Regina Sousa mostra que pressa para afastar Dilma esconde o temor de Temer das novas delações

Regina Sousa mostra que pressa para afastar Dilma esconde o temor de Temer das novas delações

Regina Sousa: arautos da moralidade estão despencando um a umEm defesa da democracia, da Constituição e da presidenta legitimamente eleita pelas urnas, a senadora Regina Sousa (PT-PI) fez um discurso primoroso na sessão de pronúncia desta terça-feira (9). Pontuou as mentiras do governo interino e desnudou o que esconde a pressa para acelerar o processo de impeachment de Dilma: o medo de que novas delações contra Michel Temer.   

Regina Sousa mostrou que não basta o golpe parlamentar com cara de normalidade que a mídia e os sócios do presidente interino tentam fabricar. A brava senadora disse que acaba de sair mais uma gravação daquelas. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), primeiro demitido pelo interino, mas que dá as cartas no governo golpista, disse que Temer não precisa de mais senadores, porque já teria 60 favoráveis ao afastamento definitivo de Dilma. E afirmou: “o resto está querendo vir, mas vai ter que vir com humildade, pedir desculpa, ajoelhar no milho”. 

“Não creio que aqui exista senador ou senadora que esteja disposto a ajoelhar no milho para ficar ao lado de alguém capaz de trair com tanta desfaçatez”, emendou a senadora. 

Leia a íntegra do discurso da senadora Regina Sousa (PT-PI):

 

Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores parlamentares,

Brasileiros que acompanham a Sessão! 

Primeiro eu quero expressar o meu mais veemente repúdio ao cerceamento da liberdade de expressão que está sendo imposto nos espaços das Olimpíadas. Retirar, arrastar pessoas que portam um cartaz em folha de papel A4, ou vestem camisetas com a expressão “Fora Temer” é a mais pura tradução do Estado policialesco que neste país está sendo implantado. Vai mal um país cujo presidente não tem nome, nem rosto, que pede para não ser anunciado e que sua imagem não apareça no telão. Balbuciou quatro palavras e levou uma sonora vaia que a Globo conseguiu abafar com os aplausos de seis acompanhantes do interino. Ficou cara esta despesa. 

Eu não vou gastar meus 10 minutos discutindo o parecer do senador Anastasia, não há mais o que discutir, está provado que a Presidenta Dilma não cometeu crime. Esse parecer, esse voto, já estavam na cabeça do senador relator desde que ele foi escolhido para a função; seria o mesmo ontem, hoje, amanhã e depois de amanhã e depois e depois…! Não há um só brasileiro, entre os que acompanham esse processo, que não soubesse antecipadamente qual seria o voto de Anastasia, na admissibilidade e na pronúncia. 

Quando questionamos a escolha do relator, não era desconhecendo o direito do PSDB de indicá-lo, esperávamos sim, um gesto desse partido reconhecendo que não há em seus quadros no Senado, um só que, pelo menos, pareça imparcial aos olhos da população brasileira. Não é que defendêssemos um dos que apoiam Dilma como relator, também não seria razoável. Era preciso encontrar alguém como o senador Raimundo Lira, presidente da Comissão especial do Impeachment; dele, a gente pode até imaginar o voto, mas ele não o exibe em cada ato ou palavra; ele passa para a população a confiança na imparcialidade. 

Assista ao discurso da senadora Regina Sousa (PT-PI)A pergunta que a população brasileira vai fazer agora, é: “Qual é o crime da Presidenta Dilma? Onde está o dolo”? Muita gente ainda acha que ela está sofrendo esse processo por corrupção! E não é, meu povo brasileiro!

Daqui a pouco tempo, a pergunta que vai ser feita, é: “Qual foi a meta fiscal de 2015”? E as estatísticas não vão responder metas bimestrais, a resposta vai ser: “A meta fiscal de 2015 foi 119,9 bilhões de reais, aprovada em 2 de dezembro de 2015 por 314 deputados e 46 senadores. 

E vai se seguir outra pergunta: Dilma comprometeu a meta fiscal? E a resposta é uma só: NÃO. 

Senhores senadores, senhoras senadoras, seus filhos e filhas, netos e netas (mesmo que ainda não nascidos), vão lhes fazer essas perguntas. Pensem bem no que vão responder. Meninos e meninas estão mais antenados com os acontecimentos, conectados nas redes de informações. E a história não vai, como antes, registrar só a versão oficial. Alguns deles irão dizer: vô, vó, como você pode fazer isso? 

A acusação apegou-se a elementos muito frágeis para afastar a presidenta. Na verdade, já estavam determinados a impedi-la, basta ver a sequência de proposições e atos nesse sentido: 

1.        Recontagem de votos;

2.        Anular as eleições;

3.        Não diplomação;

4.        Auditoria nas urnas (só para presidente, o resto dos votos a urna não fraudou);

5.    Impugnação das contas eleitorais;

6.        Não aprovação do orçamento (a LOA de 2015 é de 20 de abril de 2015);

7.        Não aprovação de propostas enviadas ao Congresso Nacional e até devolução de Medidas Provisórias;

8.        Reuniões sistemáticas para traçar estratégias de impeachment. E o vice-presidente, lá. 

É claro que não podiam alegar outras coisas, por exemplo, corrupção. Eduardo Cunha não acataria, sendo ele o maior corrupto nessa história toda.

