A onda de solidariedade recebida pela deputada Natália Bonavides (PT-RN) – vítima do ódio bolsonarista externado pelo apresentador Ratinho – contou não apenas com o apoio da bancada do PT no Senado como também resultou em pedido para que o Ministério Público apure a ocorrência de crimes de ódio, incitação à violência e ameaça a parlamentar.
“Isso não é opinião. É crime e você vai pagar”, disparou o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), autor de moção de solidariedade a Natália. “É necessário denunciar cada vez mais o que estamos vivendo no Brasil: uma deputada federal ameaçada por uma pessoa que diz ser comunicador. Jornalista este senhor não é. Só resta a Justiça mandá-lo para trás das grades”, afirmou.
Nossa total solidariedade à companheira @natbonavides, vítima do machismo e incitação à violência cometidas pelo apresentador Ratinho. Isso não é opinião, meu caro. É crime e você vai pagar. https://t.co/IIJnZi2xzX
— Paulo Rocha (@senadorpaulor) December 15, 2021
Os ataques foram feitos em programa de rádio ao vivo e transmitido em rede nacional pela Rádio Massa FM, uma concessão pública controlada por Ratinho, conhecido por conduzir programas apelativos, carregados de preconceito, grosseria e ataques a adversários.
Nesta quarta-feira (15), ao criticar projeto de lei da deputada, afirmou: “Natália, você não tem o que fazer? Vá lavar roupa, costura a calça do teu marido, a cueca dele. Isso é uma imbecilidade. A gente tinha que eliminar esses loucos. Não dá para pegar uma metralhadora?” Ele se referia à proposta (PL 4004/2021) que altera o termo “vos declaro marido e mulher” por “firmado o casamento” em cerimônias de casamento civil, atendendo a pleito de casais LGTB.
Natália Bonavides reagiu com veemência aos ataques, denunciou o vídeo nas redes sociais e recebeu uma avalanche de apoios e mensagens de solidariedade. “Ele sugeriu que eu fosse metralhada em programa visto por milhares de pessoas. Incitar homicídio é crime! Ele coloca a minha vida e minha integridade física em risco. Essas ameaças e ataques covardes não ficarão impunes. O apresentador utilizou uma concessão pública para cometer crime. Vamos acioná-lo judicialmente e criminalmente”, afirmou a deputada, que também é advogada.
O senador Humberto Costa (PT-PE) foi além e, após repudiar as agressões, ingressou com pedido de investigação dos crimes no Ministério Público Federal de São Paulo, que tem à frente o procurador Márcio Schusterschitz da Silva Araújo. O mesmo pedido foi endereçado a Carlos Alberto Vilhena, chefe da Procuradoria Federal dos Direitos dos Cidadãos.
“Estou oficiando para que apurem o cometimento de crime por parte de Ratinho contra a deputada. Milhares de mulheres são agredidas dessa forma todos os dias. Não podemos aceitar esse tipo de comportamento, principalmente de alguém que se diz comunicador. Repudio totalmente essa agressão”, afirmou
O pedido aponta que, além de incitar o ódio “em plena transmissão a partir de concessão pública”, Ratinho promove uma “exortação ao homicídio, ao linchamento público” de uma parlamentar federal apenas por divergir da sua opinião. “A discordância é legítima e o debate de ideias é base da nossa democracia. No entanto, nada justifica a agressão física e moral; nada justifica a violência política”, afirma a ação.
Para o líder da Minoria, senador Jean Paul Prates (PT-RN), o agressor misógino e preconceituoso demonstra “que não está capacitado para controlar uma concessão estatal” e anunciou que irá propor ao Congresso que reconsidere as concessões.
Minha solidariedade a companheira @natbonavides! O apresentador Ratinho já tinha se notabilizado por grosserias e ataques à democracia, mas agora ultrapassou todos os limites.
— Jean Paul Prates (@jeanpaulprates) December 16, 2021
“Ratinho incita a violência e ofende a democracia quando fala em metralhar uma deputada eleita. Ataca todas as mulheres quando insinua que o lugar de uma delas não é no Congresso Nacional, mas num tanque de lavar roupas. É hora de um basta. O Brasil já não suporta essa violência. Lugar de mulher é onde ela quiser e o Congresso Nacional é um espaço delas. Vamos mover todos os recursos para que as concessões de TV de posse desse apresentador possam ser reconsideradas pelo Congresso”, disse Jean Paul.
Já o senador Rogério Carvalho (PT-SE) classificou o episódio como repugnante.
“A violência do Ratinho mostra o desprezo que este comunicador tem pelas mulheres. Inadmissível! A trajetória dele também revela o quão estreita é a empatia que tem pelos mais necessitados. Repugnante. Mal sabia ele que o ataque que fez tornaria a deputada ainda mais forte!”, afirmou.
A violência do Ratinho mostra o desprezo que este comunicador tem pelas mulheres.Inadmissível!A trajetória dele tb revela o quão estreita é a empatia que tem pelos + necessitados.Repugnante. Minha querida @natbonavides ,mal sabia ele que o ataque que fez a tornaria ainda + forte! pic.twitter.com/mTgxCAH3aK
— Rogério Carvalho 🇧🇷 ⭐️ (@SenadorRogerio) December 16, 2021
“Ratinho extrapolou qualquer limite do direito de opinião e cometeu crime. Ele colocou a vida e a integridade física da deputada em risco. Em uma sociedade democrática e em pleno século 21, não se podem naturalizar ameaças, violência e ataques misóginos. Aberrações como a que foram cometidas, alcançando milhares de pessoas, devem ser punidas com o rigor da lei. O ódio não irá vencer”, afirmou em nota o líder do PT na Câmara, deputado Elvino Bohn Gass.
Também se manifestou a Secretaria Nacional de Mulheres do PT, que publicou nota de solidariedade e destacou que, “quando uma mulher assume espaços de poder, ela enfrenta ainda mais o peso do machismo da sociedade”.
“Não deve haver mais espaço na sociedade para silenciamento, opressão e intimidação de mulheres em espaço algum, sobretudo no espaço da política e da democracia. A covardia e a ameaça não devem ser o motor que guia os debates fundamentais para o país, ainda mais em um espaço de concessão pública”, diz a nota.