Principal trava para maior presença da mulher na política está nos partidos

Principal trava para maior presença da mulher na política está nos partidos

“Se existe opinião tão explícita da sociedade em defesa de maior participação da mulher na política, é evidente que falta legislação mais objetiva, com reserva efetiva de cadeiras, e maior empenho dos partidos no sentido de preparar melhor seus quadros femininos e garantir condições de igualdade nos recursos materiais e tempo de exposição no horário eleitoral gratuito para as candidatas mulheres.” Aníbal Diniz retoma nesta semana uma das principais bandeiras de seu mandato: a defesa pela maior participação das mulheres na política brasileira. Em seu texto, o ex-senador do PT do Acre apresenta os números de recente pesquisa realizada pelo Senado – e conclui: a estrutura dos partidos políticos do Brasil é o grande obstáculo para que as mulheres consigam um lugar ao sol nas disputas eleitorais.

Eles por elas!

Aníbal Diniz

A pesquisa realizada entre 12 de agosto e 3 de setembro de 2015 pelo Data Senado, em parceria com a Procuradoria da Mulher do Senado Federal, trouxe algumas revelações e suscitou importantes indagações sobre a baixa presença feminina no parlamento Brasileiro. Na pesquisa foram ouvidos por telefone 1091 eleitores de todos os estados da Federação. Vale a pena refletir sobre suas constatações.

A primeira pergunta respondida foi se o sexo da pessoa tem importância para o eleitor na hora de votar. A resposta foi, para 83% dos entrevistados, não; 12% sim e 5% não sabe ou nunca votou. 79% dos entrevistados revelam que já votaram em mulheres. 1% não sabe e 20% nunca votaram em mulher. Constatação coerente com o resultado das duas últimas eleições presidenciais no Brasil, quando as candidatas mulheres tiveram no primeiro turno mais de 60% dos votos e no segundo turno a maioria votou em Dilma para presidente.

Em outra pergunta, 65% dos entrevistados consideram que a eleição de uma mulher para presidente influencia os eleitores a votarem em mais mulheres, contra 33% que pensam de forma diferente.

Aí vem uma questão enigmática: “Se o eleitorado não demonstra ter restrições quanto ao sexo dos candidatos, se afirma já ter votado em mulheres, e ainda crê que o fato de haver uma presidente mulher estimula o voto em mais mulheres, como explicar então a baixa representatividade das mulheres na política?”

É bom não esquecer que, mesmo tendo uma mulher na presidência, o Brasil ainda ocupa a 131ª posição entre 189 países no ranking de representação feminina no parlamento, segundo a União Parlamentar Internacional – UPI. As cadeiras ocupadas por mulheres na Câmara dos Deputados são 50 num universo de 513. Proporcionalmente, a Assembleia Legislativa do Acre está melhor, com 4 mulheres num universo de 24 parlamentares, percentualmente o dobro do plano nacional.

A falta de apoio dos partidos é considerada o principal motivo para poucas mulheres na política. Segundo a maioria das respostas dos entrevistados, 62% das mulheres e 66% dos homens estão dispostos a se candidatarem se tiverem chance de se eleger. 75% dos homens e 87% das mulheres responderam que já pensaram seriamente em se candidatar numa eleição, mas não o fazem por não terem o apoio dos partidos. Isso está presente nas respostas de 41% das mulheres e 36% dos homens.

Dizer que as mulheres não têm interesse pela política não vale, porque os índices de homens e mulheres que não se interessam pela política são muito próximos: Apenas 23% das mulheres e 26% dos homens. Também apresentam índices irrisórios a falta de apoio da família, que é de 6% entre as mulheres e 8% entre os homens, e os afazeres domésticos, que aparece nas respostas de 5% das mulheres e 4% dos homens. Por incrível que pareça, 53% das mulheres e 49% dos homens revelam ter interesse médio pela política.

As leis que garantem mais participação da mulher na política são consideradas suficientes para apenas 19% dos entrevistados, insuficientes para 33% e desconhecidas para 46%. 71% dos entrevistados concordam que os espaços sejam ocupados paritariamente por homens e mulheres, 66% defendem que partidos que não cumprirem o preenchimento das vagas estabelecido em lei devem ser punidos, e 66% defendem que pelo menos um terço dos cargos políticos do Senado seja, obrigatoriamente, ocupado por mulheres, como prevê o PLS-132/2014 de minha autoria.

Se existe opinião tão explícita da sociedade em defesa de maior participação da mulher na política, é evidente que falta legislação mais objetiva, com reserva efetiva de cadeiras, e maior empenho dos partidos no sentido de preparar melhor seus quadros femininos e garantir condições de igualdade nos recursos materiais e tempo de exposição no horário eleitoral gratuito para as candidatas mulheres.

Aos homens que ocupam espaço de poder, nos partidos e no parlamento, um apelo do movimento Eles por Elas (HeForShe) da ONU para que pensem nisso e contribuam para mudar essa realidade nas eleições futuras.

 

Aníbal Diniz, 52, jornalista, graduado em História pela UFAC, foi diretor de jornalismo da TV Gazeta (1990 – 1992) assessor da Prefeitura de Rio Branco na gestão Jorge Viana (1993 – 1996), assessor e secretário de comunicação do Governo do Acre nas administrações Jorge Viana e Binho Marques (1999 – 2010) e senador pelo PT- Acre (Dez/2010 – Jan/2015), atual assessor da Liderança do Governo no Congresso Nacional.

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