A violência contra os grupos sociais mais vulneráveis e o clima de ódio – inclusive o que atinge aos ex-presidentes Lula e Dilma – foram condenados por representantes de igrejas cristãs no Brasil. O tema foi debatido durante sessão no Senado sobre a Campanha da Fraternidade (CF) 2018, nesta segunda-feira (7).
A CF é realizada anualmente pela Igreja Católica no país, sendo coordenada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Neste ano, o tema é a superação da violência em todas as suas formas.
“A violência pode ser motivada por questões de gênero, etnia, orientação sexual, crença religiosa, diferenças políticas, domínio de territórios por facções do crime organizado, mas ela está sempre relacionada às desigualdades do ponto de vista social e à cultura do ódio e da intolerância”, afirmou a presidenta da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado, Fátima Bezerra (PT-RN), durante a sessão.
“Há ainda a violência contra a mulher, contra os negros, contra as religiões, principalmente de matriz africana, contra a população LGBT e contra os povos indígenas”, acrescentou a presidenta da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Regina Sousa (PT-PI).
A afirmação das parlamentares foi legitimada pelas autoridades ligadas às igrejas cristãs que participaram do debate. Para o secretário-geral da CNBB, Dom José Aparecido Gonçalves, a vida e a dignidade das pessoas e de grupos sociais mais vulneráveis têm sido continuamente violadas. “O assunto é urgente. Não pode ser descuidado nem deixado para depois. Requer a atenção, o compromisso e a participação de todos”.
O coordenador-executivo das Campanhas da Fraternidade, Luís Fernando da Silva, cobrou que superar as várias faces da violência é uma tarefa de todos. “Exige o compromisso de cada cristão e cristã, no enfrentamento das múltiplas formas de ofensa à dignidade humana que se naturalizam escandalosamente em nossa sociedade”, disse.
Violência contra a esquerda
Os ataques contra lideranças progressistas também foram lembrados. A secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), pastora Romi Márcia, lembrou os ataques direcionados à presidenta eleita, Dilma Rousseff, e ao ex-presidente Lula, além dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do seu motorista, Anderson Gomes.
“Independentemente de se concordar com o mandato que ela [Dilma] fez ou não, mas a execração pública que ela recebeu enquanto mulher, enquanto ser humano, é um fato realmente vexatório do qual todos e todas deveríamos nos envergonhar”, afirmou a postora Romi.
“Eu lembro da prisão também do presidente Lula, e outra vez eu digo, independentemente de se concordar ou não com ele, que o fato de uma pessoa que está presa ser limitada a receber visitas, inclusive do seu médico, é um atentado aos direitos humanos”, acrescentou.
Prisão política
Parlamentares presentes à sessão solene destacaram que a prisão do ex-presidente Lula também é uma forma de violência. Como “colocar um presidente na cadeia sem sequer respeitar os prazos” previstos no processo do caso triplex, tema lembrado pelo senador Paulo Paim (PT-RS).
Para a senadora Fátima Bezerra, a “prisão política de Lula também é uma violência contra a democracia e contra a esperança do povo brasileiro”.
Já a senadora Regina Sousa deu o nome à perseguição judicial ao ex-presidente de violência estatal, que investiga, julga, condena e prende – tudo por convicção.
“É só olhar os processos que estão rolando aí da Lava Jato, uma boa parte deles é assim, como o do presidente Lula, por exemplo: por convicção. É um novo ordenamento jurídico que está se instalando neste País. Que se escreva na Constituição, senão, nós vamos ter uma Constituição de Curitiba”, criticou.