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Alimentos puxam a maior inflação para janeiro desde 2016

Desde dezembro, grupo Alimentação e Bebidas exerce o maior impacto sobre o IPCA, que já é de 10,38% em 12 meses. “Tá muito difícil a vida do povo”, resume Gleisi Hoffmann
Alimentos puxam a maior inflação para janeiro desde 2016

Foto: Agência PT

Em sincronia com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA) do Dieese, que aponta alta generalizada dos preços dos alimentos em janeiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) anunciado nesta quarta-feira (9) pelo IBGE chegou ao maior nível para o mês desde 2016: 0,54%, puxado pelo grupo Alimentação e Bebidas. Em janeiro de 2021, a variação mensal foi de 0,25%.

No acumulado em 12 meses, a inflação chega a 10,38%, contra 10,06% registrados em dezembro de 2021 – este, o maior acumulado desde 2015. Se durante boa parte desse período, combustíveis e energia elétrica lideraram o impacto sobre o índice, desde dezembro o grupo Alimentação e Bebidas é o principal influenciador. A alta de 1,11% em janeiro exerceu o maior impacto no índice do mês: 0,23 ponto percentual (p.p.).

“Foi a alimentação no domicílio (1,44%) que influenciou essa alta. Mais do que a alimentação fora do domicílio, que desacelerou de 0,98% para 0,25%”, explica o analista da pesquisa, André Filipe Almeida. “Os principais destaques foram as carnes (1,32%) e as frutas (3,40%), que embora tenham desacelerado em relação ao mês anterior, tiveram os maiores impactos nesse grupo, 0,04 p.p e 0,03 p.p, respectivamente.”

Além disso, os preços do café moído (4,75%) subiram pelo 11º mês consecutivo, acumulando alta de 56,87% nos últimos 12 meses. Outros destaques foram a cenoura (27,64%), a cebola (12,43%), a batata-inglesa (9,65%) e o tomate (6,21%). Os principais recuos foram registrados nos preços do arroz (-2,66%) e do frango inteiro (-0,85%).

“Bolsonaro e Guedes conseguiram a proeza de fazer o preço da cesta básica subir em todas as capitais pesquisadas pelo DIEESE, em 2021. A situação é tão grave que nem o Auxílio Brasil paga a cesta mais barata, de R$ 478. Tá muito difícil a vida do povo”, resumiu a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), em postagem em seu perfil no Twitter.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística se assemelham aos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos inclusive no fato de que Porto Alegre foi a única capital a não apresentar alta dos alimentos em ambas as pesquisas. No entanto, vão além ao apontar aumento dos preços em oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, o que representa disseminação da carestia.

A maior variação de preços veio do grupo Artigos de residência (1,82%), que acelerou em relação a dezembro (1,37%). Na sequência, vieram Alimentação e bebidas (1,11%), Vestuário (1,07%) e Comunicação (1,05%).

Transportes, grupo com maior peso do IPCA, foi o único a ter queda em janeiro (-0,11%), após subir 0,58% em dezembro. Em habitação (0,16%), os preços desaceleraram em relação a dezembro (0,74%) devido ao recuo da energia elétrica (-1,07%), apesar da bandeira Escassez Hídrica ainda em vigor.

Mesmo assim, Bolsonaro detém a marca de maior aumento de preços de energia e combustíveis em ano anterior à tentativa de reeleição desde 2005. Conforme levantamento feito pelo Poder360 a partir do IPCA, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff tiveram situações muito mais tranquilas. Enquanto nos governos petistas esses itens tiveram de deflação de quase -16% até inflação de 15,6%, a era Bolsonaro é marcada por altas de até 47,5%.

Não à toa, a pesquisa Quaest/Genial divulgada na manhã desta quarta mostra que a maioria esmagadora do eleitorado (80%) desaprova a conduta de Bolsonaro no combate à inflação. Os números também são desfavoráveis no quesito emprego, com 63% de desaprovação. Além disso, embora ele use a narrativa de que o “fique em casa” é o culpado pela derrocada econômica, 65% reprovam a forma como ele combate a Covid.

Mais pobres sofrem mais
Se o IPCA, que abrange as famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos, está ruim, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que meda a carestia para famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos, está pior. A alta foi de 0,67% em janeiro, também a maior variação para o mês desde 2016.

O INPC acumula alta de 10,60% em 12 meses, acima dos 10,16% observados no período imediatamente anterior. Em janeiro de 2021, a taxa foi de 0,27%. Mais uma vez, todas as áreas pesquisadas apresentaram variação positiva em janeiro, exceto Porto Alegre.

Ambos os índices representam o dobro da meta de inflação para 2022 estipulada pelo Banco Central (BC) “independente”. O centro da meta é de 3,50%, e o teto é de 5%. O mercado financeiro já projeta inflação de 5,44% no acumulado até dezembro de 2022, aponta a edição mais recente do boletim Focus. Essa estimativa vem sendo revisada para cima nas últimas semanas, junto com a da taxa básica da economia (Selic).

Incapaz de elaborar alternativas para conter a carestia de Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes, o BC “independente” apenas eleva a Selic, que chegou a 10,75% na semana passada. O efeito imediato da medida é o encarecimento do crédito para pessoas físicas e jurídicas, travando investimentos produtivos. A consequência, os brasileiros sentem na pele: desemprego, informalização e perda dos rendimentos.

Levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e SPC Brasil, em parceria com a Offer Wise Pesquisas, revela que 51% dos brasileiros acreditam que as condições da economia em 2021 pioraram em relação a 2020. A pesquisa aponta ainda que quatro em cada dez pessoas (43%) avaliam que a própria condição financeira piorou em 2021. Antes da pandemia, em 2019, 26% avaliaram que havia piorado.

Entre os que acreditam que houve piora da situação financeira em 2021, 60% consideram que seu salário/rendimento não aumentou na mesma proporção dos preços dos produtos/serviços, 44% tiveram redução da renda familiar e 35% ficaram desempregados ou tiveram alguém da família que perdeu o emprego.

Considerando as experiências financeiras vivenciadas em 2021, o cenário mostra um aperto financeiro das famílias brasileiras: 40% dos entrevistados tiveram que renunciar a produtos ou serviços que compravam, enquanto 32% tiveram que fazer uso de alguma reserva de dinheiro que possuem. Já 31% ficaram muitos meses com as contas no vermelho (em 2019, antes da pandemia, eram 24%) e 25% ficaram desempregados.

Nesse cenário de aperto financeiro, 83% tiveram que fazer cortes ou ajustes no orçamento em 2021, sendo que 59% tiveram que redirecionar o dinheiro para pagamento de contas do dia a dia, 35% para pagar contas em atraso e 25% para economizar e guardar dinheiro.

Ainda conforme o levantamento, 92% dos consumidores deixaram de realizar algum projeto que tinham para 2021. Entre os motivos que impediram a realização dos planos, 57% justificaram que foi porque os preços das coisas estavam muito altos, 48% devido ao pouco dinheiro que dispunham, que mal permitia pagar as contas, e 29% ficaram inseguros em gastar dinheiro.

“O desemprego elevado é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes desafios a serem enfrentados pelo país e isso está ligado diretamente ao retorno do crescimento econômico, que ainda não alavancou”, avalia o presidente da CNDL, José César da Costa. “A renda da população foi fortemente afetada nos últimos dois anos e isso, somado aos preços elevados, traz insegurança para as famílias.”

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