Manipularam os desavisados, que foram às ruas vestidos com a camisa amarela da insuspeita CBF, patrocinaram movimentos comandados por lideranças duvidosas, com cofres irrigados pelo dinheiro da FIESP e dos partidos padrinhos, liberaram catraca do metrô de São Paulo para engrossar o desfile da Avenida Paulista. Tudo para passar a ideia de espontaneidade e fingindo que estavam lutando contra a corrupção ao tempo em que carregavam faixas “somos todos Cunha”. 

Caíram na real quando alguns políticos patrocinadores do desfile se acharam no direito de ir desfilar na Paulista, com suas camisas da CBF. Foram literalmente enxotados, obrigados a entrar nos carros correndo, cercados de seguranças e bater em retirada. 

Os arautos da moralidade estão despencando um a um. Na Câmara, o último a desmoronar foi o deputado pastor, Marcos Feliciano, aquele que defendia a castração química para estupradores. 

Aqui se cogita antecipar o julgamento da presidenta, a pretexto de Temer ir à reunião dos BRICS na China, já como presidente efetivo. Não é nada disso, é medo das delações que começaram a vazar, principalmente da Odebrecht, envolvendo o próprio Michel Temer e dois dos seus mais poderosos ministros, Serra e Padilha. Uma vez efetivo, não sofreria investigação. Mas, o procurador Carlos Fernando Lima já deu a senha, a delação da Odebrecht “não vem ao caso”, “só tem espaço para uma única delação” e vai ser a da OAS, é claro.

É na delação da OAS que estão as esperanças do juiz Sérgio Moro, que só a homologará se incriminar o ex-presidente Lula. 

Outra razão para antecipar o julgamento é para tentar salvar Cunha, também por medo de que ele abra a boca. Não sendo julgado antes da presidenta Dilma, Cunha tem chance de não ser julgado mais este semestre. Rodrigo Maia já deu a senha, “pode não ter quórum qualificado”, em função das eleições municipais e da disposição do Centrão em boicotar o julgamento. Tudo combinado. A pressa aqui também está presente na desistência dos oradores acusadores. Será uma nova delação que se aproxima? 

A arrogância está dominando o governo interino. Uma gravação do senador Romero Jucá, não sei se em entrevista ou telefonema, afirma que Temer não precisa de mais senadores, já tem 60. “O resto está querendo vir, mas vai ter que vir com humildade, pedir desculpa, ajoelhar no milho”. Não creio que aqui exista senador ou senadora que esteja disposto a ajoelhar no milho para ficar ao lado de alguém capaz de trair com tanta desfaçatez. No dia 16 de março de 2016, Temer disse essa pérola: “o impeachment é impensável, geraria uma crise institucional, não tem base jurídica e nem política”, – à noite ele tramava o afastamento da presidenta. E trama é golpe. 

O que está se consolidando aqui é uma grande injustiça, percebida pelo mundo inteiro. Muitos países estão se posicionando sobre a ilegitimidade do processo. Um julgamento com base nas contas de 2015, que sequer tem parecer do TCU, apenas opiniões e portanto, sem julgamento do Congresso, a quem cabe aprovar ou rejeitar as contas. 

Não há nenhuma comprovação de que os atos “foram praticados de má-fé com a intenção de obter proveito ilícito próprio”. 

Aqui se diz que o processo está longo demais. Ora, a lei dá 180 dias e ainda não se passaram 90 dias. 

Repito: a pressa é para Temer escapar das delações, que ele sabia que iam começar. Por isso, as reuniões com senadores e estranhamente um churrasco com um ministro do STF, além da forcinha da mídia partidária, que condena antecipadamente os partidários de Dilma, mas se cala quando a denúncia diz respeito ao grupo que usurpou o mandato da presidenta. Lá, naquele palácio e nos ministérios estão futuros réus, parece que foram chamados para ganhar imunidade. Pesquisei o currículo de vários ministros e encontrei ficha corrida. Outros juízes vão surgir e não serão Moro e sua seletividade. E cada um e cada uma desse governo há de ser investigado. Como diz a música: “tua hora vai chegar”. 

Portanto, senhor presidente, senhoras senadoras e senhores senadores, aqui se concretiza uma VINGANÇA: negados 3 votos do PT a Eduardo Cunha, ele acatou a denúncia contra a presidenta Dilma Roussef, numa “chantagem explícita”, como disse um advogado acusador, subscritor da denúncia.

Dilma está sendo torturada mais uma vez. Agora, por uma maioria política que se juntou para conspirar. Gente que se locupletou no governo até a véspera do dia 17 de abril. Hoje, ministros, ex-ministros e senadores fazem discurso contra ela como se não tivessem sido partícipes do seu governo. 

Para terminar, senhor presidente, quero citar uma frase atribuída a Salvador Allende: “não basta que todos sejam iguais perante a lei, é necessário que a lei seja igual perante todos”.

A lei não está sendo igual para Dilma, por isso o meu voto é NÃO!

Viva a Democracia!

 

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