O governo está preparando e deve lançar no próximo dia 20 de agosto, em São Paulo – a data ainda não está fechada –, o Programa Estratégico de Software e Tecnologia da Informação. Trata-se de um conjunto de diretrizes e medidas visando apoiar o desenvolvimento de software brasileiro e outros produtos e serviços da área de informática. Pedro Menezes, da Secretaria de Políticas de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, informa que o Programa foi elaborado ouvindo-se os setores interessados.
A questão da importação e da produção do software foi levantada mais uma vez nesta quarta (1.8) quando a Associação Brasileira de Software (ABES) e o International Data Corporation (IDC) divulgaram, em conferência, os resultados da “Pesquisa sobre a Indústria Brasileira de Software e Serviços”. Como principal dado do segmento foi divulgado o faturamento de UR$ 19,5 bi em 2011, com um crescimento de 12% sobre 2010. Mas o problema aparece em outro dado: 80% das vendas no país são de programas desenvolvidos no exterior.
Apesar de o Brasil ter avançado uma posição e ocupar agora 10ª colocação no ranking mundial do mercado de software, o resultado não é festejado pelos que atuam no segmento porque o país corre o risco de “sofrer uma colonização tecnológica”, segundo Gérson Schimitt, presidente da ABES.
Na verdade, se importamos 80% do que consumimos em software, a colonização já ocorre. O que o governo está se preparando para anunciar é um programa para reverter ou pelo menos diminuir o problema, olhando principalmente para as áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento do país.
Outros dados
Segundo Schmitt, o faturamento do segmento de software tem duas fontes. Uma delas é a prestação de serviço de desenvolvimento de programas de computador. Outra, a venda de softwares ou de licenças de uso. O Brasil se apoia principalmente na prestação de serviços, de onde vem 68% do seu faturamento do segmento.
Mas, afirma o dirigente da ABES, este nicho apresenta algumas desvantagens em relação ao desenvolvimento e comercialização de softwares. A primeira é a defasagem de remuneração dos profissionais. Enquanto um desenvolvedor que presta serviço recebe R$ 40 por hora, o de software recebe R$ 120.
A segunda desvantagem de ter a maior parte do faturamento vindo dos serviços é que isso impulsiona a pulverização do mercado, o que não permite a formação de grandes empresas que podem focar na pesquisa e desenvolvimento de produtos para oferecer preços mais competitivos e bater de frente com empresas internacionais.
O estudo revela ainda que o segmento de software é formado por 94% de microempresas. Por isso, o setor de Tecnologia da Informação, que compreende empresas de software, é líder em fusões e aquisições há quatro anos, segundo a KPMG.
Outro problema: a prestação de serviços aposta em um modelo que depende da mão de obra para crescer. Isso, num setor que só no ano passado teve um déficit de 100 mil profissionais, de acordo com levantamento compilado pela Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (BRASSCOM).
Até 2020, mercado vai triplicar
“Estamos criando uma improdutividade em um setor de alta competência estratégica, que permeia 100% dos outros setores”, diz Schimitt. Mas, mesmo com todos os entraves, a ABES projeta que o Brasil triplicará o mercado interno de software até 2020, atingindo um faturamento de US$ 60 bi. O Brasil estará, então, entre o 6º e o 8º no ranking mundial.
A projeção de crescimento tem consonância com os planos de desenvolvimento em áreas estratégicas como petróleo e gás, etanol e outros segmentos em que o país está fazendo investimentos significativos. É aí que entra o Programa a ser lançado, que estará concatenado justamente com essas áreas, procurando manter o foco e criando a sinergia necessária para que os esforços que o país fizer daqui para a frente tragam resultados de forma mais rápida e também mais consistente e duradoura.