Em artigo neste mesmo espaço, o senador Aécio Neves comemorou os 30 dias de sua derrota para a presidenta Dilma Rousseff na eleição. O senador do PSDB parece não ter se dado conta de que o pleito já passou nem de que ele foi derrotado. Mas teremos outras corridas, a começar por 2018, e ele pode se reapresentar com argumentos melhores.
Considero que apenas a ausência do senador dos debates diários sobre a economia e a política do país nos últimos quatro anos pode explicar o desacerto de alguns dos argumentos que ele apresenta.
A presidenta nunca afirmou na campanha ser contra ajuste fiscal. Aliás, quem acompanhou seu primeiro governo há de se lembrar do anúncio de um grande corte no Orçamento da União, de R$ 50 bilhões, em 2011. Muitos não acreditavam que isso seria possível. Não só foi possível, como mais R$ 50 bilhões foram contingenciados em 2012.
Foram exatamente essas medidas que permitiram ao governo continuar avançando com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e que deram base para as desonerações tributárias, principalmente da folha de pagamento, possibilitando manter empregos e o nível de renda da população brasileira a despeito da crise internacional. Não há, portanto, nenhuma contradição em se fazer ajuste fiscal agora.
A presidenta disse com clareza que é contra política de arrocho. Seu grande compromisso é com o emprego e a renda dos trabalhadores.
A gestão dos mecanismos macroeconômicos não passou por qualquer mudança radical após o pleito. O Banco Central aumentou a taxa de juros em 0,75 ponto percentual e a gasolina subiu 3% nas refinarias, o que praticamente não se refletiu no preço de venda nos postos.
O debate na campanha foi sobre arrocho nas contas públicas e a aplicação de taxas de juros elevadíssimas, como tivemos no governo FHC, com Arminio Fraga no Banco Central. O mesmo que defende um pouco mais de desemprego para resgatar a competitividade da economia. E o senador Aécio não conseguiu sustentar essa posição no debate.
Também não há contradição em nomear ministro da Fazenda um técnico que já participou do governo do PT, ajudou nas diretrizes da economia e das finanças no primeiro mandato do presidente Lula, implementando as bases para os programas sociais, geração de emprego e aumento de renda. O Bolsa Família começou quando Joaquim Levy ainda era secretário do Tesouro Nacional.
Depois de chamar de “estelionato eleitoral” as primeiras providências da presidenta Dilma para iniciar seu novo mandato, o senador Aécio busca justificar sua veemência nas manifestações que se seguiram à eleição. Vou considerar que o senador, ao falar várias vezes em democracia, é contrário às pregações em favor de golpe militar, que ocorreram em manifestações inconformadas com o resultado das urnas.
O ex-candidato debate as denúncias de corrupção da Petrobras, o que é correto, mas segue ignorando que as investigações apontam que os esquemas que estão sendo agora descobertos iniciaram-se ainda no governo Fernando Henrique.
Além disso, as mesmas empresas envolvidas são acusadas de cartel em obras e compras de equipamentos para o Metrô de São Paulo, Estado governado pelo PSDB há 20 anos. Acredito, como a presidenta Dilma, que as investigações levarão a profundas mudanças. E algumas até já ocorreram, como é o caso da Lei Anticorrupção, sancionada por ela.
A belíssima votação que o senador Aécio Neves teve na eleição deste ano o qualifica para liderar a oposição, mas a inapetência pode anular isso em poucos meses. Se considera que a presidenta está errando, que apresente alternativas sistemática e consistentemente, coisa que não vimos nos últimos anos. Não vai longe uma oposição que depende do que a mídia lhe apresenta para ter propostas para o país.
O governo vai trabalhar, procurar corrigir erros e potencializar acertos. Vamos apresentar mais propostas e soluções, em vez de enumerar adjetivos para taxar os adversários. Nossa meta é seguir melhorando a vida dos brasileiros, gerando mais empregos e aumentando a renda das famílias. Ganhar a eleição é consequência.
GLEISI HOFFMANN, 49, é senadora pelo PT-PR. Foi ministra da Casa Civil (2011-2014) e candidata ao governo do Estado do Paraná na eleição deste ano.
Artigo publicado originalmente no dia 05/06/2014 no jornal Folha de S. Paulo