Querem censurar Gleisi por falar que Senado não tem moral para julgar Dilma

Querem censurar Gleisi por falar que Senado não tem moral para julgar Dilma

Gleisi: “Não retiro uma palavra”A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) não vai retirar dos anais da sessão para ouvir um informante e uma testemunha de acusação contra Dilma que “o Senado não tem moral para julgar qualquer crime de responsabilidade contra a presidenta Dilma porque é uma mulher honesta e honrada”. Gleisi tinha feito essa declaração à tarde e repetiu à noite. Repetiu porque sua afirmativa mexeu com os brios da senadora Ana Amélia (PP-RS) que se esforça, se desdobra para mostrar um ar de vestal da moralidade.

 Gleisi Hoffmann disse que não retiraria nenhuma palavra. Senadores tucanos esbravejaram, porque não gostam da alcunha golpista. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, chamou atenção de Gleisi pedindo para que ela retirasse sua declaração.

 Negativo. Só faltava essa. A senadora Gleisi, que tem o direito de manifestar sobre qualquer assunto, seja como parlamentar, seja como juíza, apenas disse uma verdade que dói para os golpistas. “O Senado não tem moral para julgar Dilma”.

 Veja, por exemplo, a ficha corrida da senadora Ana Amélia: ela era funcionária fantasma do Senado Federal. Ganhava sem aparecer no trabalho. Na sua declaração de imposto de renda, quando disputou e perdeu as eleições para o governo do Rio Grande do Sul, “esqueceu” de declarar uma fazenda. Quanto ao cabide de emprego, divulgou uma nota na ocasião e mergulhou. Nem um pio a mais.

 Ana Amélia vive dizendo que Dilma cometeu crimes, mas não faz uma crítica sobre o seu partido, o PP, que está em quase todas delações premiadas. Diz que não participou de nada. Na comissão do impeachment, aceitou a tarefa de ser atiradora de pedras contra os defensores do golpe, sob orientação dos capos do golpe que sequer apareciam. Essa é Ana Amélia que vai votar contra Dilma. Os demais referidos pela senadora Gleisi Hoffmann, que não têm moral para julgar Dilma, podem ser descobertos numa simples pesquisa no google.

Exemplo: o senador Ricardo Ferraço, um neotucano que da noite para o dia passou a se portar como paladino da moralidade, tem uma história interessante de sua juventude no Espírito Santo. Basta pesquisar os jornais de Vitória. Recentemente, seu pai, Odorico Ferraço, teve seus bens bloqueados pela justiça por causa de denúncias de corrupção. Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que também esbravejou contra Gleisi e pediu para Lewandowski censurá-la, também tem uma ficha extensa. Já foi cassado quando governador da Paraíba.

 O STF, há um ano, o livrou de outro processo que ocorreu nas eleições estaduais. Numa gravação que até pouco tempo podia ter seu teor lido no site do STF, “Cassinho”, como é conhecido, falava de repasse de 200 cabelos de caixa dois para uma campanha. No linguajar do crime, 200 cabelos seria 200 mil reais.  Sabe-se lá por qual ou quais motivos esse processo parou no STF. Ninguém falou mais nada. Outro paladino da moralidade, o senador sem voto José Medeiros (PSD-MT), guarda rodoviário de profissão, por pouco não foi considerado ficha-suja. Se livrou no STF.

 Na comissão do impeachment soltou a pérola que coloca no rol dos atiradores de pedra de aluguel. Disse certo dia que respondeu a vários processos disciplinares quando era guarda rodoviário, para desqualificar a defesa de Dilma que queria ouvir testemunhas.

 

  Se querem censurar Gleisi Hoffmann, tolhendo-lhe o direito de dizer que ninguém no Senado tem moral para julgar Dilma, só falta os golpistas defenderem o fechamento do Senado, para o afastamento da presidenta legítima ser mais rápido – e suave, como sonhavam o consórcio dos derrotados nas urnas em 2014, como bem mostrou a senadora Fátima Bezerra (PT-RN).

 Marcello Antunes

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