A organização criminosa liderada por Carlos Augusto de Almeida Ramos – o Carlinhos Cachoeira – se infiltrou de tal maneira no Estado que dificultou os trabalhos de investigação sobre as atividades ilícitas. Assim os procuradores Lea Batista e Daniel Rezende definiram os trabalhos desempenhados por eles ao longo da Operação Monte Carlo, durante depoimento nesta terça-feira (21/08) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Os dois definiram a quadrilha de Cachoeira como uma organização mafiosa.
“Se o Estado se faz ausente, a organização criminosa se torna Estado”, destacou Daniel Rezende, alertando que quando um grupo criminoso se infiltra no Estado – como ocorreu no caso da organização encabeçada por Carlinhos Cachoeira, “o Estado se torna muito mais vulnerável e a organização criminosa se sobrepõe ao próprio Estado”.
“Ficou claro, ao longo das investigações, que tratava-se de uma instituição piramidal, hierarquizada, que usava de corrupção ativa, passiva, peculato para garantir a cooptação de agentes do Estado”, definiu Léa Batista. Ela afirmou textualmente que Carlinhos Cachoeira agiu diretamente junto a agentes de segurança pública do Estado de Goiás para “desarticular a concorrência e afugentar adversários”.
Segundo ela – que participou ativamente da Operação Monte Carlo que centrou seus trabalhos nas atividades ilícitas desenvolvidas pelo grupo em Valparaíso de Goiás – o que ela encontrou foi uma organização criminosa armada, altamente sofisticada, ousada e complexa e com características de parâmetro mafioso. “O que mais chamava atenção era o código de silêncio orquestrado; esse era o traço mais revelador do grupo. Os integrantes do grupo eram tão leais a Carlinhos Cachoeira que ninguém fala nada, nem à Justiça nem à CPMI” alertou.
Ela disse ainda que, além desse “código de silêncio”, a quadrilha se notabilizou por sua bem montada estrutura, onde havia hierarquia, organização de comando, monopólio e obstrução da justiça. “Além disso, como policiais integravam o grupo, a quadrilha dispunha de armamentos para sedimentar seu domínio territorial”, disse.
Ameaças
Os procuradores falaram das várias dificuldades enfrentadas por quem tentava desarticular o grupo criminoso: “É preciso destacar que a organização não foi desarticulada e isso fica claro quando se observa a quantidade de ameaças que recebemos”, comentou a procuradora. Ela relatou que recebeu dois e-mails em tom de intimidação. O primeiro, no dia 13 de junho e o segundo, na semana seguinte. Ambos alertavam sobre os riscos que ela e sua família corriam. “Ficou claro que esses e-mails saíram de Anápolis, que é reduto da família de Cachoeira”, afirmou.
Batista falou ainda de uma estranha “visita” ao prédio onde mora: “uma mulher tentou entrar lá às 5h45 da manhã, mas não conseguiu”, disse. Daniel Rezende emendou: “tivemos que alterar nossa rotina e nossa família passa a absorver isso; passa a afetar a questão familiar”.
Os dois tentaram demonstrar o nível de organização da quadrilha e a dificuldade de tentar desbaratar uma organização onde policiais eram integrantes ativos. Para o procurador Daniel Rezende, a investigação não conseguiu avançar sobre o braço empresarial do grupo criminoso, devido ao vazamento dos trabalhos das autoridades.
“Há necessidade de se tentar sufocar essas casas de jogos. Não temos um trabalho coordenado, linear. O que o Estado faz é um trabalho meramente paliativo. Você fecha uma casa de jogos e ela logo migra para outra cidade”, concluiu.
Giselle Chassot
Foto: Agência Câmara