Regina Sousa: “Não sei como estão se sentindo as pessoas que apoiaram o impeachment da Dilma, porque esse governo está mostrando a preferência pelos ricos”O breve período que já dura o governo provisório de Michel Temer já permite perceber a grande diferença que é governar 24 horas por dia sendo espancado pela grande mídia, como acontecia com Dilma Rousseff, e passar todo o tempo sendo acariciado pela imprensa, tem ocorrido com o interno Temer, no poder há seis dias. “E isso apesar das trapalhadas que ele vem fazendo”, observou a senadora Regina Sousa (PT-PI), que em pronunciamento ao plenário nesta quarta-feira (18) fez uma análise dos atos da “junta provisória” nesta primeira semana em ação.
Entre as trapalhadas e equívocos de Temer e seus pares, Regina listou a extinção de ministérios simbólicos, como o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. “Era o ministério onde as minorias — que não são minorias, mas são chamadas assim — se enxergavam. Onde vão se enxergar agora?”.
Golpe e preconceito
Para quem acha irrelevante ter um ministério específico para formular políticas públicas voltadas para a superação do racismo e do machismo, Regina lembrou o episódio ocorrido com ela na noite de 11 de maio, durante a sessão de votação sobre a abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Na ocasião, a senadora foi alvo de um comentário racista e preconceituoso, do “comediante” Danilo Gentilli, do canal de TV SBT. “Quando eu subi à tribuna, ele disse: ‘Senadora? Pensei que era a tia do cafezinho”, rememorou.
Regina ressaltou que essa não é a primeira vez que o “humorista” se envolve em episódios deploráveis de preconceito. “Esse moço tem feito muitos comentários maldosos, principalmente em relação às mulheres. Ele expressa aí um racismo sem tamanho, porque, para ele, senadora tem que ter cara de senadora, eu não tenho cara de Senadora. Meu cabelo é pixaim. Para ele eu deveria alisar os cabelos, certamente”.
A senadora enfatizou que não se sentiu atingida negativamente por ser comparada à “Tia do Cafezinho”. “Eu teria muita honra de servir café, porque fui menina quebradeira de coco babaçu, lá no meu estado. Comecei minha vida assim e passei por tudo. Minha mãe é zeladora de escola. Não tenho por que me envergonhar das minhas origens. Se for preciso, eu servirei cafezinho”. Ela confirmou que vai processar o “humorista”. “Não é questão de indenização. Vou processá-lo em nome de todas as ‘Tias do Cafezinho’”.
Desmonte simbólico
Mesmo diante de tantos exemplos cotidianos da necessidade de políticas específicas para a superação das desigualdades e discriminações, o governo interino tratou de extinguir o ministério que tratava dessas questões, um desmonte de grande peso simbólico. “Onde vamos nos enxergar, agora?”, reiterou a senadora. “No Ministério da Justiça, com um ministro que, quando foi secretário de Segurança, era um xerife?”. Regina lembrou que o atual interino da Pasta, Alexandre Moraes, tratou muito mal os direitos humanos em São Paulo. “É lá que vamos nos enxergar, mulheres, negros, LGBTs, índios, pessoal de religião de matriz africana? Nós vamos buscar amparo nesse ministério?”
O desmonte promovido pela “junta provisória” também atingiu o Ministério da Cultura, extinto, reduzido a secretaria e convertido em alvo de chacota, na medida que se pretendeu usar a nomeação do novo chefe do órgão como panaceia para a péssima repercussão do ministério de homens brancos de Temer. “Cinco mulheres foram convidadas. As cinco recusaram porque se sentiram agredidas com a extinção do Ministério e com o tratamento à mulher, que fica relegada ao segundo escalão”, registrou a senadora.
Regina também criticou a gravidade do precedente aberto com a exoneração do presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), que, por lei, tem mandato fixo de quatro anos, exatamente para impedir que a comunicação pública fique à mercê dos humores dos governos.
“É mancada, é trapalhada por cima de trapalhada, mas a grande mídia está aplaudindo e não diz nada”, criticou a senadora.
Cenário sombrio
Regina manifestou grande preocupação com a extinção do Ministério da Previdência, incorporado ao da Fazenda, o que significa que o governo interino pretende enxergar a Previdência apenas do ponto de vista fiscal. “E o caráter solidário da Previdência vai ser discutido onde?”. Além disso, já se fala em acabar com o Samu, a Farmácia Popular e o programa Mais Médicos. Na última terça-feira, foi revogada a construção de 11 mil casas do Minha Casa, Minha Vida.
“Será que nós vamos voltar ao tempo da caridade, da cesta básica?”. Essa parece mesmo ser a direção que o governo interino pretende seguir, até pela ressurreição do “primeiro-damismo” que promove. “A primeira-dama que vai recolher donativos dos empresários bondosos para combater a pobreza”, lamentou Regina. “Qual é mesmo a novidade no governo interino?”
“Eu não sei como estão se sentindo as pessoas que apoiaram o impeachment da Dilma com o que está acontecendo, porque esse governo está mostrando a preferência pelos ricos”. Para quem se apresentava como a “salvação nacional”, esse governo começa muito mal, ressalta Regina. “Se continuar nesse ritmo, não sei se esse governo dura nem o prazo do processo de impeachment da Presidenta, os 180 dias em que esta Casa vai apreciar esse processo”.
Cyntia Campos