Nesta semana tivemos a realização da 16ª cúpula do BRICS em Kazan, na Rússia. O BRICS, bloco originalmente constituído por Brasil, Rússia, China e África do Sul, foi criado em 2009, com grande protagonismo do Brasil, no contexto dos efeitos globais da crise do subprime. Visa o fortalecimento da cooperação econômica, a representação dos países em desenvolvimento nas instituições financeiras internacionais, o desenvolvimento de infraestrutura e comércio, e o estímulo à inovação e tecnologia entre os seus membros. No início deste ano, o BRICS foi expandido com a incorporação de Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia, afora a Arábia Saudita.
Na verdade, a crise do subprime nos EUA, que contaminou o resto do mundo (em menor grau o Brasil) teve o condão de precipitar a criação do BRICS enquanto esfera de defesa mútua desses países ante a extrema vulnerabilidade sistêmica de todas as nações, em especial, do sul global, aos humores da economia americana. Por conseguinte, seria também um contraponto e uma blindagem às estratégias geopolíticas dos EUA, muitas vezes traduzidas em sanções e bloqueios econômicos unilaterais facilitados pelo dólar como divisa internacional. Associado a esse fato, contribuíram para a criação do BRICS, as assimetrias, ineficácia e déficit de representatividade dos órgãos multilaterais de governança e comércio mundial.
Vários outros grupos/blocos regionais e intrarregionais de articulação política notadamente nos campos econômico, financeiro e comercial foram criados nas últimas décadas, fruto, em particular, do sistema anacrônico e excludente da governança global e da expansão das posturas nacionalistas, contra o multilateralismo.
Consistente com os objetivos acima, em Kazan, a 16ª cúpula do BRICS debateu agenda ampla com destaque para a multipolaridade; mudanças no Conselho de Segurança da ONU e na OMC; emergência climática; aprofundamento da cooperação econômica entre os membros do bloco e; com ênfase, a redução da dependência ao dólar.
Não obstante os legítimos propósitos de autoproteção e cooperação econômica do Bloco, o BRICS passou a ser atacado por supostamente representar iniciativa em oposição ao “ocidente asséptico”.
O Brasil jamais embarcaria em qualquer ação internacional refratária aos EUA, por exemplo, país com o qual mantemos relações cooperativas históricas em todos os planos.
Portanto, a aposta do Brasil no BRICS, no caso, visa a ajuda e cooperação com outros países emergentes na perspectiva da diversificação das parcerias para a facilitação do desenvolvimento do país, e do maior protagonismo do sul global na governança mundial, e no combate à fome e às desigualdades.
Arábia Saudita e Emirados Árabes, membros do BRICS, são parceiros estratégicos dos EUA no oriente médio! De outra parte, o Egito, igualmente membro do BRICS, é o terceiro maior beneficiário da ajuda militar dos EUA, atrás da Ucrânia e de Israel. Como ser contra os EUA e o “ocidente”?
Há uma enorme demanda de países de todos os continentes pela condição de membros parceiros do BRICS. Tanto que em Kazan houve a participação de 35 países e seis organizações internacionais. Após presidir o G20 neste ano, em 2025 o Brasil estará na presidência do BRICS e sediará a COP 30. Não são eventos aleatórios e desconectados para fins de promoção da silhueta política do Brasil na seara internacional. A forte atuação do atual governo do Brasil nesses fóruns reflete estratégia reconhecida em todo o mundo, pelo desenvolvimento do país, e pela construção de um mundo mais solidário, simétrico, justo e ambientalmente sustentável.