Delcídio: “Se eu como líder do governo e presidente da CAE não consigo trazer o presidente da Petrobras, é sinal que o negócio está ruim”Pegou muito mal entre os senadores integrantes da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) o não comparecimento do presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, na audiência que aconteceria nesta terça-feira (17) para discutir, entre outras coisas, as iniciativas que estão sendo adotadas para reduzir o endividamento da empresa e as estratégias de investimentos de seu plano de negócios. “Fui avisado ontem à noite que não compareceriam. O problema é que foi a empresa que sugeriu essa data e aceitamos. Os senadores ficaram desapontados”, afirmou Delcídio do Amaral (PT-MS), presidente da CAE.
O senador lembrou que em momentos até mais delicados do que o atual, outros presidentes da Petrobras – Maria das Graças Foster, José Sérgio Gabrielli, José Eduardo Dutra, Francisco Gros, Henri Philippe Reichstul e Joel Rennó -, não se furtaram em atender aos convites feitos pelos senadores da comissão, responsável pela discussão de projetos que afetam a economia do País.
A audiência que deveria acontecer nesta terça-feira (17) também contribuiria para trazer informações e argumentos para subsidiar a audiência que a comissão realizará amanhã, sobre o Projeto de Resolução do Senado (PRS nº 50/2015), de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), que pretende estabelecer percentuais para a relação entre a dívida bruta e líquida da União em relação ao PIB. E as atividades da Petrobras, por seu tamanho, influenciam essa relação. Inevitavelmente, os senadores também gostariam de discutir com Bendine sua visão sobre outro projeto de Serra, aquele que pretende acabar com a prerrogativa de a empresa ser operadora exclusiva de todos os campos do pré-sal que forem licitados, com participação de 30%.
Em entrevista para a TV Globo e outros repórteres, no final da reunião, Delcídio avaliou ser negativo o não comparecimento de Bendine e de outros diretores. “A atual direção evita de vir ao Senado e o Congresso pode ser o grande palco de discussões importantes que vão impactar a Petrobras. O objetivo nosso é aproveitar a vinda desses dirigentes até para explicar melhor seu planejamento, o que se projeta, a real situação do mercado, para que nós possamos ajuda-la”, afirmou. “Nós queremos somar, ajudar a Petrobras enfrentar esse momento difícil que ela vive. Mas, lamentavelmente, além das negativas, vem os sucessivos adiamentos”, acrescentou.
A audiência que não houve irritou os senadores porque o aviso para a ausência foi dado na noite desta segunda-feira (16). O motivo alegado foram as viagens para o exterior. Na semana passada, para não vir na audiência, a justificativa dada dizia que não poderiam comparecer por causa do período de silêncio imposto aos dirigentes da empresa no período que antecede a divulgação do balanço – a divulgação foi na quinta-feira (12).
O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) elogiou a postura de Delcídio de cobrar a vinda de diretores da empresa, mas aproveitou para alfinetar Bendine: disse que, ao invés de chama-lo, a comissão deveria convidar a socialite Valdirene Aparecida Marchiori, conhecida como Val Marchiori, e alvo de matérias negativas na imprensa no ano passado.
Agora, um grupo de senadores deverá conversar com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, que, na prática, é o chefe do presidente da Petrobras. Eles devem manifestar o descontentamento pelo ocorrido e também pelo próprio isolamento de Bendine.
“Meu papel agora é funcionar como algodão entre cristais, tentar administrar o mal-estar com os senadores e trazer o presidente Bendine à comissão. Evidente que nós vamos conversar com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, mas uma atitude como esta, e repetitiva, é muito ruim para a Petrobras. E ruim para o governo porque sou presidente da CAE e líder do governo. Se eu como líder do governo e presidente da CAE não consigo trazer o presidente da Petrobras, é sinal que o negócio está ruim”, finalizou.
Marcello Antunes