O Brasil está à venda. Este deveria ser o lema do governo Jair Bolsonaro (PSL), já que seu futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, pretende vender todas as empresas públicas. O entreguismo do presidente eleito já ficou evidente com a anunciada criação de uma Secretaria de Privatizações e Desinvestimento, que ficará sob responsabilidade de seu ‘posto Ipiranga’. Além da Petrobras, Guedes já declarou que pretende privatizar os bancos públicos, Caixa EconômicaFederal e Banco do Brasil.
Para além de entregar um patrimônio do povo brasileiro ao capital estrangeiro, a privatização dos bancos públicos trará riscos para a economia, empresários, produtores rurais e programas sociais do país. O presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Jair Ferreira, lembrou que as indicações de Bolsonaro para os ministérios revelam o caráter privatizante do próximo governo.
“O risco é termos uma repetição dos anos 90. Mudanças de governo sempre trazem algumas tensões e inseguranças em uma instituição pública. Agora, porém, o cenário é muito mais preocupante, considerando as propostas que são defendidas pelo presidente eleito e os nomes indicados para o Ministério da Fazenda [ Paulo Guedes] e para a direção da Caixa [Pedro Guimarães]”, destaca Ferreira.
A indicação de Guimarães, inclusive, provocou reações dos funcionários da Caixa, que emitiram uma nota conjunta contra o banqueiro, sócio diretor do Banco Brasil Plural. Os trabalhadores lembraram que a empresa do futuro presidente da Caixa é investigada pela MPF e Polícia Federal por supervalorização artificial registrada pelo FIP Florestal.
Bancos públicos e a oferta de crédito
Ao longo dos governos do PT, a Caixa e o Banco do Brasil foram fundamentais na oferta de crédito imobiliário e para os micro e pequenos empresários. Diretor-presidente da Fenae entre os anos de 2005 e 2014, Pedro Eugêncio Beneduzzi Leite, aponta que a privatização dos bancos públicos levará ao desmantelamento da políticas de crédito, o que pode impactar diretamente no mercado interno e criação de empregos.
“Cerca de 70% do financiamento de imóveis do país estão com a Caixa porque é um banco público voltado para o cidadão. Bancos privados não se importam com esse tipo de crédito porque não tem a mesma lucratividade que um cheque especial, por exemplo. Com a privatização, a oferta de crédito vai correr risco e vai cair na especulação. Vai encarecer o empréstimo para imóveis e o microcrédito para o empresário”.
“A Caixa teve um período, notadamente no governo Lula, em que ela regulou o mercado e foi importantíssima na concessão de crédito para a casa própria e não só do Minha Casa, Minha Vida, onde ficou mais conhecida, mas também para a classe média, a quem a Caixa financiou muito na questão da habitação”, aponta Leite.
A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvândia Moreira Leite, destaca o risco que a privatização também trará para a agricultura familiar. Segundo ela, o Banco do Brasil é líder na oferta de crédito para a agricultura, tendo uma participação de %8,4% no mercado, desde as grandes empresas até as pequenas propriedades. “Sem um banco público para oferecer crédito mais barato ao agricultor familiar, o preço dos alimentos será muito mais alto para o consumidor”, destacou Juvândia ao PT no Senado.
Caixa e BB contra a crise
Tanto Ferreira como Leite destacaram ainda o papel dos bancos públicos no enfrentamento da crise econômicade 2008. “Em 2009, os bancos públicos— e a Caixa, especialmente — cumpriram um papel essencial do enfrentamento da crise econômica internacional. Essas instituições ofereceram crédito mais acessível, ajudando a economia a se movimentar”, destacou o atual presidente da Fenae.
“Ainda não se fez um estudo para mostrar o quão o Banco do Brasil, o BNDES e principalmente a Caixa foram importantes para que o Brasil superasse a crise. Os bancos públicos mantiveram o crédito aberto para a habitação e também ao pequeno e médio empresário no período de crise”, lembrou Pedro Eugênio Beneduzzi Leite.