Internacional

PT no Senado condena aposta na guerra e apela por diálogo mundial

Senadores publicaram mensagens com apelos à solução pacífica do conflito e à ação mediadora de líderes e organizações multilaterais
PT no Senado condena aposta na guerra e apela por diálogo mundial

O leste da Ucrânia está conflagrado desde as 22h30 (hora de Brasília) desta quarta-feira (23). Tropas russas entraram na região de Dombass em apoio às auto-proclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, que, por sua vez, denunciaram agressões do governo ucraniano. A Rússia avançou com mísseis para destruir baterias antiaéreas ucranianas, e bombardeou pistas de pouso, base naval e centros de controle. Em pronunciamento 45 minutos depois de iniciadas as explosões, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que se tratava de operação militar especial para proteger aquelas repúblicas. Disse ainda que o objetivo é “desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia”. Em coro, o Ocidente condenou a ofensiva russa, anunciou mais sanções econômicas e ameaça com ações armadas, algo que os Estados Unidos já vêm fazendo nas últimas semanas com o aporte de equipamentos de guerra e munições desembarcados na Ucrânia.

No Brasil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a opção pelo conflito armado e lembrou que seus efeitos são sempre danosos à população. “É lamentável que na segunda década do século 21 nós tenhamos países tentando resolver suas divergências territoriais, políticas, comerciais através de bombas, de tiros, de ataques, quando deviam ser resolvidas numa mesa de negociação. Acho que ninguém pode concordar com guerra, ninguém pode concordar com ataques militares de um país sobre outro. É importante que essas pessoas aprendam que a guerra não leva a nada, a não ser à destruição, a mais desemprego, a mais desespero, a mais fome”.

Lula voltou a defender mudanças na composição do Conselho de Segurança da ONU, ao lembrar que a geopolítica do mundo sofreu mudanças. Ainda segundo Lula, o problema na Ucrânia poderia ter sido resolvido antes, “se a ONU tivesse mais representatividade, mais força […]Não adianta o secretário-geral da ONU ir para a televisão lamentar. Era importante que a ONU tivesse agido sistematicamente, diuturnamente, para evitar que acontecesse essa guerra.”

Os senadores do PT se manifestaram pelas redes sociais. O líder da bancada, Paulo Rocha (PA), ressaltou trecho da nota do Diretório Nacional do partido que pedia por uma “solução pacífica para Rússia e Ucrânia”. Destacou ele: “A resolução de conflitos de interesses na política internacional deve ser buscada sempre por meio do diálogo e não da força, seja militar, econômica ou de qualquer outra forma.”

Na nota assinada pela presidente nacional, deputada Gleisi Hoffman, e pelo Secretário de Relações Internacionais, Romênio Pereira, o PT lembrou que “sempre defendeu que as relações internacionais sejam pautadas pelo respeito à autodeterminação dos povos e no diálogo democrático entre países, visando a construção da paz, progresso e justiça social para todos”.

O senador Jaques Wagner (PT-BA) apelou ao diálogo: “É deplorável que a diplomacia perca para a beligerância. A ninguém interessam as guerras, que só resultam em destruição, fome e mortes. Nunca é demais lembrar: toda guerra se sabe como começa e não se sabe como termina”. Na mesma linha, Humberto Costa (PT-PE) advertiu que “os danos de uma guerra são irreversíveis e o sofrimento perdurará enquanto disputas forem travadas na base de bombardeios. Que a solução desse conflito rume imediatamente para a paz, para que a conta dessa insanidade não seja paga com vidas humanas”.

Já Paulo Paim (PT-RS) lembrou que “toda guerra é uma tragédia. Ela dilacera os direitos humanos e leva a catástrofes humanitárias. A história nos mostra: milhões de mortes, famílias inteiras aniquiladas, fome, miséria, refugiados. Nada, absolutamente nada, é mais importante do que a vida e a paz mundial.”

O silêncio de Bolsonaro, que até a tarde desta quinta não havia se pronunciado sobre o conflito, não escapou ao senador Rogério Carvalho (PT-SE). “Que falta nos faz um estadista de projeção e respeito mundial como Lula neste momento histórico, frente ao silêncio ensurdecedor de Bolsonaro. A paz deve ser o caminho a ser construído pela humanidade, não a guerra”.

