Preconceito que contaminava alguns senadores desapareceu na reunião histórica

Não houve entre os senadores, mesmo aqueles que votaram com o fígado partidário, cego à emoção e à racionalidade, quem não se encantasse com aquele senhor de fala mansa que a todos respondeu agradecendo às perguntas sobre os temas mais caros e controversos ao Brasil. Maioridade penal, demarcação de terras indígenas, aborto, união homoafetiva, homofobia, impeachment….o professor Luiz Edson Fachin não fugiu nem procurou ludibriar com generalidades nenhuma das perguntas dos senadores, sempre agradecendo à seta disparada. Mesmo as que traziam veneno letal, agradeceu à oportunidade de esclarecer o que pensa e quais influências pesariam numa hipotética ida sua ao Supremo Tribunal Federal (STF), como pretende a indicação da presidenta Dilma Rousseff, utilizando uma das importantes prerrogativas que o cargo lhe garante constitucionalmente.

O professor gaúcho que construiu carreira no Paraná passou com louvor pelo exame mais difícil de sua longa vida acadêmica.

Simples, conteve as lágrimas e a emoção logo no início da mais longa reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da história do Senado, ao citar a origem humilde de seus pais e tios, todos pequenos agricultores.

Cordato, não perdeu a bonomia e a civilidade nem nos momentos mais tensos provocados pelos representantes da oposição que desejam vê-lo caído para, ilusoriamente, também atingir o governo.

Firme, mostrou e demonstrou seu sólido saber jurídico, entre velhas e novas teorias da ciência do Direito no Brasil e no mundo, sempre lembrando que seu guia e mentor principal era o pequeno exemplar da Constituição ao lado de seu bloco de anotações, onde respeitosamente escreveu cada uma das dezenas de perguntas que lhe foram feitas durante as mais de doze horas de reunião.

Forte, o professor de 57 anos deixou a cadeira de inquirido apenas por uma vez, nos dez minutos de intervalo que a Mesa Diretora da CCJ lhe reservou para um rápido lanche que substituiu o almoço.

O Senado não esquecerá tão cedo da sabatina, como os senadores com mais tempo de mandato registraram. Nunca uma sabatina como a de ontem, também registraram, deixou os rapapés e o linguajar empolado do juridiquês de lado para dar lugar a respostas seguras e claras sobre o que prescreve a lei e quais são as garantias dos direitos civis individuais e coletivos. 

Muitos senadores não se esquecerão tão cedo que chegaram à sala da CCJ contaminados pelo preconceito e pelo pré-juízo que certa mídia difundiu. Vários já confessaram, durante a sessão histórica, que refizeram sua avaliação e mudaram completamente de opinião após a “aula” de civilidade com que o indicado pela presidenta Dilma Rousseff respondeu e repetiu a todos os questionamentos distorcidos pela opinião menor alimentada pelo ressentimento e pela derrota.

Falta ainda o teste final – a avaliação do plenário do Senado, agendada para a próxima terça-feira (19), poderá acontecer ainda nesta quarta-feira (13) – mas já se pode prever que o resultado dos votos dos 81 senadores da República em plenário trará a mesma larga margem de votos a favor da posse de Fachin para a mais alta Corte de Justiça do Brasil.

O ressentimento renitente talvez não tenha mais uma semana para continuar bombardeando nos meios de comunicação que Fachin declarou voto em Dilma nas eleições de 2010, convenientemente se esquecendo que a mesma declaração de voto não foi obstáculo nem motivo de celeuma para outros juristas que chegaram ao tomo da magistratura no País. Voltarão à carga, é líquido e certo, dizendo que ele contrariou a lei ao trabalhar como procurador do estado do Paraná e advogado ao mesmo tempo, apesar da chancela absolvidora que lhe deram a Ordem dos Advogados do Brasil e a associação dos procuradores do Paraná. Ou ainda que ele atuou com condescendência em casos fundiários. Ou ainda qualquer outra alegação que suscitou as mais duras perguntas por ele respondidas na reunião histórica da CCJ de 12 de maio de 2015.

Nada terá repercussão lesiva capaz de mudar a opinião dos senadores que se convenceram do contrário do pretendeu montar com o julgamento comprometido pelo fel da derrota.

Alceu Nader
(Coordenador de Comunicação da Liderança do PT no Senado)

 

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