Primeiramente, fora fascismo. Eleição já

Primeiramente, fora fascismo. Eleição já

Marcelo Zero
06 de dezembro de 2016 | 17:02h

O “Fora, Temer” tornou-se algo irrelevante, como irrelevante é a figura patética do usurpador. Temer é mero peão descartável no jogo pesadíssimo do poder no Brasil.

Ele, Geddel, Jucá, Renan, Cunha e toda a turma que queria “estancar a sangria” da Lava Jato tornaram-se estorvo embaraçoso à implantação exitosa da agenda de retrocessos que o poder real, o capital “financeirizado” e internacionalizado, pretende impor ao Brasil. Uns já se foram, os outros irão.

O “mercado”, essa reificação ridícula de um conjunto de grandes capitalistas, apostou que, com o golpe e o afastamento da presidenta Dilma, a “confiança” voltaria e o Brasil caminharia, a passos largos, em direção à retomada do crescimento.  

Quebraram a cara. A crise não só não se resolveu, como se agravou muitíssimo. Antes do golpe, tínhamos uma crise econômica e política que poderia ter sido resolvida com a simples renúncia ao “terceiro turno” e ao “quanto pior melhor”. A aposta irresponsável no golpe piorou muito a crise econômica e criou, agora, uma crise institucional, profunda, de difícil solução. Só mesmo gente cega e irresponsável poderia imaginar que a substituição da presidenta honesta por essa turma sem voto e sem-vergonha podia ser solução para o país.

A instabilidade se exacerbou e tanto o Executivo como o Legislativo estão sem credibilidade institucional e política para resolver qualquer coisa. Isso não é casual. Trata-se dos dois poderes da República que estão assentados no voto popular. Acontece que a soberania popular, que fundamenta esses poderes, foi jogada na lata de lixo pelo golpe.

Essa “deslegitimação” do voto, combinada com a criminalização da atividade política — provocada por esse neoudenismo pseudomoralizante que tomou conta do país —, retirou a credibilidade dessas duas instituições fundamentais para a democracia. Com o neoudenismo, a criminalização da política e a aposta no golpe, setores crescentes da população passaram a desacreditar não só da representação política, mas também da democracia e suas instituições. Estão à espera de “heróis” e “salvadores da pátria”. Desprezam Congresso, democracia e direitos humanos.

Assim, o Brasil de hoje vive uma situação muito parecida à vivida pela República de Weimar alemã, na qual a crise econômica grave e a perda credibilidade e legitimidade das instituições democráticas conduziram à maior tragédia da civilização ocidental.

De fato, o exercício do poder real no Brasil passa cada vez mais à margem dessas instituições democráticas.

O núcleo duro, estratégico, do golpe e do poder é composto pelos setores mais abastados e internacionalizados do nosso empresariado, e seus sócios mundiais, rentistas e banqueiros, e grandes grupos da mídia conservadora, que fazem dobradinha com procuradores e juízes para definir a agenda do país. Financiam também os grupos de descerebrados que vão para as ruas exigir tudo o que for necessário para cumprir a agenda reacionária.  No plano político, esses interesses estão representados essencialmente pelo PSDB e, em menor escala, pelo DEM. É por isso que as áreas estratégicas do governo golpista (economia, política externa, desconstrução dos setores econômicos básicos – Petrobras e BNDES – e construção de um Estado de Exceção) estão, direta ou indiretamente, nas mãos desse partido. Os outros partidos são, na realidade, sócios menos importantes, ou mesmo ocasionais e circunstanciais, desse núcleo.

E esse núcleo se impõe por uma espécie de bonapartismo. O presidencialismo de coalizão foi substituído por um presidencialismo de submissão.

Com efeito, nesse contexto terrível, essas instituições democráticas fundamentadas no voto popular, fragilizadas, sem credibilidade e acovardadas, tornam-se presa fácil de quaisquer manipulações midiáticas e de decisões judiciais que agridem a separação entre os poderes. Afinal, ante circunstâncias que permitiram que se desfizessem de uma presidenta eleita sem a comprovação de crime e sem a menor sem cerimônia, a cassação de um presidente Senado e do Congresso, por decisão monocrática, é algo relativamente banal. Qual a surpresa?

A gravíssima crise institucional pela qual o Brasil passa foi suscitada pelo desrespeito à democracia e ao voto popular ocasionado pelo golpe e pelo neoudenismo, que criminalizou toda a representação política do país. Miraram contra o PT e a esquerda e acertaram na democracia. De quebra, abriram caixa de Pandora do fascismo brasileiro, que, sem controle, ameaça nos engolir. Golpistas provam agora de seu próprio veneno. Ninguém controla mais nada.

Na anomia institucional em que o Brasil foi submergido, arde uma fogueira das vaidades que carboniza direitos e garantias individuais e o futuro do país. Na crescente loucura autoritária, todos os grandes fundamentos da democracia estão comprometidos, do habeas corpus à separação entre os poderes.

Nossa única saída é repor a soberania legitimadora do voto popular para salvar nossas instituições democráticas.  O golpe precisa ser desfeito e o fascismo precisa ser combatido da única forma viável: a via democrática.

 

Primeiramente, fora fascismo. E, em primeiro lugar, sempre, sempre, o poder emanado do povo: eleição já! 

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