Repúdio ao golpismo

PT pede para PGR investigar ameaças de Braga Netto

Senador Humberto Costa enviou ofício solicitando que Procuradoria Geral da República investigue ameaças às eleições de 2022 que, segundo o Estadão, partiram do ministro da Defesa. Senadores e outras lideranças do Partido dos Trabalhares repudiaram episódio
PT pede para PGR investigar ameaças de Braga Netto

Foto: Alessandro Dantas

O senador Humberto Costa (PT-PE) enviou nesta quinta-feira (22) ofício solicitando que o procurador-geral da República, Augusto Aras, investigue ameaças às eleições de 2022 feitas pelo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto. Segundo matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, Braga Netto mandou um interlocutor dizer ao presidente da Câmara, Arthur Lira, que, sem voto impresso, não haverá eleições no país no ano que vem.

“Urge a real e verdadeira apuração dos fatos e subsequente punição das personagens ameaçadoras que ousam derrubar o Estado Democrático e de Direito, coagindo a Democracia Brasileira por mensagens de quarteladas, contra as Eleições Livres, solapando a Democracia aqui urdida por duras batalhas e que tantas vidas custaram e sofrimento trouxeram ao povo brasileiro”, afirma, no ofício, o senador.

Para Humberto Costa, a ameaça narrada pelo jornal é “completamente inaceitável”. “Em primeiro lugar, não é papel das Forças Armadas discutirem temas políticos. Em segundo lugar, isso é uma ameaça velada de golpe militar. Esse debate só serve de pretexto para uma derrota de Bolsonaro”, afirmou o parlamentar, lembrando que Bolsonaro já fez, publicamente, ameaças no mesmo sentido. “Bolsonaro vem preparando o terreno para um golpe. É fundamental que todas as forças democráticas do país manifestem o seu total repúdio a essas ameaças golpistas. E a melhor maneira de respondermos a essas tentativas é por meio da resistência e mobilização popular. É indo às ruas”, conclamou.

“A denúncia é gravíssima e deve ser apurada. Ministro da Defesa mergulhado na pauta ideológica do bolsonarismo e flertando com a inconstitucionalidade. A ameaça de golpe ocorre após denúncias de militares na CPI. Braga Netto não usou a palavra “mentira” em sua nota oficial que tenta negar o episódio”, alerta o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA).

“Ainda que não seja verdadeira, a atual notícia encontra eco em declarações e notas oficiais recentes de membros das Forças Armadas que não são admissíveis do ponto de vista da democracia brasileira e da Constituição. Não aceitaremos qualquer tipo de ameaça ou insinuações”, reagiu Paulo Rocha.

Para o líder da Minoria, senador Jean Paul Prates (PT-RN), numa democracia não cabem ameaças ao Congresso Nacional. “Fechar o STF, impedir as eleições e calar a voz do povo não são medidas cabíveis nos tempos que vivemos. É urgente que o ministro seja convocado para esclarecer a sua fala”, disse.

Tirania à sombra da lei

Por sua vez, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) considerou que não há espaço para golpistas na sociedade contemporânea e na democracia. “Defender a Constituição é um dos pilares da democracia. Braga Netto expõe as Forças Armadas quando ameaça as eleições. A tirania cruel exercida à sombra da lei precisa ser combatida. O tempo dirá o quanto o nosso sistema democrático está maduro e capaz de responder a rompantes autoritários”, afirmou.

O senador Jaques Wagner (PT-BA) também criticou a postura do ministro: “Seria bom o ministro da Defesa voltar para a escola de formação. Sugiro que ele leia a carta aberta assinada por dez ex-secretários de Defesa dos EUA, reafirmando o compromisso com a Constituição, com as eleições e não com os rompantes golpistas do então presidente Donald Trump.”

Outras lideranças do Partido dos Trabalhadores também se manifestaram com veemência em defesa da democracia e contra ameaças vindas do comando militar. “O ministro da Defesa e o presidente da Câmara têm de explicar essa ameaça à democracia. Grave essa militância política do comando das Forças Armadas. Ao invés de defender o país, ameaçam?!”, afirmou a presidenta nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).

Já o líder do PT na Câmara, deputado Bohn Gass (RS), disse que o ministro general deve se recolher aos deveres constitucionais. “Como é? O general Braga Netto quer condicionar a eleição ao voto impresso? Pois, que se recolha a seus deveres constitucionais, explique o nepotismo dos militares e a corrupção do governo. Vamos convocá-lo.Terá de dar explicações ao Congresso. Sua fala atenta contra a democracia.”

Histórico

Caso o teor da reportagem do Estadão se confirme, este não terá sido o primeiro arroubo autoritário de Braga Netto. É preciso lembrar que ele já foi chamado pelo Congresso para explicar manifestações de cunho antidemocrático. No último dia 13, a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara (CFFC) aprovou requerimento de convite para que o ministro explique a nota oficial que ele e os três comandantes das Forças Armadas emitiram contra o trabalho da CPI da Covid.

Divulgado na semana anterior ao requerimento, o texto afirmava, em tom ameaçador, que as Forças Armadas não aceitariam “ataque leviano” às instituições militares, simplesmente porque o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), lamentou o envolvimento de militares nos escândalos de corrupção que a comissão parlamentar de inquérito têm apurado.

Para o grupo Prerrogativas, que reúne juristas, advogados, professores de Direito e ex-membros do Ministério Público, uma ameaça desse tipo feita pelo ministro da Defesa é inconcebível. Em nota encaminhada à imprensa, o grupo afirmou: “É inconcebível que o ministro da Defesa cometa a exorbitância delirante de coagir o presidente da Câmara dos Deputados a admitir e implementar uma exótica alteração no sistema de votação, sob pena de acenar com o cancelamento das eleições de 2022. É preciso que os representantes das Forças Armadas, de uma vez por todas, restrinjam-se às suas atribuições específicas, abdicando do desempenho de performances perturbadoras no palco dos embates políticos, que de forma alguma lhes dizem respeito”.

O ministro do STF, Gilmar Mendes, também pediu respeito às regras democráticas. “Os representantes das Forças Armadas devem respeitar os meios institucionais do debate sobre a urna eletrônica. Política é feita com argumentos, contraposição de ideias e, sobretudo, respeito à Constituição. Na nossa democracia, não há espaço para coações autoritárias armadas”, escreveu no Twitter.

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(Com PT no Senado e PT na Câmara)

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