Violência política

Propagação do ódio mata mais um petista, avaliam senadores

Depois de assassinar apoiador de Lula com várias facadas, bolsonarista tentou decapitar vítima; senadores cobram um basta à violência
Propagação do ódio mata mais um petista, avaliam senadores

Foto: Allan White/Fotos Públicas

Uma discussão política que começou na noite de 7 de setembro terminou com a morte de Benedito Cardoso dos Santos, de 42 anos, apoiador do ex-presidente Lula. O assassino confesso é o bolsonarista Rafael Silva de Oliveira, de 24 anos. Os dois eram colegas de trabalho numa agrovila do município de Confresa, em Mato Grosso.

Rafael, que deu 15 facadas em Benedito e tentou decapitá-lo, ainda teria filmado o corpo da vítima. Ele está preso preventivamente. No início, ele negou o crime, mas foi denunciado por sua chefe, que não acreditou na história contada e chamou a polícia.

O crime acontece dois meses e um dia após o assassinato, a tiros, de outro petista, o guarda municipal Marcelo Arruda, por um também bolsonarista, o agente penitenciário Jorge José Guaranho, que invadiu a festa de aniversário de Marcelo, que completava 50 anos, em Foz do Iguaçu (PR).

Horas antes da discussão política em Mato Grosso ter enveredado para a violência, o candidato do assassino defendia, sobre um palanque montado no Rio de Janeiro, que “esse tipo de gente tem que ser extirpada da vida pública”, referindo-se a pessoas situadas em campo ideológico diferente do seu.

A escalada da violência política, feita de assassinatos, mas também de agressões e ameaças, preocupa e mobiliza a bancada do PT no Senado. Jean Paul Prates (RN), líder da Minoria no Senado, avaliou o que pode estar na raiz desses crimes, um cenário que ele classifica como “absurdo”.

“Só as urnas podem conter o ódio que contamina alguns brasileiros neste momento. Essa violência tem raízes no discurso de ódio disseminado todos os dias nos últimos quatro anos pelo grupo que quer continuar nessa pregação por mais um mandato”, analisou o senador.

O colega Jaques Wagner (BA) se solidarizou com a família e os amigos de mais uma vítima da violência e da intolerância e acentuou que são situações inaceitáveis.

“Há cerca de dois meses, presenciamos um episódio semelhante que vitimou o companheiro Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu. Não podemos aceitar que mais casos assim aconteçam. Diálogo, respeito e convívio harmônico das diferenças são princípios inegociáveis em qualquer Democracia”, pregou o senador.

Providências
O senador Humberto Costa (PE) está certo de que esses episódios não acontecem por acaso: “é resultado do discurso de ódio que tem sido propagado por Bolsonaro e da forma violenta como eles tentam travar o debate sobre as diferenças políticas que existem nessa campanha. O Brasil precisa de paz”. Como presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), Humberto Costa informou que vai cobrar as autoridades estaduais de Mato Grosso para que o episódio seja apurado e o responsável, punido.

E o senador Fabiano Contarato (ES), ao também manifestar “solidariedade às famílias que sofrem esta dor terrível”, disse que o país não pode aceitar em silêncio esses crimes.

“É pavoroso o que o Brasil vive sob o tacão de morte do fanatismo criminoso do bolsonarismo. A violência política campeia impune no país, com a conivência e o silêncio de instituições”, denunciou.

Após o assassinato de Marcelo, em julho, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) criou um Grupo de Trabalho (GT) para produzir e indicar ao órgão a adoção de diretrizes de combate à violência política. O GT foi formado por representantes do TSE e de TREs de cinco estados. Já na ocasião, o TSE tinha recebido 13 denúncias, a maioria envolvendo agressões a parlamentares e jornalistas. O prazo para apresentação das conclusões do GT acabou exatamente nessa semana. Espera-se por alguma declaração desse e de outros órgãos.

Também à espera de pronunciamentos e ações, o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), questiona e cobra: “será que vão ser necessárias mais mortes para o Brasil entender de vez que o bolsonarismo representa corrupção, ódio, violência? Quando não mata, agride com palavras que machucam a alma. O fascismo de Bolsonaro já se espalhou como erva daninha. Aqui não mais, genocida!”

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