A pesquisa do Prato Feito do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) revela que a tradicional refeição de trabalhadores e trabalhadoras subiu 23% nos restaurantes entre maio de 2021 e abril de 2022. É o dobro da inflação geral ao consumidor, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que registrou 11,3% no período.
A sondagem considera as variações de preços de arroz, feijão-carioca, feijão-preto, alface, batata-inglesa, cebola, tomate, frango em pedaços, ovos e carnes bovinas. “Fica bem nítido o novo foco de inflação dos alimentos nos hortifrútis, por conta do excesso de chuvas em vários locais produtores, o avanço da inflação no alface, na batata e especialmente no tomate, que acumula inflação de 127% em 12 meses”, detalha na Folha de São Paulo Matheus Peçanha, economista responsável pelo levantamento.
Ouvidos pela reportagem, assalariados contaram as táticas que usam para se alimentar. “Para continuar comendo sem usar a mais do vale-refeição, eu e mais alguns colegas diminuímos a quantidade de comida no prato. De 500 gramas passei a comer 400 gramas, em média”, conta o bancário Marcelo Freitas.
O pesquisador da Fipe afirma que os resultados alertam para a difusão e a persistência da inflação sobre o poder de compra de salários e benefícios dos trabalhadores em razão do peso de itens ligados à alimentação. O impacto é sempre maior entre os mais pobres, cujo consumo é majoritariamente de alimentos e outros itens de sobrevivência.
Além da perda do poder de compra dos salários com a inflação, os trabalhadores também veem o vale-alimentação durar cada vez menos. Panorama elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em parceria com a Alelo revela que, entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2022, caiu de 27 para 24 o número de dias corridos necessários para esgotar o saldo. Se cada vez “sobra mais mês no fim do vale-refeição”, é porque o valor médio também caiu no período, de R$ 465,20 para R$ 415,30.