A indústria brasileira já estava capengando no início de 2020, antes da pandemia, com números bem inferiores ao desempenho de 2003 a 2014, nos governos do PT, quando se verificou a abertura de 127 mil novas fábricas no país. Mas, hoje, o setor está 1,5% pior do que em fevereiro de 2020 e nada menos que 17,9% abaixo do nível alcançado em maio de 2011. Trazendo a conta para a comparação com julho, a indústria nacional teve queda 0,6% em agosto. E no acumulado de 12 meses, a piora é de 2,7%.
Os números foram divulgados nesta quarta-feira (5) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base na Pesquisa Industrial Mensal (PIM). Com queda de 4,2%, setores de biocombustíveis e derivados de petróleo foram os maiores responsáveis pelo tombo. Também decaíram a produção de alimentos (-2,6%) e a indústria de extração (-3,6%).
Na opinião do economista Bruno Moretti, da Liderança do PT no Senado, a queda indica a baixa sustentabilidade do crescimento da economia, que deve desacelerar nesse segundo semestre.
“O crescimento no primeiro semestre teve entre seus fatores explicativos o aumento da demanda em função das medidas pontuais do governo, como a liberação do FGTS e a antecipação do 13°. Contudo, a indústria vai perdendo fôlego à medida que tais ações cessam seus efeitos. A reindustrialização do país requer que o Estado volte a contar com políticas públicas estruturantes, que criem sinergias com o setor privado, estimulando o aumento de competitividade da nossa indústria, sobretudo nos setores abrangidos pela revolução tecnológica 4.0”, prega o economista.
Baixa qualidade
Mas as ações do atual governo vão no sentido contrário. Segundo Bruno Moretti, Bolsonaro troca gastos que poderiam ampliar a capacidade produtiva, reduzir o gap tecnológico e estimular o desenvolvimento por gastos de baixíssima qualidade, como as emendas de relator.
“O governo Bolsonaro reforça a primarização da pauta de exportações, desmonta o BNDES como instrumento de estímulo à indústria e retira recursos de mecanismos de fomento à produção científica e tecnológica do país, como o FNDCT [Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], que, apenas em 2022 e 2023, perde R$ 6 bilhões em função de medida provisória, recentemente editada, que viabilizou abertura de espaço no orçamento às emendas de relator”, explica.
Setores-chave
Uma das formas de estimular a sinergia com o setor privado e recolocar a indústria nos trilhos novamente é o complexo industrial da saúde, defende o economista, lembrando que essa é uma das propostas de governo do partido, e que mexe com um setor que representa 10% do PIB.
“Você precisa selecionar alguns setores que são capazes de puxar a reindustrialização. É o caso do complexo industrial da saúde. A pandemia deixou claro que o Brasil é altamente dependente da importação de insumos no setor. Portanto, o complexo industrial da saúde pode ser a base para reduzir a dependência tecnológica, fomentar a industrialização do setor e, ao mesmo tempo, está articulado com a garantia de direitos, porque dá ao SUS a capacidade de assegurar a oferta de serviços”, detalha Bruno, ressaltando, ainda, que o projeto pode compensar a perda de recursos do setor, ocasionada pela emenda do teto de gastos (EC 95), que pode tirar da Saúde cerca de R$ 60 bilhões entre 2018 e 2023.