Anunciado com entusiasmo pelos veículos da grande imprensa, nesta quinta-feira (27), o corte de um ponto percentual na taxa básica de juros da economia, a Selic, não deve alterar o sombrio quadro econômico, marcado pela recessão e o desemprego. “Na verdade, política monetária dificilmente tira um país da recessão”, lembra a professora de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Esther Dweck, assessora da Bancada do PT no Senado.
Quem teria o condão de sacudir a poeira da estagnação econômica, aponta ela, seria a política fiscal. “Mesmo que se chegasse a uma taxa de juros ainda mais baixa e isso se refletisse num custo menor do crédito — uma relação que não é automática —, se os empresários não têm a expectativa de aumento de vendas, eles não vão sair pegando emprestado para investir”, movimento que ajudaria a girar a roda da economia, explica a economista.
Sem renda não há consumo
O mesmo acontece com as famílias, que estão com a renda cada vez mais comprimida. “Ainda que a queda da Selic barateie o crédito, dificilmente teremos uma expansão de consumo, com o desemprego no nível que está”, afirma a economista. “Ninguém vai se endividar para consumir em um momento como esse”.
Esther reforça ainda que sequer se pode contar com o barateamento do crédito em consequência dos cores na Selic, já que essa é apenas a taxa básica da economia e um dos fatores que mais encarece o crédito são os spreads bancários.
A economista ressalta que a redução da Selic é sempre benéfica, mas o potencial de fazer o bem desse tipo de medida é cada vez menor, pois a taxa real de juros no Brasil continua muito alta. “Concretamente, o Brasil continua a ter uma das maiores taxas de juros do mundo. Então, é claro que esse corte de um ponto percentual na Selic não vai dar conta dos desafios atuais, quando a economia está em franca recessão”.
Aumento dos combustíveis
Outra medida recente do governo que desautoriza o otimismo é o aumento dos combustíveis. “Estávamos tendo algum ânimo na economia por conta do preço mais baixo da gasolina. O aumento dos combustíveis só vai reforçar o freio na economia”, alerta Esther.
O aumento de tributos que levou à majoração do preço dos combustíveis teve o objetivo de compensar a queda de arrecadação, uma situação que vem se aprofundando desde a eclosão da crise internacional de 2008. “Com a desaceleração econômica do período mais recente, a arrecadação caiu ainda mais. Já são três anos de queda real das receitas”, lembra a economista.
Novamente, o remendo não vai dar conta do desafio, já que queda na arrecadação se combate com estímulo ao crescimento da economia, com o aumento de um custo que será arcado principalmente por quem já não tem onde cortar, como os usuários do transporte público, em sua maioria integrantes dos setores mais pobres da população.