Prêmio Chico Mendes de Florestania é destaque

Aníbal ressaltou a importância de incentivar as boas práticas de preservação ambiental.

Na sessão desta segunda-feria (17), o senador Aníbal Diniz ressaltou a importância do Prêmio Chico Mendes como uma das formas de incentivo as boas práticas ligadas à preservação ambiental.

O senador que esteve no Acre no último final de semana e participou da entrega do prêmio que leva o nome de um dos maiores símbolos da luta em defesa do meio ambiente, lembrou que o evento foi criado no Governo Jorge Viana, mantido nos Governos Binho Marques e Tião Viana, e foi o próprio Governador quem conduziu a solenidade de entrega que acontece todos os anos sempre na data que marca o dia de nascimento do líder seringueiro Chico Mendes, 15 de dezembro. Neste ano, se estivesse vivo, Chico completaria 68 anos.

“Eu estava presente ali como convidado do governador Tião Viana e tive a honra de participar do Prêmio Chico Mendes de Florestania. Quero dizer que foi muito emocionante ouvir os filhos do Chico, tanto a Ângela Mendes, quanto o Sandino Mendes, dois jovens que eram crianças quando Chico Mendes foi assassinado e que prestaram seu depoimento de reconhecimento a toda a luta de Chico Mendes e também aos companheiros de Chico que hoje conduzem a política do Acre e dão grande contribuição nessa discussão, nessa reflexão de desenvolvimento sustentável tanto para a Amazônia, quanto para o Brasil e para o mundo”, ressaltou.

Também foi destacada outra emoção vivida durante a solenidade. A carta enviada pelo Prof. Foster Brown, ganhador de uma das categorias do prêmio que não esteve presente na solenidade porque teve que ir para os Estados Unidos, por conta de problema de saúde da irmã. Aníbal passou a ler a carta que ficou registrada nos Anais do Senado Federal como algo importante para a reflexão sobre a sustentabilidade no Brasil.

 

DISCURSO DO FOSTER BROWN NA HOMENAGEM – PRÊMIO CHICO MENDES DE FLORESTANIA

Primeiramente peço-lhes desculpas pela minha ausência que foi motivada por problemas de saúde de minha irmã que se encontra hospitalizada em Boston, nos Estados Unidos.

Gostaria de agradecer também a algumas pessoas especiais, dentre as muitas que me ajudaram ao longo da minha vida aqui no Acre e no planeta.

1. Chico Mendes que conheci e troquei ideias duas semanas antes de sua morte, tempo suficiente para entender que ele tinha uma outra maneira de ver o mundo, ou como falamos na academia, pela mudança de paradigma que provocou. Ele percebeu que a luta pelos direitos humanos está interligada com a saúde de nosso Planeta.

2. A segunda pessoa que lembrou disso foi Leonardo Boff que consegue combinar a visão biogeoquímica da Terra, algo que estudei no meio doutorado, com espiritualidade, algo que normalmente não é tratado pela ciência.

3. A terceira pessoa que reforçou esta mensagem foi Frei Heitor Turrini, que por 50 anos trabalhou como missionário em Sena Madureira, em defesa dos pobres e da floresta. Ele me ensinou que Deus está em tudo, que as árvores têm alma e sorriem. Mesmo estando na Itália, continua preocupado com a Amazônia e sempre me pergunta: Foster, você está cuidando dos pobres e da floresta?

Atualmente estou ajudando a um padre peruano – René Salizar – que coordena um grupo dentro da Iniciativa MAP (Madre de Dios-PE, Acre-BR e Pando-BO). Quando falo sobre Mini-MAP Direitos Humanos, ele sempre me corrige…Direitos Humanos e Ambientais, porque ele também não vê a dissociação entre o ser humano e o Planeta.

Foi via este miniMAP de Direitos Humanos e Ambientais que conheci um jovem haitiano, Esdras Hector. Esdras me mostrou a beleza da solidariedade, quando o vi, depois de alguns meses trabalhando em Rio Branco como ajudante de pedreiro, e retornando a Brasileia para ensinar português de sobrevivência para mais de cem dos seus conterrâneos.

Infelizmente, neste momento, no Planeta Terra, estamos num caminho de insustentabilidade. Um indicador simples desta insustentabilidade é a mudança na composição da atmosfera.

Durante minha vida, a concentração de CO2 na atmosfera – um gás de efeito estufa que ajuda a controlar a temperatura e a energia da Terra, elevou-se mais de 20% pela influência humana. Estamos com 392 ppm de CO2 na atmosfera e esse aumento está acelerando para 2ppm/ano.

Isto é um sinal claro de que estamos num caminho insustentável que envolverá a mudança no clima que a civilização tem tido nestes últimos séculos.

Já estamos vendo os efeitos desse aumento com a intensificação do ciclo da água, promovendo chuvas mais intensas e secas cada vez mais severas. As pessoas mais vulneráveis a essas mudanças são geralmente as mais pobres e os ecossistemas mais susceptíveis são as florestas.

A continuação da situação atual promete um futuro triste para humanidade e para o Planeta Terra. Chico Mendes tinha outra visão que Leonardo Boff complementou em suas profundas reflexões, de que podemos viver em harmonia entre nós e com a natureza. A Marina Silva continua como uma inspiração ímpar para disseminar esta visão. O exemplo de vida de Marina nos dá força e fé para superar as barreiras que separam pessoas e que separam pessoas e a natureza.

Para responder a pergunta de Frei Turrini, se estamos cuidando dos pobres e da floresta, significa que temos de mudar o nosso caminho. Um dos passos neste novo caminho é parar de alterar a composição da atmosfera. Um segundo passo é o de reverter a degradação que estamos gerando, restaurando a Terra. Esta mudança exige conhecimento científico, mas também algo mais importante: a convicção de que a nossa sobrevivência e bem estar estão intimamente ligados à saúde do nosso Planeta. As ações derivadas da ciência e desta convicção precisam acontecer em milhares de lugares neste planeta.

Então eu peço a vocês que trabalhemos juntos para que um desses lugares seja aqui no Acre.

Gostaria de terminar com frases oriundas da Carta da Terra:

“Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança…Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz….

[Esperamos] Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação dos esforços pela justiça, pela paz e a alegre celebração da vida”.

Nós podemos ser instrumentos desse processo, individualmente, mas mais importante, como uma sociedade unida.

Obrigado.

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