Por absoluta falta de políticas anticíclicas do desgoverno Bolsonaro para a economia produtiva – apenas para a financeira – indústria e agronegócio patinaram mais uma vez nesse ano. A queda da indústria de junho para julho, estima o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 1,3% na série de pesquisas da instituição com ajuste sazonal. Já a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas estimada para 2021 recuou 1% em agosto.
Sete dos 15 locais pesquisados pelo IBGE apresentaram taxas negativas na indústria. Amazonas (-14,4%), São Paulo (-2,9%) e Minas Gerais (-2,6%) sofreram os maiores recuos na produção. Por outro lado, a Bahia (6,7%) teve a maior alta em julho, após avançar 13% em junho. Espírito Santo (3,7%) e Região Nordeste (3,4%) vieram em seguida.
A média móvel trimestral também teve variação negativa (0,1%) no trimestre encerrado em julho de 2021, frente a junho. Seis dos quinze locais pesquisados apontaram taxas negativas nesse mês, com recuos mais acentuados no Pará (-3,4%), Amazonas (-2,5%), Paraná (-1,8%) e Santa Catarina (-1,0%).
Na comparação com julho de 2020, a indústria cresceu 1,2% em julho de 2021, com sete dos 15 locais pesquisados apontando taxas positivas. Esses resultados foram influenciados pela baixa base de comparação, já que em 2020 o setor, em desaceleração nos anos anteriores, foi afetado pelas paralisações impostas como medidas de isolamento social por conta da pandemia.
Abandonado pelo desgoverno Bolsonaro, o setor continua afetado pela falta de insumos como no ano passado, mas outros elementos se somaram à escassez. Entre eles, os altos preços da energia em cenário de ameaça de apagão de luz e de água – preocupação maior de 90% dos industriais, segundo a CNI – e a corrosão de rendimentos e poder de compra das famílias, movida por descontrole inflacionário e desemprego histórico.
Falta política
No início do mês, o IBGE já havia divulgado uma queda de 0,2% da indústria no segundo trimestre deste ano. E um levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) revelou que a confiança do setor, responsável por 20% do PIB brasileiro, voltou a recuar em agosto.
Na ocasião, o economista Claudio Considera resumiu a situação. “A indústria vai mal porque está indo mal o consumo das famílias, a renda das famílias está caindo com a inflação“, explicou ao portal G1. “Não existe um motor impulsionado o PIB brasileiro. Infelizmente, não temos nenhuma política de crescimento econômico.”
Coordenador do Monitor do PIB do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), levantamento que antecipa o comportamento da economia, Considera prevê que o país continuará sujeito a “esse crescimento medíocre que tem acompanhado o país já há algum tempo”. “Nós estamos numa situação muito difícil e vamos ficar nessa situação pelo próximo ano, pelo próximo ano e meio”, estima.
“Tem os problemas (de falta de insumo e aumento de custo de energia), mas o problema maior é que não há estímulo para o crescimento do PIB brasileiro”, prosseguiu o economista da FGV. “Tem reforma disso, reforma daquilo, sempre na esperança de que fazendo essas reformas os empresários vão investir, as reformas vão estimular o crescimento econômico, mas isso não tem acontecido.”
O agronegócio também tem perspectiva de queda, prevê o IBGE. Segundo o instituto, em agosto a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas estimada para 2021 deve totalizar 251,7 milhões de toneladas, recuo de 1% (-2,4 milhões de toneladas) frente a 2020 (254,1 milhões de toneladas).
Afetado pela estiagem prolongada, em grande parte causada pelas queimadas promovidas por fazendeiros, o Centro-Oeste é a que sofreu a maior queda (6,1%) em sua estimativa. A região, responsável por 45,5% da safra total do país, deve produzir 114,4 milhões de toneladas em 2021.
A nova previsão também está 1,7% (-4,4 milhões de toneladas) abaixo da estimativa do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de julho (256,1 milhões de toneladas). Mas a área a ser colhida (68,3 milhões de hectares) é 4,3% maior que a área colhida em 2020. Reflexo do avanço da pressão do agronegócio sobre áreas protegidas.