Histórico

São múltiplas e complexas as razões para esse conflito, que tem componentes econômicos, territoriais, culturais e históricos. Nesse quebra-cabeça entram peças como o crescimento do comércio do gás natural russo na Europa. Também entra no jogo a ofensiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), ao atrair a Ucrânia para integrar um time que tem como capitão, treinador e cartola os Estados Unidos. O movimento é rechaçado pela Rússia, que o vê como provocação. Também não se pode descartar no tabuleiro a crise local que se arrasta há nove anos, que a Rússia classifica como golpe no país vizinho, incentivado pelos Estados Unidos.

Entre 2013 e 2014, o presidente ucraniano, aliado dos russos, foi derrubado e substituído por um governo alinhado ao Ocidente e que chegou a abolir o idioma russo nas escolas. O episódio alimentou a divisão interna no país e o desejo separatista de algumas regiões. Dois anos depois, a Crimeia, ao sul, foi anexada pela Rússia após um referendo que jamais foi reconhecido pela comunidade internacional. Aqui, a acusação de golpe veio do Ocidente. Paralelamente a isso, as cidades do leste, Donetsk e Lugansk, em conflito desde 2014 com o governo central da Ucrânia, proclamaram-se independentes. As duas foram reconhecidas como repúblicas pela Rússia, dias atrás, e viraram estopim para o conflito que se iniciou nesta quarta.

Independentemente da motivação, a invasão russa no leste da Ucrânia foi criticada pelo senador Jean Paul Prates (PT-RN), para quem “as discussões legítimas sobre autodeterminação das províncias de Donetsk e Lugansk não podem ser atropeladas pelo recurso à força, e tensões mundiais devem ser tratadas nos fóruns internacionais adequados, ou com a ajuda de países mediadores, comprometidos com a diplomacia”. Avaliando que nesse episódio sangrento ninguém tem razão, o senador também criticou a ação dos Estados Unidos, via OTAN. “A atuação da OTAN no Leste, buscando fincar um contraponto à influência geopolítica da China e da Rússia é um exemplo de prática irresponsável, que fomenta insegurança e desconfiança, semeando rivalidades em uma profecia auto-realizada”, completou.

Sanções

A Rússia acumula, hoje, reserva cambial recorde em sua história, com mais de U$ 600 bilhões – menos de 15% em dólar -, e aposta nesse fôlego para resistir a sanções que começaram a ser anunciadas nos últimos dias. O governo alemão suspendeu a aprovação de gasoduto projetado pela estatal russa Gazprom para duplicar a quantidade de gás natural vendido à Alemanha. A Comissão Europeia decidiu proibir o trânsito de mercadorias russas, congelar bens, e não mais negociar títulos do governo da Rússia, entre outras restrições econômicas. Nesta quinta, o presidente estadunidense, Joe Biden, anunciou outras cinco medidas, entre elas o bloqueio de cerca de U$ 1 trilhão em ativos de bancos russos.

O jogo de interesses que levou à agressão mútua na região leste da Ucrânia, e que ameaça se espalhar pelo país, com consequências imprevisíveis, foi lembrado pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES):  “Mais uma vez, brigas geopolíticas e de interesses econômicos sacrificam a vida de inocentes. A solução pacífica de controvérsias, a autodeterminação dos povos e a não intervenção são pilares da ordem jurídica internacional. A invasão da Ucrânia coloca em cheque a paz global e expõe o grave risco de emergentes projetos autoritários. Minha solidariedade ao povo ucraniano! Os líderes globais precisam agir para reverter esta tragédia”.

Por falar em líderes, Jean Paul Prates, ao cobrar posição do governo brasileiro, deixou claro que o país vive um vácuo diplomático: “O Brasil deve se unir à sociedade internacional condenando o ato, e exigindo, a partir do seu assento de membro do Conselho de Segurança, que a paz regional seja restabelecida. Aliás, historicamente o Brasil desempenhou essa função com maestria, antes da nossa prática diplomática deste governo nos apresentar como párias orgulhosos dessa condição, mais ocupados em semear intrigas do que construir as pontes necessárias para a paz”.

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