Se Bolsonaro imagina fazer caixa com a privatização da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), pode se preparar para uma amarga decisão. É o que avisa o presidente dos Correios, Juarez Aparecido de Paula Cunha.
“Os Correios dependem apenas do próprio resultado. A empresa não tem orçamento do governo”, explicou ele, em entrevista ao jornal Valor. Uma parte das operações da ECT é lucrativa — o setor de logística e entrega de produtos comprados pela internet — e, consequentemente, teria potencial para atrair um comprador privado.
A outra parte—distribuição de correspondência, serviços de comunicação prestados a pequenas localidades, por exemplo — só dá lucro em 7% dos municípios.
Um lado compensa o outro
É a operação lucrativa, de um lado, que financia o setor deficitário, explica Cunha. “É um subsídio cruzado. Um lado compensa o outro”. Ele alerta que “privatizar a ECT não será tarefa fácil e poderá acarretar problemas futuros à União”.
Todos os 5.570 municípios do País contam com pelo menos uma agência dos Correios. Segundo o presidente da ECT, apenas as operações em 341 dessas cidades são lucrativas. Nos 93% dos demais municípios, o serviço dá prejuízo.
Risco de criar despesa
Ainda assim, por prestarem serviços essenciais — comunicações, correspondente bancário, entre outros — as agências deficitárias não podem ser fechadas.
Isso torna inviável privatizar essa parte dos Correios. “Empresa nenhuma vai querer arcar”. Sem a parte lucrativa – a parte privatizável—esse segmento teria que ser subsidiado pelo governo. Ou seja, em vez de “fazer caixa”, Bolsonaro estaria criando mais uma despesa para o Tesouro.
Exemplo argentino
Se privatizar os Correios, o Brasil de Bolsonaro corre o risco de repetir a Argentina, que privatizou seu serviço postal no governo do neoliberal Carlos Menem e enfrentou problemas muito parecidos com os que prevê o presidente da ECT, caso o Brasil —com um território quase quatro vezes maior—embarque nessa canoa.
O serviço postal argentino precisou ser reestatizado, para voltar a funcionar.
Sem diálogo
Na última quinta-feira (25), Bolsonaro anunciou que os estudos para a privatização dos Correios “já estão bem adiantados”. O presidente dos Correios disse ao jornal Valor que ficou sabendo desses estudos pela imprensa:
“Não houve até o momento conversa nesse sentido. O diálogo está sempre aberto com o governo, pois somos uma empresa pública federal”.