Preconceito é o negro ter talento e não poder expressá-lo

Neste Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, lançou dois editais, em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), específicos para produtores e criadores negros. Com os dois programas, produtores e artistas negros poderão concorrer com projetos nas áreas de audiovisual, circo, dança, música, teatro, artes visuais, literatura, pesquisas acadêmicas e pontos de cultura. De acordo com o ministério, serão destinados cerca de R$ 10 milhões. A cerimônia de lançamento ocorreu em São Paulo, no Museu Afro Brasil, criado quando a ministra era a prefeita da cidade.

Marta diz que os programas lançados nesta terça-feira são uma pequena amostra do que sua pasta pretende implantar, em apoio às políticas afirmativas. “A parte mais forte e enraizada da nossa cultura vem da cultura africana. Nós temos que preservar isso e tornar mais visível”, defendeu Marta. Marta também falou sobre os próximos passos que o MinC dará na direção da criação de ações afirmativas: “É a primeira vez que o Ministério da Cultura tem ação afirmativa nesse sentido. Então vamos ver como isso vai caminhar, corrigir o que não tiver funcionando e ampliar o que estiver funcionando”.

Políticas afirmativas
A ministra da Cultura defendeu as políticas de cotas sendo adotadas pelo MinC, amparadas em decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e em consonância com ações também do Governo Federal: “São medidas das quais se espera que só passem a não existir quando tivermos equidadeDia-Nacional-de-Zumbi-e-da-Conscincia-Negra.1 de oportunidade para todas as raças”. Marta aproveitou a oportunidade para rebater os argumentos sobre a política de cotas que acusam a medida de gerar maior preconceito: “Preconceito é negro não ter acesso. É ter talento e não poder expressar esse talento. Na hora em que se dá a oportunidade, se está exatamente quebrando a barreira do preconceito”, argumentou a ministra.

A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial, Luiza Bairros, falou sobre a importância de iniciativas dessa natureza para valorizar os talentos que já existem. “Essa decisão do MinC será certamente repercutida nas políticas culturais feitas também pela iniciativa privada. Estou emocionada com as possibilidades que estão se abrindo neste 20 de novembro”. Para Luiza Bairros, “as artes negras muitas vezes são lidas como folclore. Algo que não tem relação direta com dinâmica atual da sociedade. À medida em que fizermos esses editais, eles darão visibilidade a formas de expressão que dialogam com o Brasil de hoje, com o passado e apontam para possibilidade da cultura se fortalecer em sua adversidade.”

O presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira, classificou o lançamento dos editais como um dos atos mais marcantes desde 1888. “A população negra começa agora a assumir o protagonismo para poder fazer a mudança na história desse país e a cultura é instrumento fundamental para isso”.

Os editais
O MinC lançou os editais, num valor próximo de R$ 9 milhões, por meio da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Fundação Nacional de Artes (Funarte) e Secretaria do Audiovisual (SAv), em parceria entre a Fundação Palmares e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR/PR).

Com os editais, espera-se formar novos escritores, elevar o número de pesquisadores negros e de publicações de autores negros, incentivar pontos de leitura de cultura negra em todo o país; também premiar curtas dirigidos ou produzidos por jovens negros, na faixa de 18 a 29 anos; investir em criação, produção e fazer com que artistas e produtores negros ocupem palcos, teatros, ruas, escolas e galerias de arte de todo o país.

Fundação Biblioteca Nacional
“Vamos abrir um Ponto de Leitura em cada capital do Brasil. Eles terão oficinas de formação de produtores e criadores negros com a duração de dois meses. Após essas oficinas serão publicadas as criações literárias desses escritores”, afirmou Galeno Amorim, presidente da FBN.

Em um valor total de R$ 4 milhões, a FBN lançou três editais para ampliar o acesso à literatura já existente de autores negros, fomentar o surgimento de novos escritores e pesquisadores e dar visibilidade para suas criações e pesquisas, incentivando a produção de publicações na forma de livros, em meio impresso e/ou digital.

Prêmio Curta-Afirmativo
A Secretaria do Audiovisual vai premiar, por meio do Edital Curta-Afirmativo, seis curta-metragens dirigidos ou produzidos por jovens negros, na faixa etária de 18 a 29 anos.

Cada curta terá o investimento de R$ 100 mil. Segundo Lina, “o edital valorizará a juventude em suas particularidades”. A temática dos curtas é livre, não precisando, necessariamente, relatar questões étnicas.

Prêmio Grande Otelo
Além de homenagear um dos maiores artistas negros da história do País, o Prêmio Funarte Grande Otelo investirá em criações e produções que contemplem toda uma diversidade de expressões artísticas. Segundo o presidente da fundação, Antonio Grassi, serão quatro prêmios de R$ 200 mil, 12 prêmios de R$ 150 mil e 17 prêmios de R$ 100 mil.

O objetivo é que artistas e produtores negros ocupem palcos, teatros, ruas, escolas, galerias de arte de todo o país. Para isso, a Funarte vai fomentar 33 projetos nas categorias artes visuais, circo, dança, música, teatro e preservação da memória visando estimular a pesquisa, a preservação de acervos e a reflexão sobre a produção artística negra no Brasil, como forma de combater o preconceito.

Museu
A ministra também aproveitou a cerimônia de lançamento dos editais para assinar a portaria 148/2012 que institui um grupo de trabalho para viabilizar as diretrizes básicas para elaboração do projeto executivo, construção e funcionamento do Museu Nacional Afro Brasileiro de Cultura e Memória.

Estiveram com a ministra Marta Suplicy no lançamento dos editais a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros; o presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araujo; o presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Galeno Amorim; a coordenadora da Secretaria do Audiovisual (SAv), Lina Távora; o presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Antonio Grassi; o secretário de cultura do Estado, Marcelo Mattos Araujo; e o diretor-curador do Museu Afro Brasil, Emanuel Araújo.

Com Ministério da Cultura

Fotos internas: Luiz Carlos Murauskas e Dani RibeiroFoto

Foto home: Agência Brasil

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