Alguns jornais desta quinta-feira (11), especialmente um do Rio de Janeiro, fazem uma verdadeira ginástica para mostrar que a inflação voltou a subir em março, puxada pela alta de preços dos alimentos “in natura” e, reverberando as recomendações de alguns analistas de instituições financeiras, de que o Banco Central deverá aumentar os juros na semana que vem para alegria dos rentistas e da oposição ao governo da presidenta Dilma.
A oposição embarcou no discurso tentando mostrar que a inflação pode fugir do controle e isso significaria um relaxamento do governo no combate à alta dos preços, afirmando que a desoneração da cesta básica não surtiu efeitos. Mas a estratégia do discurso poderá cair por terra na semana que vem, caso o Banco Central, responsável direto por estabelecer as taxas de juros – hoje em 7,25% – decida manter o patamar atual. Nenhum candidato a presidente até agora foi mais direto do que Aécio Neves que defendeu a alta dos juros, afinando seu discurso aos rentistas.
Na pressão para que o BC aumente a taxa de juros, os investidores e muitos especuladores tentaram nos últimos dias interpretar cada palavra dita seja pela presidenta Dilma, seja pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, seja pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Dilma reafirmou que seu governo não será leniente no combate à inflação; Mantega disse que o governo está pronto para agir e Tombini, por sua vez, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, disse que a inflação de março seria importante para as próximas decisões da política monetária.
Juntando essas declarações, a especulação correu solta no mercado futuro de juros nos últimos dias. O efeito manada resultou na elevação das expectativas do juro futuro. Acontece, porém, que a inflação de março do IPCA ficou em 0,47%, abaixo do percentual de 0,60% de fevereiro e distante da projeção dos banqueiros, que previam uma inflação acima de 0,50%. Com o índice de março, a inflação calculada em doze meses ficou em 6,59%, acima 0,9% da meta.
Na prática, a leitura do mercado é que o BC, por causa da inflação, irá elevar os juros para garantir mais ganhos. Se o BC eventualmente subir o juro em 0,25%, os rentistas ganharão alguns bilhões. Se for mantido o patamar de juros, continuarão torcendo para que os preços continuem em alta.
É uma aposta arriscada. Até mesmo os especialistas ouvidos pelos jornais de hoje destacam que os preços do tomate, da cebola, do alho, da batata inglesa subiram muito por causa ou do excesso de chuva ou por falta dela. No caso da batata inglesa, por exemplo, o jornal O Globo diz que os preços subiram 97% em doze meses. Mas no mercado atacadista de São Paulo, o jornal Valor Econômico mostra que os preços da saca de 50 quilos variam de R$
O feijão carioca, que segundo o jornal O Globo subiu 26,47% no ano e 9,08% apenas em março, é negociado no mercado atacadista de São Paulo a R$ 4,99 o quilo na cotação mais baixa até R$ 6,39 na mais alta, com uma diferença de preços de 28%. Diante desses exemplos e pelas declarações do presidente do BC e do ministro da Fazenda, o governo não está descuidando do acompanhamento da inflação e até os jornais reconhecem que, retirando os alimentos “in natura” da composição da inflação, o índice de março teria sido de 0,25%. Outro detalhe é que o peso dos serviços na composição da inflação também diminuiu e os reajustes salariais – acima da inflação – também forçaram o índice mas cujo efeito será diluído nos próximos meses. E, se haverá um alívio, logo o BC poderá manter os juros no patamar atual.
O que o BC também acompanha sobre a inflação é que as vendas no varejo estão subindo, puxadas principalmente pelos supermercados, o que confere outro indicador: as pessoas estão comprando mais alimentos porque seus salários estão subindo. Portanto, a pressão de parte da mídia que ecoa o desejo de juros mais altos dos rentistas deve prevalecer até a semana que vem, mas, olhando friamente para os preços, para o comportamento especulativo, a inflação tende a cair, como disseram analistas à revista Carta Capital.
Marcello Antunes