Projeto das Nações Unidas pretende fortalecer identidade indígena

Crianças e adolescentes de comunidades Kaiowá Guarani no Brasil e Paraguai participam de oficinas que ajudam a conhecer a própria história. A ação foi concebida e realizada pelo projeto “Olhares Cruzados”, desenvolvido pela OSCIP (organização da sociedade civil de interesse público) 

 

 

Projeto das Nações Unidas pretende fortalecer identidade indígena

 

do PNUD

A ação foi concebida e realizada pelo projeto “Olhares Cruzados”, desenvolvido pela OSCIP (organização da sociedade civil de interesse público) Imagem da Vida, com financiamento e execução conjunta do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e apoio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

“Ao contrário dos outros projetos cujo intercâmbio realizou-se entre crianças de países diferentes, neste o foco são quatro aldeias de uma mesma região”, explica Dirce Carrion, coordenadora do projeto. “A situação dos povos guarani na América do Sul, e especialmente no Brasil, é tremendamente frágil – há problemas de alcoolismo, uso de drogas, suicídios. Com essa iniciativa, as crianças passam a ter como referência os mais velhos, resgatando valores culturais que já se perderam”, destaca Dirce.

As atividades realizadas com as crianças servem ainda para trabalhar e incentivar noções de pertencimento e territorialidade. Outro importante aspecto deste trabalho é o de permitir às comunidades meios de registrar e difundir diversos aspectos de suas realidades para o restante das sociedades brasileira e paraguaia. “Desta maneira, as comunidades se fazem conhecer entre si e para fora, conquistando mais espaço nas sociedades democráticas em que se encontram, fazendo-se sujeitos ativos pela reivindicação de seus direitos humanos já reconhecidos pela Constituição”, completa a coordenadora.

A coordenadora técnica do PNUD para o Programa Conjunto Segurança Alimentar e Nutricional de Mulheres e Crianças Indígenas no Brasil, Renata Oliveira Costa, reforça a importância desse tipo de atividade entre as comunidades indígenas. “As demandas dos povos Guaranis do Mato Grosso do Sul ao Programa Conjunto não somente estão vinculadas à segurança alimentar e nutricional, mas também ao preconceito e violência perpetrado pela sociedade às comunidades indígenas deste estado”, explica.

“Dessa forma, o projeto Olhares Cruzados ajuda a dar visibilidade às questões Guarani da região e elevar a autoestima da população, a partir de atividades lúdicas, do intercâmbio entre comunidades e da produção de livro e vídeo-documentário que serão divulgados nacional e internacionalmente. O projeto trabalha com a perspectiva do olhar da criança sobre sua situação atual e foca na segurança alimentar e nutricional no passado, no presente e naquilo que desejam para o futuro, fazendo com que as experiências positivas de produção de alimentos e regeneração ambiental sejam trocadas entre as quatro comunidades trabalhadas”, completa Renata.

As três aldeias localizadas em território brasileiro – Panambizinho, Kurusu Amba e Teyi’Kue – já receberam as oficinas. Em maio, será a vez da comunidade Reko Pave, no Paraguai. Depois de realizadas as oficinas, os realizadores do projeto voltam às comunidades para, com a participação das crianças, editar o material fotográfico que irá compor um livro.

Identidade Guarani

Os povos guarani formam um dos maiores grupos da América do Sul e um dos mais importantes das Américas. Atualmente, existem os seguintes grupos de língua guarani: os Chiriguanos, ou Guarani, na Bolívia (60 mil); Kaiowá, ou Pa? Tavyterã (40 mil), Chiripa, Nhandeva ou Avá Guarani (30 mil) e Mbya (30 mil), no Paraguai, Argentina, Uruguai e no Brasil. Em nosso país, os grupos guarani estão distribuídos, majoritariamente, pelas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste.

Quando os primeiros europeus chegaram à América do Sul, os grupos de língua guarani, com variados nomes, geralmente diferentes das denominações atuais, ocupavam de norte a sul do continente. Para essa população, a yvy (terra) possui valor sagrado, sendo a essência da identidade e da história de cada aldeia. Com a colonização e a expansão do modo de vida dos brancos, os povos indígenas foram perdendo espaço. Hoje, os grupos tentam recuperar espaços que denominam tekoha, os lugares onde pode se assentar devidamente o modo de vida ancestral, nhande reko.

O significado da palavra “guarani” originalmente foi associado à guerra. A unidade do povo guarani, e entre os indígenas da América do Sul, é fundamental para continuar lutando pelos seus direitos e ganhar essas batalhas. A palavra Kaiowá significa algo como “gente da floresta”. Os Avá Kaiowá também se autodenominam Pa? Tavyterã, “habitantes do centro do mundo”, em referência ao fato de que, segundo suas histórias, foi em seu território que Nhanderuvusu criou a terra, a partir do cruzamento de duas varas originárias.

Olhares Cruzados

O projeto Olhares Cruzados foi realizado em nove outros países além do Brasil: Angola, Moçambique, Senegal, Haiti, Congo, Mali, Guiné Bissau, Cabo Verde e Bolívia; e em dez estados brasileiros: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Maranhão, Pernambuco, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Piauí, Pará e Amazonas. Desde seu início, em 2004, o projeto já possibilitou o conhecimento recíproco entre 1,5 mil crianças brasileiras de comunidades quilombolas e indígenas com outras latino-americanas, africanas e de países fruto da diáspora africana.

Os registros são sempre publicados em livros, que são depois distribuídos nas comunidades e em escolas, bibliotecas e centros de cultura. São realizadas exposições, documentários em vídeo e livros que são distribuídos nestas comunidades, em escolas e bibliotecas no Brasil e no exterior. Já são nove livros publicados e um em fase de edição.

Aldeias participantes

 

Panambizinho: Localiza-se em Dourados (MS) e possui uma área de 1.208 hectares, onde vivem cerca de 450 pessoas. A área foi declarada de ocupação tradicional e posse permanente dos índios em 1995, mas só em 2004 foi homologada.

Kurusu Ambá: Localiza-se no município de Coronel Sapucaia (MS) e possui 2,2 mil hectares de área, na qual vivem 70 famílias, totalizando cerca de 200 pessoas.

Tey Kue: Localiza-se no município de Caarapó (MS) e possui 3594 hectares de área, onde vivem cerca de 5,2 mil pessoas.

Reko Pav?: Localiza-se no Paraguai, no município de Capitán Bado. Nela vivem 80 famílias, cerca de 400 pessoas que ocupam uma área de 508 hectares.

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