Na cruzada pela punição dos responsáveis pelos atos terroristas de 8 de janeiro, a busca pelos financiadores é a que mais tem gerado expectativa. Nesta segunda-feira (16), a Polícia Federal deu mais deflagrou operação para cumprir mandados de prisão, busca e apreensão, depois de uma semana de muita investigação.
“Os atos terroristas só foram possíveis graças ao financiamento desses crimes”, resumiu o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA). “Quem participou, direta ou indiretamente deles, precisa pagar. Com democracia não tem negociação. Os que atentam contra ela pagarão duramente na forma da lei”, afirmou.
A operação aconteceu em Campos dos Goytacazes (RJ) e mirou financiadores dos atos terroristas e dos bloqueios de rodovias federais registrados após o segundo turno das eleições. Um suspeito foi preso e outros dois estão foragidos. Foram apreendidos ainda celulares, computadores e documentos.
O senador Humberto Costa (PT-PE) divulgou nas redes sociais alerta sobre a operação da PF. Para ele, a investigação deve responsabilizar a todos. “Não existem mais dúvidas sobre a que serve o bolsonarismo. Quem ainda defende Bolsonaro é criminoso ou, no mínimo, conivente com o golpismo, o vandalismo e o terrorismo”, afirmou. “O bolsonarismo deu voz a criminosos e os chamou de ‘cidadãos de bem’”, exemplificou.
Os suspeitos de participação são investigados pelos crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e incitação das Forças Armadas contra os poderes institucionais.
Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), o ato terrorista não foi espontâneo. “Os criminosos foram treinados e vieram a Brasília com a intenção de fazer o que fizeram. Sabiam muito bem como dispersar a polícia e o gás lacrimogêneo com a mangueira do extintor de incêndio. Estamos falando de um bem maior, da democracia do nosso país, de um ato de extrema, em que precisa ser apuradas as responsabilidades políticas e criminais de quem se envolveu, coordenou e financiou”, defendeu.
A PF segue o rastro do dinheiro, que não foi pouco: dezenas de ônibus de turismo para transportar os terroristas a Brasília, alugados ou cedidos, dezenas de barracas montadas em frente ao QG do Exército, a poucos quilômetros da Praça dos Três Poderes, fornecimento permanente de toneladas de carnes e outros alimentos oferecidos sem custo aos acampados — uma autêntica praça de alimentação gratuita para os golpistas —, palco permanente com sistema de som utilizado diariamente para divulgação de fakenews e palavras de ordem antidemocráticas, tenda exclusiva para criação de conteúdo golpista, com computadores e conexão liberados.
Além disso, parte dos 1.418 presos por participação direta ou indireta nos atos terroristas admitiu em depoimento à Polícia Federal que recebia uma “ajuda de custo” diária e apontou, de forma vaga, o “agro” como financiador das viagens e do acampamento.
Neste domingo (15), o programa Fantástico, da TV Globo, veiculou uma série de reportagens sobre os ataques de 8 de janeiro, uma deles específica sobre empresários apontados como financiadores. Também foram divulgadas imagens do circuito interno do Palácio do Planalto mostrando a ação dos vândalos na destruição de tudo o que encontravam pela frente, como a tela de Di Cavalcanti e o relógio do século XVII, e também de câmeras do uniforme dos policiais legislativos do Senado durante o enfrentamento aos terroristas.
As imagens deixaram os senadores ainda mais indignados. “As imagens que o Fantástico está mostrando dos golpistas destruindo o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional no último domingo causam muita indignação. São revoltantes e estarrecedoras. Todos esses golpistas merecem punição severa. Parabéns aos que protegeram o patrimônio do Brasil”, registrou Humberto Costa.
Paulo Rocha chamou a atenção para o terrorista que jogou ao chão o relógio, um presente da Corte francesa trazida ao Brasil por Dom João VI em 1808. “O Programa Fantástico mostrou o homem que destruiu um relógio dado de presente a Dom João VI, em 1808, durante os ataques terroristas contra o Congresso Nacional, o STF e o Palácio do Planalto. O terrorismo no nosso país tem nome e sobrenome!”, denunciou.