos desses cartões pagos pelos brasileiros, Bolsonaro dá entrada numa ação contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por abuso de autoridade. Para senadores do PT, ele novamente levanta uma cortina de fumaça para encobrir o debate que de fato importa: a tragédia que é o atual governo.
Humberto Costa (PT-PE) classificou o cartão como “mamata card”, e afirmou que “enquanto o povo passa fome, o genocida da República torra seus impostos”. O senador citou outro ingrediente: o aumento de 69% do salário do presidente e dos ministros, concedido no ano passado, justo no momento mais agudo de uma pandemia que corroeu as condições de vida da população.
“Com Bolsonaro, o salário mínimo perdeu poder de compra. Mas enquanto o povo sofre com inflação alta e salário menor, Bolsonaro decidiu aumentar o próprio salário e dos seus comparsas”, assinala Humberto Costa.
No caso dos cartões, Bolsonaro bate recordes sucessivos. Em três anos, gastou mais de R$ 50 milhões com cartão corporativo. Só entre janeiro e maio deste ano, foram R$ 8,8 milhões. O sistema funciona como um cartão de crédito, só que pago por todos os brasileiros, e deveria servir para custear despesas de pequeno vulto, como em viagens e outros serviços que exijam pagamento imediato. O valor total da fatura está lá, no Portal da Transparência, mas sem o detalhamento dos gastos. Isso pode mudar caso o Superior Tribunal Justiça (STJ) acolha recurso apresentado pelo jornal O Estado de S. Paulo, depois de um revés em decisão isolada do presidente do órgão, ministro Humberto Martins, que em março suspendeu o acesso do jornal aos dados, alegando que a divulgação detalhada de despesas com alimentação, transporte e hospedagem poderia comprometer o esquema de segurança do Planalto.
Pelas redes sociais, o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), replicou a expressão “Jair Gasta O Brasil Paga” e provocou, exigindo o extrato impresso e auditável do cartão corporativo.
“Esse daí aumentou o próprio salário por meio de portaria enquanto o povo passa fome. Só pensa no próprio umbigo, não no país”, pontuou o líder sobre a autoconcessão de reajuste salarial por Bolsonaro.
Fila de espera
A reação do público à gastança desenfreada, incluindo o próprio aumento salarial, e o julgamento no STJ, marcado para esta quarta-feira, podem explicar a ação de Bolsonaro contra o ministro Alexandre de Moraes. E para o senador Jean Paul Prates (PT-RN), há ainda um outro assunto que o presidente quer esconder do debate nacional: a fila de famílias à espera da concessão do Auxílio Brasil.
“Já está provado que Bolsonaro não consegue administrar nem a casa dele. Ele ultrapassou os gastos do cartão corporativo de todos os outros ex-presidentes! E mantém tudo em segredo, como se o dinheiro gasto fosse dele e não do contribuinte brasileiro. Quem não consegue cuidar de casa, não vai cuidar da população brasileira que recebe Auxílio Brasil. É por isso que temos 1,3 milhão de famílias à espera dessa ajuda, que é uma cópia mal feita e mal administrada do Bolsa Família, um programa estruturado criado por Lula. O Jair gasta muito e muito mal!”, sentenciou o senador.
O Auxílio Brasil foi lançado neste ano eleitoral para substituir o Bolsa Família. E segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), dentro dessa demanda reprimida do programa, de 1,3 milhão de brasileiros, existem quase 8 mil famílias em situação de rua.
